A
Secretaria de Saúde de Campinas apresentou ontem,
quarta-feira, 28 de junho, durante o “I Simpósio
Municipal e Regional sobre Influenza, Pandemia de
Influenza: expectativas e ações” os preparativos do
município para enfrentamento de uma Pandemia de Gripe. A
estratégia segue orientação da Organização Mundial de
Saúde (OMS), do Ministério da Saúde e da Secretaria de
Estado da Saúde que lançaram seus planos de contingência
com indicação de que as secretarias municipais também se
organizem para enfrentar o problema.
O simpósio
foi aberto pelo Secretário Municipal de Saúde, José
Francisco Kerr Saraiva, que ressaltou a importância da
parceria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
Direção Regional de Saúde (Dir XII) e da colaboração das
Secretarias Estaduais de Saúde e de Agricultura e da
Universidade de Ribeirão Preto e da Universidade Federal
de São Paulo no evento. “É importante que estejamos
reunidos com este objetivo e para a disseminação das
informações”, disse.
Entre as
principais ações da estratégia de Campinas para o
enfrentamento da Pandemia de Gripe destaca-se neste
momento o fortalecimento da vigilância epidemiológica
para o monitoramento da doença, organização da
assistência e informação e capacitação das equipes de
vigilância para detectar, investigar e desencadear
medidas de controle.
Outra
medida importante é a formação do Comitê Municipal e
grupo de profissionais para o acionamento imediato caso
necessário. “O objetivo é articular a vigilância em
saúde e a rede de assistência pública e privada no
município, propor capacitações e formas e conteúdos de
disseminação da informação para profissionais de saúde e
população em geral”, afirma a enfermeira sanitarista
Brigina Kemp, coordenadora da Vigilância Epidemiológica
da Secretaria Municipal de Saúde e uma das organizadoras
do simpósio.
Segundo
Brigina, para elaborar a estratégia de enfrentamento da
pandemia, a Secretaria tem tomado como referência as
orientações da OMS, do Ministério da Saúde e da
Secretaria de Estado da Saúde, as discussões acumuladas
até o momento no âmbito da Secretaria Municipal de
Saúde, a bibliografia disponível sobre a situação
mundial da influenza e a consulta aos planos de
contingência do Ministério e da Secretaria de Estado.
O
simpósio também expôs
informações que foram
acumuladas pelos estudos de acompanhamento da situação
epidemiológica da gripe no mundo e com relação à
possibilidade desses vírus se tornar pandêmico. “Por
razões históricas e com a disseminação de um novo vírus,
o risco de uma pandemia é muito alto”, disse o médico
Carlos Magno Fortaleza, coordenador de Controle de
Doenças da Secretaria de Estado da Saúde. Fortaleza foi
um dos palestrantes do simpósio e ressaltou que é
importante que a população saiba que as autoridades
estão mobilizadas para enfrentar uma pandemia.
Influenza.
O simpósio contou ainda com a participação do
virologista Eurico de
Arruda Neto, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto,
que fez uma palestra sobre vírus respiratórios.
Ele
explicou que a influenza, também conhecida como
gripe,
é uma infecção do sistema respiratório que tem como
principais complicações as pneumonias, responsáveis por
um grande número de internações hospitalares no País. A
doença inicia-se com febre alta, em geral acima de 38ºC,
seguida de dor muscular, dor de garganta, dor de cabeça
e tosse seca.
A febre é
o sintoma mais importante e dura em torno de três dias.
Os sintomas respiratórios como a tosse e outros,
tornam-se mais evidentes com a progressão da doença e
mantêm-se em geral por três a quatro dias após o
desaparecimento da febre.
Segundo
Eurico, a influenza é uma doença muito comum em todo o
mundo, sendo possível uma pessoa adquirir influenza
várias vezes ao longo de sua vida. É também
freqüentemente confundida com outras viroses
respiratórias, por isso o seu diagnóstico só é feito
mediante exame laboratorial específico.
Eurico explicou também
que gripe é diferente de resfriado. O
resfriado
geralmente é mais brando que a gripe e pode durar de 2 a
4 dias. Apresenta sintomas relacionados ao
comprometimento das vias aéreas superiores, como
congestão nasal, secreção nasal (rinorréia), tosse e
rouquidão. A febre é menos comum e, quando presente, é
de baixa intensidade. Outros sintomas também podem estar
presentes, como mal-estar, dores musculares (mialgia) e
dor de cabeça (cefaléia). Assim como na influenza, no
esfriado comum também podem ocorrer complicações como
otites, sinusites, bronquites e até mesmo quadros mais
graves, dependendo do agente etiológico que está
provocando a infecção.
Gravidade. O infectologista Luiz Jacintho da Silva,
do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, também
participou do evento como palestrante e falou sobre as
pandemias de influenza e o contexto atual. Segundo Luiz
Jacintho, as pandemias de influenza já causaram graves
danos durante toda história.
“No último
século ocorreram pelo menos três grandes pandemias que
em poucas semanas causaram grande impacto na morbidade e
mortalidade, afetando principalmente crianças e adultos
jovens e provocando situações de ruptura social”,
informou. Ele afirmou que nenhuma outra doença causa
tantos óbitos num espaço de tempo tão curto.
O
infectologista informou também sobre a importância
epidemiológica da gripe sazonal, disse que morre mais
gente no mundo de gripe que de Aids e ressaltou que a
vacina para a gripe sazonal reduz muito o risco da
influenza no nosso meio. “É preciso ficar claro que,
esta vacina, no entanto, não protege contra a gripe
aviária”, disse.
A vacina à qual o infectologista se referiu é a que vem
sendo disponibilizada na rede pública de saúde em todo
Brasil, desde 1999, e em Campinas desde 1998, durante
campanhas anuais de vacinação para os idosos com idade
de 60 anos ou mais, geralmente no mês de abril.
A composição da vacina
varia a cada ano, de acordo com
os tipos de vírus da influenza.
Em relação
à vacina para prevenir a gripe aviária, foi esclarecido
pelas autoridades sanitárias presentes no simpósio que
só será possível produzir uma vacina contra uma pandemia
de influenza quando efetivamente surgir uma nova cepa do
vírus que tenha capacidade de transmissão pessoa a
pessoa.
No
entanto, o Ministério da Saúde vem aumentando os
investimentos no Instituto Butantã/SP - que já vinha
sendo preparado para a produção nacional de vacinas
contra as cepas epidêmicas anuais de influenza - para
que também seja possível a produção emergencial de
vacinas contra uma cepa pandêmica. Os ensaios de
produção desta nova vacina já começaram a ser feitos,
utilizando-se como modelo a atual cepa H5N1.
Pandemia. O
termo pandemia
significa uma epidemia em grandes proporções – tanto em
número de pessoas envolvidas, quanto em área geográfica
- que atinge diversos paises geralmente de forma
simultânea, decorrente da existência de um grande número
de pessoas susceptíveis à infecção por um novo vírus da
doença.
Para a eclosão de uma pandemia é necessário,
basicamente, o surgimento de uma nova cepa (tipo) do
vírus influenza com capacidade para provocar doença no
homem e que esta cepa tenha facilidade de ser
transmitida por contágio inter-humano direto ou seja, de
pessoa-a-pessoa.
Todos os
palestrantes do simpósio foram unânimes ao afirmar que o
vírus da influenza aviária H5N1 representa a ameaça de
uma nova pandemia, uma vez que está circulando entre
aves em 13 países e em quatro deles tem provocado casos
entre seres humanos. Há um risco que este vírus H5N1
possa sofrer uma mutação ou seja, alterações das suas
características genéticas atuais e adquirir condições de
ser transmitido diretamente entre os seres humanos,
iniciando-se assim uma nova pandemia.
Segundo as
autoridades sanitárias, não é possível prever exatamente
se e quando
isto vai ocorrer, mas é possível que ocorra. Neste
caso, todos os países serão afetados – incluindo o
Brasil e Campinas -, em maior ou menor intensidade,
dependendo do tipo de mutação que ocorra no vírus e da
capacidade de resposta rápida das autoridades de saúde
pública a nível mundial.
“Por isso,
é fundamental que estejamos preparados para o
enfrentamento de uma situação emergencial como esta,
caso ela venha a ocorrer. Pode ser que seja difícil para
o profissional de saúde se preparar para algo que parece
distante. No entanto, a preparação para o enfrentamento
deste agravo e a construção do plano de contingência
trazem ganhos secundários, ganhos também em relação à
influenza sazonal, à imunização, à estrutura da rede,
permite rever fluxos e isto soma conhecimentos que
ajudam em qualquer outra emergência epidemiológica”,
finalizou Brigina Kemp.
Denize
Assis