Saúde realiza encontro nesta quarta-feira para conscientizar sobre maus tratos contra o idoso

14/06/2011

Autor: Marco Aurélio Capitão

Nesta quarta-feira, 15 de junho, na Praça Rui Barbosa, centro da cidade, das 8h às 12h, Campinas celebra pelo segundo ano consecutivo o Dia de Combate aos Maus-Tratos Contra o Idoso. Durante toda a manhã estão previstas no local apresentações de coral, danças e atividades ligadas às Práticas Integrativas. Também haverá distribuição de folhetos que destacam os principais tipos de violência a que são submetidos os idosos. O evento deste ano dará ênfase para os cuidados a serem tomados no trânsito.

A manifestação na praça vai contar com a participação do Conselho Municipal do Idoso de Campinas (CMI), Disque Denúncia, secretarias de Saúde, Transportes, Assistência Social, Emdec, além de ONGs parceiras que atuam nos cuidados da pessoa idosa. “A proposta é aproveitar esse dia para conscientizar e orientar a população sobre esta forma de violência, que continua sendo um importante problema de saúde pública”, informa Valéria Barbosa, presidente do CMI.

Valéria destaca que dados colhidos nas instituições de cuidados e nas delegacias de proteção à pessoa idosa indicam que em 34% das ocorrências o familiar é o maior agressor de um idoso dependente. Ela pontua que os tipos de violência contra idosos mais comuns notificados em Campinas são em 92% dos casos de ordem física e em 20% de âmbito psicológico.

Hoje, conforme esclarece a presidente do CMI, os casos de violência doméstica, sexual, auto-provocadas e outras violências cometidas contra pessoas idosas são obrigatoriamente registrados pelo Sistema de Notificação de Violências (Sisnov), implantado em 2008 em Campinas. O Sisnov é um sistema de notificação eletrônica que registra as violências sexual e doméstica contra adolescentes, crianças e idosos ocorridas na cidade.

O sistema funciona de modo que uma rede formada pelos serviços municipais informa às secretarias estaduais de saúde que, por sua vez, notificam o Ministério da Saúde sobre os casos. Os dados revelam os casos graves, que chegam aos hospitais de urgência e as lesões leves e moderadas. No entanto, conforme pondera Valéria Barbosa, ainda há outros casos que não chegam ao pronto atendimento, o que amplia esse problema de saúde pública.

Acerca dos dados colhidos pelo CMI, ocoordenador da área de Saúde Básica da Secretaria Municipal de Saúde, Roberto Mardem, avalia que a agressão psicológica, mesmo numa taxa menor de apenas 20% das ocorrências, “muitas vezes são as mais cruéis, pois podem trazer sequelas irreversíveis. Por isso o profissional de saúde também precisa estar atento para o diagnóstico a esses riscos que levam ao sofrimento emocional”.

No entender de Roberto Mardem, a atenção básica, nessa questão tem um múltiplo papel que passa pelos cuidados, prevenção e promoção da saúde do idoso. “É uma questão que precisa ser discutida com a população, todos precisam estar cientes de quais são os maus tratos e como eles podem ser evitados. Além disso - e aí envolve comunidade, família e o profissional de saúde – é preciso que se crie condições e um máximo de autonomia para que eles, idosos, caminhem com as próprias pernas. Nesse ponto a atenção básica, que é a porta de entrada do SUS, tem um papel fundamental”.

Pauta da saúde

A médica Marta Silva, do Programa de Prevenção de Violências do Ministério da Saúde, em visita a Campinas para a divulgação do último boletim do Sisnov, disse que o tema violência passou a fazer parte da pauta da saúde, uma vez que as mortes violentas constituem-se numa grande epidemia nacional, com impacto grande na mortalidade, morbidade e significativos gastos para o Sistema Público de Saúde. Segundo ela, o Brasil gasta 5% do seu PIB com a violência, sem contar o custo da vida, que não se mede. “Este tema entrou para a saúde porque trata de mortes previníveis, evitáveis e a Saúde tem que atuar para além da prevenção”, disse Marta.

Marta acredita que a população precisa ter consciência e o poder público tomar o tema como prioridade. De acordo com a médica, toda sociedade “tem que agir, fazer sua parte, mudando comportamento, hábitos, difundindo cultura de paz, onde a gente tenha mais respeito em relação ao próximo, mais solidariedade, mais tolerância em relação às diferenças”.

Na ocasião, o secretário municipal de Saúde de Campinas, José Francisco Kerr Saraiva, reforçou o posicionamento de Marta Silva e reiterou que a questão da violência é uma prioridade para a Saúde em Campinas que tem de assumir uma atuação para além de atender as vítimas. Saraiva destacou a importância dos cuidados com a população idosa que, hoje, chega a aproximadamente 13% em Campinas.

“Campinas vem reduzindo a mortalidade por violências, em especial por homicídios. No entanto, temos ainda muitos desafios, muitos deles ligados diretamente a população idosa. Por isso – asseverou o secretário - essa discussão tem de passar pela saúde e, ainda, ser tratada de forma intersetorial, de modo que envolva todos os que colaboram na busca por uma sociedade de paz, pela melhoria da qualidade de vida da população”.

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