O filme do diretor Pedro Almodóvar "Tudo
Sobre Minha Mãe", com entrada gratuita, marca a
programação do ciclo Cinema Mostra Aids, realizada até
quarta-feira, dia 11 de outubro no Museu da Imagem e do
Som (MIS) de Campinas, localizado no Palácio dos
Azulejos, à rua Regente Feijó, número 859, no Centro.
A produção franco-espanhola de 1999, com
105 minutos começa em e m Madri, onde Manuela (Cecilia
Roth) perde o filho precocemente e parte para Barcelona
a fim de encontrar o pai do garoto vinte anos depois,
agora uma travesti chamada Lola.
A sua viagem é também um rito de passagem
para um novo e desconhecido mundo, do qual faz parte,
por exemplo, Irmã Rosa (Penélope Cruz), uma freira
grávida e que vive com vírus HIV.
Bem ao seu estilo irreverente e com uma
carga melodramática peculiar, o cineasta Pedro Almodóvar
confronta o espectador com o tema, Aids, sem fazer da
síndrome um foco de especial atenção em seu cinema.
Evento inédito em Campinas
Cinema Mostra Aids é uma realização da
organização não-governamental Grupo Pela Vidda/SP em
parceria com o Programa Municipal de DST/Aids da
Secretaria de Saúde da Prefeitura de Campinas, e o
Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo que acontece
desde segunda-feira, dia 2 de outubro.
As parcerias construídas entre
instituições públicas e sociedade civil organizada
permitem a exibição de filmes em um local alternativo –
a sala de projeção do MIS, no Palácio dos Azulejos, um
espaço público e que integra o patrimônio
histórico-cultural de Campinas –, em condições de
acessibilidade à população, já que está localizado no
Centro de Campinas e todas as sessões têm entrada
gratuita.
Cultura para falar sobre Aids
A idéia da Mostra é usar um evento de
apelo cultural para falar sobre Aids. Assim, um vasto
painel sobre questões da epidemia é traçado a partir da
seleção de filmes que trazem a infecção pelo HIV como
tema central ou pano de fundo. Em alguns dos títulos, a
Aids é o tema central do filme, em outros aparece na
trama ou na vida de personagens.
Ao longo de mais de duas décadas da
epidemia, são muitos os autores e diretores de cinema
que transformaram a AIDS em fonte de inspiração. Além de
retratarem a realidade da epidemia pelo HIV/AIDS no
mundo, provocaram diversas reações: polêmica, comoção,
medo, conscientização, ironia, indignação, nas platéias
de diferentes partes do mundo.
Os títulos desta primeira edição do
Cinema Mostra Aids Campinas, trazem
perplexidades e respostas do cinema frente à Aids, e
também alertam para a necessidade da prevenção e da
eliminação do preconceito, além de testemunharem parte
da realidade das pessoas que vivem com HIV/Aids.
Apoiadores
Coordenada por Adriano Brandão, membro do
Grupo Pela Vidda/SP, a Mostra conta com o apoio de
jornalistas especializados em cinema, distribuidoras de
filmes, tradutores e colaboradores voluntários do Grupo
Pela Vidda/SP, parceiros do Programa Municipal de DST/Aids
de Campinas e trabalhadores do Museu da Imagem e do Som
(MIS) de Campinas, que cedeu gentilmente sua sala de
projeções e pessoal de apoio para a realização da
Mostra.
Mostra reúne várias gerações
Nem o calor da tarde de quinta-feira
desanimou os 25 adolescentes que juntaram-se aos outros
freqüentadores do MIS para ver o filme "Filadélfia".
"Achei legal mostrar isso assim, nunca tinha assistido
este filme", disse o estudante Wagner de Oliveira, que
participa do projeto Jovem Convivência, desenvolvido
pela ONG Centro de Educação e Assessoria Popular (Cedap),
entidade parceria do Programa Municipal de DST/Aids de
Campinas.
"Agora a gente vai para o Cedap fazer uma
discussão e quero vir para ver outros filmes porque na
Mostra é interessante que são mostrados diferentes
pontos de vista sobre a Aids", afirma a psicóloga
Carolina Zaparoli, uma das coordenadoras do Cedap.
A profissional de saúde Maria Luiza, que
trabalha na Direção Regional de Saúde (DIR) 12, que viu
o filme "Borboletas da Vida", exibido na abertura da
Mostra, disse sentir falta de mais eventos culturais com
foco sobre o preconceito e a necessidade de prevenção ao
HIV e à Aids.
"Considero que essas informações sobre o
comportamento das pessoas, sobre as condições sociais a
que são submetidas e que podem torná-las mais ou menos
frágeis, não só ao HIV e à Aids, mas a diversas outras
coisas, precisam ser mais inseridas na cultura da
população", disse. O filme "Borboletas da Vida" mostra
parte da realidade de jovens homossexuais e travestis na
periferia do Rio de Janeiro.
A aposentada Aparecida Rodrigues
Apolinário, depois de ver o mesmo filme, disse que
estava emocionada. "É a primeira vez que eu venho ao
cinema", afirmou. Ela foi à Mostra com sua professora e
colegas de uma turma de Educação para Jovens e Adultos (EJA).
"É muito bom que a realidade das pessoas seja mostrada
assim, no cinema", opinou.
Todos os filmes que serão exibidos:
Dia 06/10 (sexta-feira)
15h -
TUDO SOBRE MINHA MÃE
Dia 09/10 (Segunda-feira)
15h –
WA N´WINA
19h – TRAINSPOTTING: SEM LIMITES
Dia 10/10 (terça-feira)
19h – ANTES DO ANOITECER
Dia 11/10 (Quarta-feira)
15h – HOUSE OF LOVE
O OUTRO LADO DA AIDS
19h - A FAMÍLIA DE FELIX
TUDO SOBRE MINHA MÃE
(Todo sobre Mi Madre)
Espanha/França, 1999, 105min
Direção: Pedro Almodóvar
Em Madri, Manuela (Cecilia Roth) perde o
filho precocemente e parte para Barcelona a fim de
encontrar o pai do garoto vinte anos depois, agora um
travesti chamado Lola. A sua viagem é também um rito de
passagem para um novo e desconhecido mundo, do qual faz
parte, por exemplo, Irmã Rosa (Penélope Cruz), uma
freira grávida e portadora do vírus HIV. Bem ao seu
estilo irreverente e com uma carga melodramática
peculiar, o cineasta espanhol Pedro Almodóvar confronta
o espectador com o tema da aids sem fazer da doença um
foco de especial atenção em seu cinema. É a personagem,
digamos, complexa da religiosa que dará a Manuela uma
esperança de reiniciar sua vida e à história um sentido
de renascimento.
WA N'WINA
(Wan'wina)
África do Sul, 2001, 52min
Diretor: Dumisani Phakathi
O jovem diretor sul-africano retorna a
seu bairro natal, em Soweto, para colher depoimentos de
amigos de infância. O objetivo: saber como a Aids afetou
o cotidiano deles. As conversas giram em torno de
relacionamentos, tradições, tabus, amor e sexo. Entre os
colegas estão Phumla e Timothy, que expõem suas emoções
ao relatar a dureza das ruas e as escolhas que foram
forçados a fazer. Com a câmera no ombro e incisivo nas
perguntas, Phakathi faz um mergulho em suas raízes para
revelar o abismo existente entre a realidade e as
campanhas de prevenção contra a doença em seu país.
TRAINSPOTTING: SEM LIMITES
(Trainspotting)
Inglaterra, 1996, 94 min
Direção: Dany Boyle
Inspirado no best-seller de Irvine Welsh,
o diretor Danny Boyle realizou mais um polêmico retrato
da juventude sem rumo. Sem enaltecer nem condenar o
comportamento dos protagonistas, focaliza um bando de
escoceses viciados em heroína. Essa comédia barra pesada
caiu nas graças da imprensa inglesa, recebeu aplausos no
Festival de Cannes e obteve sucesso de público. Por
outro lado, em nome da moral e dos bons costumes, houve
tentativas de proibi-la em diversos países. O narrador
Mark (Ewan McGregor), e seus colegas Spud (Ewen Bremner),
Sick Boy (Johnny Lee Miller), Begbie (Robert Carlyle) e
Tommy (McKidd) levam a vida "vendo o trem passar", como
sugere a gíria britânica do título. Ou seja, não estão
nem aí para trabalho, escola ou família. Na Edimburgo
dos dias de hoje, eles vivem a beira de perigos como a
overdose ou a aids. Mas no desfecho, nem todos se dão
mal.
ANTES DO ANOITECER
(Before Night Falls)
EUA, 2000, 125 min
Diretor: Julian Schnabel
O foco desse drama biográfico é antes de
tudo o amor e a rebeldia --- na política, no sexo, na
vida--- que a Aids consome num epílogo melancólico. O
herói desregrado em questão é o escritor cubano Reinaldo
Arenas (1943-1990), jovem homossexual de origem pobre
que divide seu tempo entre os prazeres idílicos da ilha,
a literatura, os parceiros e a boa disposição para o
engajamento político. Chega a se unir aos
revolucionários para levar Fidel Castro ao poder. Mas
quando este chega lá, mostra pouca ou nenhuma simpatia
por algumas categorias, gays e artistas incluídos.
Arenas pena sete anos na prisão e por fim migra para
Nova York, onde adoece e morre. O diretor Julian
Schnabel, para usar uma expressão apropriada a sua face
de pintor, por vezes carrega nas tintas. Mas o
realizador conta com uma interpretação forte e cativante
de Javier Bardem, como Arenas, especialmente na passagem
da prisão, quando também Johnny Depp marca presença no
papel do travesti Bon Bon.
HOUSE OF LOVE
(House of Love)
EUA/Namíbia, 2001, 26min
Direção: Cecil Moller
O curta-metragem integra a série
documental de 33 títulos Steps for the Future, uma
espécie de mapeamento da Aids no sul da África, hoje a
região com maior incidência de soropositivos no mundo.
Outro título do pacote, Wa 'N Wina, filmado na África do
Sul, está previsto na seleção do ciclo Cinema Mostra
Aids. No caso, o cenário é o pequeno porto Walvis Bay,
na Namíbia, e as personagens as prostitutas locais. Elas
dependem das rápidas visitas dos marinheiros para
sobreviver e contam ao diretor Cecil Moller os motivos
que as levaram ao trabalho. Falam ainda de amor, sexo,
pecado e uma noção muito pessoal de redenção, enquanto o
fantasma da Aids ronda seu cotidiano.
O OUTRO LADO DA AIDS
(The Other Side of Aids)
EUA, 2004, 87 min
Diretor: Robin Scovill
A premissa deste documentário é no mínimo
controversa e fez alarde nos festivais em que foi
exibido. O diretor Robin Scovill explora a teoria de que
o vírus HIV não é o agente causador da Aids. Como
argumento inicial, ele traz o exemplo da mulher
Christine Maggiore, soropositiva que se mantém saudável
desde 1992 sem tomar medicamentos. Cita, inclusive, que
os dois filhos do casal, amamentados pela mãe, também
não foram medicados e mantêm-se imunes à doença. A fita,
então, busca depoimentos semelhantes de mais dez adultos
infectados, alguns sob efeito dos coquetéis, outros não.
Comparecem também casos de crianças que tornaram-se alvo
de disputas de pais soropositivos e a Justiça, o que
envolve a polêmica se elas devem ser tratadas
antecipadamente ou não. São ouvidos ainda especialistas,
médicos e políticos responsáveis pelas ações
governamentais. Até a banda Foo Fighters, responsável
pela trilha sonora, tem sua vez como promotora de
informações alternativas sobre a Aids.
A FAMÍLIA DE FELIX
(Drôle de Félix )
França, 2000, 95min
Direção: Olivier Ducastel e Jacques
Martineau
Outro exemplo, assim como Dias, de
um olhar renovado sobre a Aids. Aqui, a doença deixa de
ser o fator dramático impulsionador da trama, embora
conte nas atribuições dadas ao protagonista. O jovem
Félix (Sami Bouajila), filho de imigrantes árabes na
França, integra a geração de soropositivos que sobrevive
com a ajuda dos coquetéis. Depois de perder o emprego,
ele abandona o namorado e parte numa viagem pelo
interior do país atrás do pai que nunca conheceu. No
caminho, diverte-se, encontra novos parceiros e
personagens que coincidem com seu desejo de
reestruturação familiar.
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