Uma parceria entre o
Centro de Saúde (CS) do DIC III, da Prefeitura Municipal
de Campinas, e a Faculdade de Ciências Médicas da
Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) está mudando
os indicadores epidemiológicos da região do CS, além de
ter rendido aos alunos estagiários que participaram do
projeto o Prêmio Lopes de Faria do Congresso Médico
Acadêmico da Unicamp (Comau), edição 2005.
Tudo começou em maio
de 2006, quando o CS passou por uma reestruturação e a
nova coordenadora, Rosana Garcia, começou a estudar os
diagnósticos epidemiológicos da população local.
Rosana constatou que
uma das áreas mais problemáticas era a de acesso aos
exames preventivos de câncer de colo de útero e de mamas
tendo, inclusive, ocorrido dois óbitos relacionados.
Para reverter o
quadro, a coordenação do CS desenvolveu frentes de ação
com o Distrito de Saúde Sudoeste e os trabalhadores
locais, além de solicitar uma parceria com a Faculdade
de Ciências Médicas da Unicamp, que aceitou a proposta.
A partir daí, um
grupo de oito alunos do 5° ano de medicina, sob
coordenação do professor Sérgio Resende Carvalho, passou
a estudar e esclarecer os aspectos envolvidos na
evolução histórica de um caso de câncer de colo uterino
que levou ao óbito uma mulher de 58 anos.
A proposta
metodológica escolhida foi o "Evento Sentinela de Um
Óbito", que busca saber as causas evitáveis e não
evitáveis do caso. O grupo criou planilhas, fez
entrevistas com os profissionais de saúde e também com
os familiares, organizando uma verdadeira "radiografia"
do caso.
"Nós, como gestores
de saúde, temos que entender porque os casos evoluíram
desta forma, uma vez que o câncer de colo de útero é uma
doença facilmente prevenível", disse Rosana.
A conclusão a que o
grupo chegou, no entanto, é a de que a morte foi causada
por um diagnóstico tardio, uma vez que a paciente teria
sido encaminhada por outra cidade.
Interação
No decorrer do
projeto, os estagiários desenvolveram uma reflexão com
os trabalhadores do CS abordando o acesso das usuárias,
técnicas de coleta do exame de Papanicolau, qualidade
das amostras, perfil epidemiológico das mulheres com
alterações, assim como a composição do acolhimento na
área, que acabou revertendo em um trabalho de educação
permanente e sensibilização junto aos profissionais da
Saúde.
Hoje, com a
reorganização do acolhimento específico, o CS ampliou a
coleta de Papanicolau e incluiu a temática no Núcleo de
Saúde Coletiva da unidade, resultando numa maior
vigilância das citologias oncóticas alteradas.
No trabalho estão
reunidos auxiliares de enfermagem, enfermeiros e
ginecologistas da unidade, respaldados pela equipe de
Residência de Medicina Preventiva da Unicamp.
"Esta reciclagem tem
contribuído para a educação permanente dos trabalhadores
no CS e o prêmio muito honrou e serviu de motivador para
a nossa equipe ", explicou Rosana.
Na opinião da
coordenadora, o impacto da parceria pode ser notado por
várias perspectivas: "Tanto o gestor local potencializa
seus recursos no sentido de melhorar a qualidade da
assistência e atenção à saúde quando faz a encomenda de
situações-problema aos alunos, como participa da
formação um profissional de saúde que saiba lidar com
situações concretas dentro do Sistema Único de Saúde
(SUS)", afirma Rosana.
Além disso, completa
ela, "nossos trabalhadores estão se sentindo valorizados
e a motivação é um fator importante para se chegar a um
resultado satisfatório. Posso dizer que, hoje, nossa
equipe tem um outro olhar para os casos relacionados à
saúde da mulher".
Equipes
A temática câncer de
mama e de colo uterino já foi abordada por três equipes
de estagiários, a partir de maio do ano passado. Em
novembro deste ano, uma nova equipe chega ao CS para dar
continuidade aos trabalhos. Outros temas relacionados à
realidade local também são trabalhados pelas equipes de
estagiários que contam com oito alunos a cada dois
meses.
CS DIC III
O CS DIC III pertence ao
Distrito de Saúde Sudoeste de Campinas e, em 2005, era
referência para uma população de aproximadamente 35 mil
habitantes sendo que, destes, 95% são totalmente
dependentes do SUS. A inauguração, em março deste ano,
do CS Santo Antônio reduziu o atendimento para cerca de
24 mil pessoas, o que também contribuiu para a melhoria
da assistência de um modo geral.
Cláudia Xavier