Oficina de dengue reúne mais de 150 pessoas

26/11/2009

Autor: Denize Assis e Laura Gonçalves

Equipes discutiram o papel da atenção básica no controle da doença e as propostas para aprimorar o programa em Campinas

A Secretaria Municipal de Saúde mobilizou mais de 150 pessoas, no Hotel Nacional In, na última terça-feira, dia 24 de novembro, no 1° dia da “Oficina de avaliação do Programa Municipal do Controle da Dengue em Campinas”. Na sexta-feira, dia 27, será promovida a segunda etapa de discussões.

O encontro, organizado pela Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), reuniu profissionais das Vigilâncias em Saúde (Visas), equipes do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), coordenadores distritais e dos Centros de Saúde, além de outros representantes das unidades básicas de saúde e do Centro de Educação dos Trabalhadores da Saúde (CETS).

A oficina teve três eixos temáticos: assistência e vigilância epidemiológica; educação em saúde; e trabalho de campo. “Foi uma ampla troca de experiências e a primeira grande avaliação depois da reformulação no programa ocorrida após a epidemia de 2007, quando foram registrados mais de 11 mil casos. Também foi um momento de reforçar algumas prioridades e manter a rede preparada para o período de maior risco para a doença e comprometida com o objetivo de reduzir os eventuais casos graves e evitar mortes”, disse a médica veterinária Andréa Von Zuben, coordenadora municipal do Programa de Dengue.

Durante o evento, também foi realizada a premiação das experiências exitosas no combate à doença, na qual 20 trabalhos foram apresentados e cinco deles premiados.

CS Nova América. Uma das experiências vencedoras foi a ‘SOS: O córrego pede socorro”, realizada pelo Centro de Saúde (CS) Nova América, na região sul de Campinas. De acordo com a agente comunitária Solange Andrade Ribeiro, o trabalho com a comunidade no combate a dengue sempre foi positivo. No entanto, a sujeira do córrego persistia e trazia diversos problemas para a saúde dos moradores.

A equipe do CS decidiu, então, reunir-se com a comunidade, poder público e setor privado para realizar a limpeza do local, que acabava sendo um foco para a proliferação do mosquito da dengue e de outros vetores e agravos. “A paixão pelo que fazemos e o trabalho em equipe foram dois itens importantes para o nosso sucesso”, enfatizou a agente.

Com a união de todos, os moradores assumiram a limpeza do córrego, uma empresa cedeu equipamentos e maquinários e a Prefeitura também ajudou com materiais e limpeza. “No dia do mutirão ainda promovemos uma carreata, realizamos brincadeiras, apresentações e atividades educativas. Às vezes a solução está bem próxima e o segredo é a união de forças que resultou na limpeza da área”, falou Solange.

CS Paranapanema. Outra experiência vencedora foi desenvolvida no Centro Cultural Louis Braile pela equipe do CS Paranapanema, também região sul. “Em um trabalho de campo, encontramos larvas no local e conversamos com os responsáveis para a realização de um trabalho com os funcionários e usuários”, explicou o agente Luiz Carlos Montealto.

Segundo ele, a proposta tratava-se de um grande desafio, já que era necessário criar maneiras dos deficientes visuais conhecerem as fases do mosquito. “Para isso, usamos diversos materiais, como meia de seda, papel cartão, serragem, capim, cola em alto relevo, maquetes e cartazes para reproduzir o ovo, a larva, a pupa e o mosquito adulto”, disse Luiz.

Todos puderam aprender sobre as etapas de vida do inseto, além de participarem de palestras sobre os cuidados a serem tomados para evitar a dengue. “Houve participação efetiva da equipe e foi uma grande satisfação realizar este trabalho”, resumiu.

Visa Leste. Dois trabalhos da Vigilância em Saúde Leste também foram premiados: Capacitação da Rede e Treinamento de Laboratórios e Centrais de Controle de Infecção Hospitalar em Vigilância Epidemiológica de Dengue.

O trabalho consistiu em convocar os responsáveis técnicos dos serviços para capacitação com objetivo de melhorar as informações, o monitoramento dos pacientes e a comunicação dos serviços com as Visas. Foram atingidos no trabalho 10 unidades básicas de saúde, 1 Pronto Atendimento e oito hospitais e laboratórios.

Com a ação, a Visa conseguiu a melhora na qualidade das informações; o aumento das notificações e, desta forma, a qualificação das ações de campo, que passaram a ser realizadas de forma oportuna; e a comunicação mais ágil e eficiente com outros serviços de saúde.

“Esta ação só foi possível com a interação com a Vigilância Epidemiológica e a equipe de controle de dengue”, disse Tessa Roesler, supervisora geral de dengue da Visa Leste.

Visa Norte. A Vigilância em Saúde Norte foi premiada com a experiência ‘Uso de ovitrampas no monitoramento do Aedes aegypti no Distrito de Saúde Norte’.

Segundo o biólogo Ovando Provatti, da Visa Norte, no inverno o índice larvário é pouco sensível porque não chove. Portanto, era necessário criar um indicador entomológico que permitisse a priorização de áreas indicando onde as ações de controle deveriam ser realizadas, já que os meses de estiagem – que inclui o inverno – é que constituem o período em que é possível desenvolver um trabalhado mais qualificado para eliminar criadouros.

Por isso, foi criada a ovitrampa, uma armadilha para ovos montada a partir um mecanismo simples: uma caneca, com água e larvicida – para evitar proliferação de larvas - e uma palheta onde a fêmea põe os ovos. Ao reter os ovos, ela indica que no local próximo à armadilha tem fêmeas do Aedes aegypti pondo ovos.

Segundo Ovando, para a criação deste mecanismo foram considerados alguns pontos, entre os quais o fato da fêmea do Aedes aegypti botar ovos tanto no inverno quanto no verão. Também foi levado em conta que trata-se de material de baixo custo, de simples instalação e fácil de ser trabalhado. E o mais importante, não depende de treinamento.

Em 4 meses – de julho a outubro porque a idéia é monitorar o período seco -, foram instaladas 219 ovitrampas em vários pontos a região norte, sendo uma por quarteirão. Se o quarteirão tivesse imóveis especiais ou pontos de risco esse era o local escolhido para instalação.

Neste período, foram coletados 16 mil ovos. Quando a ovitrampa era positiva, os quarteirões eram trabalhados com controle ‘pente fino’ - remoção e inviabilização de criadouros, telamento de caixas d´água, aplicação de larvicida, pesquisa larvária e orientação ao morador.

“O trabalho mostrou que houve uma concordância entre a positividade da ovitrampa e a presença de focos de criadouro com larva – em alguma casa naquele quarteirão era encontrado criadouro com mosquito. Também resultou na retirada de muitos ovos do ambiente e mostrou que o laboratório do Centro de Controle de Zoonoses dá conta de fazer a leitura de forma organizada e com agilidade para toda cidade”, disse Ovando.

Segundo o biólogo, com a experiência foi possível concluir que a ovitrampa é um instrumento de vigilância entomológica de baixo custo, sensível, de fácil operacionalização na rotina e passível de reprodutividade.

“Agora, pretendemos avançar na experiência, com trabalho em escolas, pensando inclusive que na instituição de ensino pode ser realizada uma ação interativa, com a ovitrampa sendo um atrativo – um argumento - para professores, alunos e funcionários se mobilizarem e atuarem contra a dengue. Outro passo é trabalhar com as ovitrampas para avaliar efeitos da nebulização, instalando-as antes e após para avaliar a efetividade”, disse Ovando.

Casos. Campinas registrou, em 2009, 189 casos autóctones de dengue. Em 2008, foram 259. Neste momento, não estão sendo registrados casos da doença no município.

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