Entrevista

A Secretaria de Saúde de Campinas encerrou, em 10 de novembro, as comemorações da Semana Mundial do Aleitamento Materno. No entanto, as ações desencadeadas na ocasião prosseguem e as atividades que já vinham sendo desenvolvidas pelo município ganharam novo alento. A Secretaria lançou o Agente de saúde amigo da amamentação e o vídeo Um banco especial, sobre o Centro de Lactação - Banco de Leite Humano Municipal de Campinas.

A pediatra Cláudia Maria Monteiro Sampaio, que é coordenadora do Centro de Lactação - Banco de Leite Humano Municipal de Campinas, foi uma das responsáveis pela organização da Semana do Aleitamento Materno no município. Na entrevista a seguir, Cláudia defende que o tema é de muita importância nos programas de combate a fome e ressalta que crianças que recebem o leite materno adoecem menos e desenvolvem melhor o lado emocional e a intelectualidade.

Qual a importância do aleitamento no combate a fome?

Cláudia – É fundamental, já que desta forma se combate a fome com a nutrição mais adequada, com o melhor alimento que o bebê pode receber. Muitas mães carentes deixam de amamentar seus bebês por acreditarem, equivocadamente, que o leite do peito é fraco. A mulher teria que estar extremamente desnutrida para deixar de amamentar seu bebê.

Que vantagem tem uma criança que mama no peito?

Cláudia – O bebê amamentado tem proteção contra as doenças infecciosas, incluindo as diarréias, doenças respiratórias, otites além de ter menos riscos de distúrbios alimentares. E, se o bebê adoece menos, corre menos risco de morrer. A amamentação também propicia desenvolvimento adequado da parte odontológica e da fala e o desenvolvimento psicológico se dá melhor. Também há estudos que demostram que crianças amamentadas apresentam melhor desempenho nos testes de inteligência.

A mulher que amamenta também tem algum benefício?

Cláudia – O risco desta mãe sofrer uma hemorragia é menor, já que o ato de sugar do bebê faz com que o útero se contraia mais rápido. Daí a importância do primeiro contato mãe e filho acontecer minutos após o nascimento. A recuperação pós parto e a perda de peso também são mais rápidas. Estudos sugerem ainda que existe relação entre a amamentação e a menor incidência de câncer de útero e de ovário e, nas mães que amamentam por períodos prolongados, o estudo aponta menor incidência de câncer de mama. Além disso, o lado emocional também fica favorecido porque se o bebê está bem, está saudável, a mãe e toda família estão bem. Um outro aspecto contemplado é o econômico. Pesquisa aponta que, numa família que sobrevive com um salário mínimo, 30% da renda fica comprometida para comprar fórmulas infantis (leite de vaca em pó modificado). Neste valor não estão computados gastos com apetrechos utilizados na alimentação artificial.

Que papel desempenha o Banco de Leite Humano de Campinas com relação a amamentação no município?

Cláudia – É responsável por estimular a amamentação nos diversos setores da comunidade. A ação é desencadeada com a população em geral, com esclarecimentos das pessoas por meio de material educativo, palestras e também daquelas que procuram diretamente o Banco de Leite. Também há sensibilização e divulgação com representantes da comunidade e profissionais de saúde. Neste ponto, é necessário destacar o papel fundamental do serviço na capacitação destes cidadãos. O Banco de Leite está inserido no processo de treinamento das equipes do Paidéia – Saúde da Família e dos agente comunitários de saúde. Na verdade, o Banco de Leite é um pólo de estímulo e apoio ao aleitamento. É responsável pela coleta, armazenamento e distribuição de leite humano. Existe desde 93 e é uma parceria da Prefeitura com a Maternidade de Campinas. Em 10 anos de existência já atendeu a 25 mil cidadãs, coletou 5 mil litros de leite e é apontado como um dos principais responsáveis pela queda da mortalidade de bebês prematuros na Maternidade de Campinas.

E os Centros de Saúde, qual o papel deles?

Cláudia – Os 46 Centros de Saúde de Campinas desempenham função importantíssima. As gestantes são captadas para o pré-natal e acompanhadas nos Centros de Saúde onde os profissionais identificam as dúvidas, estimulam o aleitamento e, se necessário, encaminham estas mulheres para o Banco de Leite. O agente de saúde também tem papel extremamente importante porque é um dos primeiros profissionais a ter contato com a mulher, na casa dela, percebendo suas dificuldades e com oportunidade de identificar e encaminhar aos Centros de Saúde os casos das mães que, sem a orientação, optariam pelo desmame.

Amamentar é responsabilidade só da mãe?

Cláudia – Não. A mãe precisa da ajuda da família, quer seja do companheiro, da avó ou de quem estiver mais perto neste momento. É preciso que os familiares apoiem a mãe neste período de amamentação no sentido de dividir as atividades domésticas bem como as relacionadas ao bebê e que sejam evitadas situações de ciúme, em especial por parte do companheiro. E a responsabilização pelo sucesso da amamentação precisa se dar em todos os níveis, incluindo a comunidade, os serviços de saúde, os empregadores. Todos precisam estimular como cidadãos, indiferentemente da sua área de atuação, quer seja permitindo períodos para que a mãe tenha possibilidade de amamentar ou incentivando, orientando, apoiando e esclarecendo dúvidas da mulher nesta fase. Afinal, amamentar é importante para o futuro da saúde do Brasil.