Tendências
da Mortalidade por Distritos de Saúde
Completada
uma década de monitoramento da mortalidade do Município de
Campinas, parece oportuno sintetizar a tendência das taxas de
mortalidade, pelos principais grupos de causa básica de óbito,
considerando a divisão do município nas cinco regiões
administrativas. Durante toda a década foi possível acompanhar
o padrão da mortalidade por área de abrangência das unidades
básicas dos serviços de saúde. Com este boletim, os gestores
da saúde e a população em geral poderão avaliar a tendência
da mortalidade em um distrito da cidade confrontando-a com a
ocorrida em outros. Parte da desigualdade social em saúde do
município é revelada pelas desigualdades da mortalidade entre
os distritos.
A
figura 1 com a distribuição percentual das principais causas
de óbito, representa uma primeira aproximação aos
diferenciais entre distritos.
Destaca-se
o distrito leste que apresenta os mais elevados percentuais de
mortalidade por doenças do aparelho circulatório e por
neoplasias e o menor por causas externas. A região
sudoeste contrasta com este perfil apresentando o maior
percentual de óbitos por causas externas do município,
atingindo 25%. Neste distrito 1 em cada 4 óbitos é provocado
por violência.
Todos
os distritos tiveram sucesso na redução da mortalidade
infantil (figura 2). O distrito leste persistiu nos dois
períodos com a menor taxa. Os maiores declínios foram
observados nos distritos norte e sudoeste. O distrito sudoeste
se destacou pelo declínio nas mortes pós-neonatais e o norte
na mortes neonatais. A menor redução foi observada na região
sul, na mortalidade pós-neonatal. O distrito sudoeste que
apresentava os coeficientes mais elevados em 1994-95 teve este
posto assumido pelo distrito sul no período 1996-2000.
Quanto
às doenças do aparelho cardiovascular, verifica-se que houve
uma tendência de manutenção das taxas das mortes por infarto
do miocárdio, tende o distrito leste apresentado declínio e o
noroeste um pequeno aumento (figura
3). Cresceu entre os
quinquênios o risco de morte por doenças cerebrovasculares com
exceção do distrito leste (figura
4). Parte do aumento
verificado nas áreas poderia ser decorrente de melhoria do
diagnóstico da causa da morte. Esta causa de morte é
influenciada pela qualidade da atenção médica destinada a
pacientes hipertensos e com outras patologias cardiovasculares.
As
taxas de mortalidade por diabetes, que são maiores nas mulheres
que nos homens, apresentaram tendência de aumento,
observando-se declínio apenas no sexo feminino, nas regiões
leste e sul (figura 5). As maiores diferenças de taxas entre os
dois quinquênios foram vistas nas mortes por homicídio (figura
6). Estas taxas que são 10 vezes superiores nos homens,
comparadas às taxas das mulheres, aumentaram 435% no distrito
norte e 227% no leste, entre os homens. As maiores taxas de
homicídios são observadas nos distritos noroeste e sudoeste.
O
sucesso que vem sendo obtido no Brasil no tratamento da Aids se
expressa claramente no declínio das taxas de mortalidade do
sexo masculino em todos os distritos. O menor declínio no sexo
masculino foi observado no distrito noroeste (figura
7). Nas
mulheres as taxas de mortalidade por Aids cresceram nos
distritos leste e noroeste.
A
mortalidade por câncer de pulmão apresentou aumento em ambos
os sexos apenas no distrito norte que era o que exibia menores
taxas no primeiro quinquênio (figura
8). A tendência de
redução é mais acentuada entre os homens que entre as
mulheres, relacionando-se às tendências do tabagismo.
Considerando
os importantes cânceres femininos, que dispõem de programas e
procedimentos para detecção precoce, observa-se aumento quase
generalizado de câncer de mama (exceção do distrito leste) e
redução do câncer de colo de útero com exceção do distrito
noroeste (figura 9). As moradoras da área coberta pelo distrito
leste apresentaram as maiores taxas de morte por câncer de mama
e menores por câncer de colo de útero. Neste distrito residem
os segmentos da população de melhor nível socioeconômico,
nos quais estão mais presentes os fatores causais do câncer de
colo de útero. O câncer de próstata apresenta declínio nos
distritos leste e noroeste (figura
10). O distrito leste era o
que apresentava a maior taxa no primeiro quinquênio.
As
doenças cardiovasculares, as neoplasias e as causas externas
significam hoje mais de 60% de mortes dos residentes nas áreas
de cada distrito de saúde do município. Este padrão de óbito
demanda intervenções de promoção à saúde, com o estímulo
e favorecimento a condições e estilos de vida mais saudáveis
e avanço na qualidade da assistência médico-terapêutica aos
doentes para reduzir a mortalidade.
Muitas
dessas mortes são evitáveis. Como exemplo 90% dos óbitos por
câncer de pulmão e 40% dos óbitos por infarto do miocárdio
poderiam se evitados com o controle do tabagismo. As mortes por
doenças cerebrovasculares podem ser reduzidas com adequado
tratamento dos hipertensos e controle da prevalência do hábito
de fumar. E o câncer de colo de útero poderia mediante
aplicação efetiva dos programas de detecção e controle ser
reduzida em 60% o que equivaleria a atingir o nível das taxas
observadas nos países mais desenvolvidos. O crescimento
vertiginoso das taxas de homicídio chamam a atenção para a
necessidade de políticas intersetoriais que poderiam ser
efetivas também na redução de outras causas de morte precoce.