Homicídios
O
impressionante aumento da mortalidade por violência
observado em Campinas, numa escalada que incluiu o
assassinato do prefeito do município, em 10 de setembro de
2001 coloca a necessidade de se voltar à questão da violência,
trazendo uma visão mais atualizada das tendências e do
padrão epidemiológio da mortalidade por homicídios.
É
este o objetivo deste boletim no.31 do projeto de
monitoramento da mortalidade de Campinas.
Se na década
de 80 os homicídios chegaram a ter as taxas duplicadas,
entre 1980 e 1984, situação que se reverteu entre 1984 e
1988, é nos anos 90 que o crescimento vertiginoso se
apresenta sendo que em 1994 as taxas já eram o triplo das
vistas em 1980, e em 1998 o quíntuplo. O aumento esteve
sustado entre 1995 e 97 (figura 1). Se 20 homens em cada
grupo de 100.000 sofriam mortes por homicídio no ano de
1980, esta taxa atinge patamares de 110 por 100.000 em
1999-2001. O aumento também é importante no sexo feminino
mas em patamares muito mais baixos, como fica evidente na
figura 1.
Estas taxas globais, que se referem a todas as
idades em conjunto, não revelam, entretanto, a grande
diferença de riscos que se manifesta nos diversos grupos de
idade. Na figura 2 pode-se observar que as taxas atingem os
valores máximos nos jovens de 15 a 24 anos de idade. Estas
taxas são aproximadamente o dobro das observadas na faixa
de 35 a 44 anos e 10 vezes a observada nas pessoas com 55
anos ou mais. De fato a tendência secular mostra
crescimentos mais expressivos, nos homens jovens (figura 3).
A importância
diferenciada conforme a idade, se evidencia também nos
percentuais de óbitos por homicídios (figura 4). Nas
idades de 15 a 24 anos 26% do total das mortes ocorridas
eram provocadas por homicídios em 1990, sendo que esse
percentual atinge 46% em 2000.
Acima dos 55 anos o
percentual de óbitos que é constituído por homicídios é
bastante reduzido. Verifica-se também que a maioria das
mortes por homicídio foi provocada por arma de fogo, sendo
que os outros meios tornaram-se ainda menos importantes em
2000 quando comparado a 1990.
Fig 01
- COEFICIENTES DE MORTALIDADE POR HOMICÍDIOS,
SEGUNDO
SEXO. CAMPINAS, 1980 A 2001.
Ób/100.000 hab.
Fontes: Banco de
Dados de Óbitos de Campinas, 1997 a 2001.
Fundação Nacional de Saúde (CD - MS 1980 - 1996).
Fig 02 - HOMICÍDIO
SEGUNDO SEXO E FAIXA
ETÁRIA.
CAMPINAS 96 -
98 E 99 - 01.
Sexo
Masculino
Ób/100.000
hab.
Sexo
Feminino
Fonte: Banco de Óbitos
de Campinas
Fig.
03 - COEFICIENTES DE MORTALIDADE POR HOMICÍDIOS,
EM HOMENS SEGUNDO FAIXA ETÁRIA. CAMPINAS
1980
A 2001 (média móvel trienal).
Fontes: Fundação
Nacional de Saúde (CD - MS 1980 - 1996).
Banco de Óbitos de Campinas (1997-2001)
Analisando-se a
distribuição dos óbitos segundo a cor da pessoa falecida,
verificou-se maior concentração de pardos e pretos nas
mortes por homicídio, representando 41% das vítimas (figura
5) enquanto que nas demais causas de óbito este grupo
populacional constituiu 18% dos óbitos. Observou-se que as
mortes por homicídios ocorrem na via pública em 55% dos
casos, enquanto que este percentual é de 2% quando
considerados os óbitos pelas
demais causas
(figura 06). Verificou-se
também
que entre
os óbitos ocorridos em via
pública houve maior proporção de traumatismos de cabeça e
tórax (fig 7). Estes dados apontam para a intencionalidade
letal da ação violenta.
Fig 04
- PROPORÇÃO DE MORTES POR HOMICÍDIOS
E DISTRIBUIÇÃO SEGUNDO MEIO UTILIZADO (ARMA DE
FOGO E DEMAIS), SEGUNDO SEXO E FAIXA ETÁRIA.
CAMPINAS 1990 E
2000.
SEXO
MASCULINO
1990
(139 óbitos)
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2000
(497 óbitos)
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SEXO
FEMININO
1990
(13 óbitos)
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2000
(41 óbitos)
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Fonte:
Banco
de Óbitos de Campinas
As elevadas
taxas de homicídios de Campinas, assemelham-se às
observadas em algumas regiões metropolitanas brasileiras
mas são até mais de 100 vezes superiores às observadas em
países como Japão
e França (tabela 1).
Quanto à
distribuição dos homicídios segundo o local de residência
do falecido
observa-se que
as maiores
taxas são
verificadas nos distritos noroeste, sudoeste e sul.
As taxas tenderam a crescer em praticamente todos os
distritos entre 1996-98 e 99-2001. As menores taxas são
observadas no distrito leste (figura 8 ).Uma visão mais
detalhada das áreas de residência, aponta que em algumas
delas a proporção de mortes por homicídio atinge mais de
30% considerando a população inteira da área (homens e
mulheres e todas as faixas etárias). Em outras áreas a
proporção das mortes por homicídios não atinge 5%,
revelando um padrão de mortalidade completamente distinto
conforme a área em que a pessoa reside (figura 9).
O risco de
mortalidade por homicídio no sexo masculino atinge valor
superior a 100 por 100000 habitantes em algumas áreas de
abrangência
de unidades básicas de serviços de saúde,
como no Jardim São Marcos, Santa Mônica, Florence, S
Domingos, Floresta, São José, e inferiores a 20
em outras como Centro, J. Aurélia, Taquaral
e Barão Geraldo (mapa).
Fig 05
PROPORÇÃO DE ÓBITOS POR HOMICÍDIOS E POR TODAS
AS CAUSAS EXCLUÍDOS OS HOMICÍDIOS, SEGUNDO COR. CAMPINAS 2000-2001.
Fonte: Banco
de Óbitos de Campinas
Fig 06
- PROPORÇÃO DE ÓBITOS POR HOMICÍDIOS E POR TODAS
AS CAUSAS EXCLUÍDOS OS HOMICÍDIOS, SEGUNDO LOCAL DE ÓBITO. CAMPINAS 2000-2001.
.
Fonte: Banco
de Óbitos de Campinas
Fig 07
- HOMICÍDIOS SEGUNDO TOPOGRAFIA DA LESÃO E LOCAL
DE ÓBITO. CAMPINAS 2001.
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Fonte:
Banco de Óbitos de Campinas
Foram excluídos 106 diag por complicação precoce de
óbito em Via Pública e 114 em hospital.
Fonte: Wld
Health St. An.(97-99); Datasus;
Banco de Óbitos de Campinas
* Ób/100.000
hab.
Fig 08
- HOMICÍDIOS SEGUNDO SEXO E DISTRITOS DE SAÚDE.
CAMPINAS 1996-1998 E 1999-2001.
Sexo
Masculino
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Feminino
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Fonte:
Banco de Óbitos de Campinas.
Considera-se
que o monitoramento dos locais de ocorrência dos homicídios
pode significar uma nova etapa no processo de ampliar o
conhecimento sobre as circunstâncias dos eventos
contribuindo com novas estratégias para o trabalho de redução
das taxas de mortalidade por violência do município de
Campinas.
Fig 09
- MORTALIDADE PROPORCIONAL POR HOMICÍDIOS E
CAUSAS EXTERNAS,
SEGUNDO ÁREA DE ABRANGÊNCIA DOS
SERVIÇOS DE
SAÚDE. CAMPINAS, 1999- 2001
Fonte: Banco
de Dados de Óbitos de Campinas.
Excluídas as áreas com
menos de 100 óbitos
totais
no período de 3 anos (Vl 31 de Março, J. Egídio, Itatinga,
C. de Moura
Município
de Campinas
Área de abrangência dos Centros de Saúde
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NÚMERO DE ÓBITOS
SEGUNDO ÁREA DE ABRANGÊNCIA
CAMPINAS,
2001.
01 - Jd
Conceição (172)
02 - Vl Rica (106)
03 - Vl Orosimbo Maia (117)
04 - Vl Costa e Silva (157)
05 - Vl Perseu (70)
06 - Jd Sta Mônica (45)
07 - Integração (174
08 - União de Bairros (66)
09 - Jd Esmeraldina (49
10 - Jd Sta Lúcia (140)
11 - Pq Figueira (89)
12 - Pq São
Quirino (138)
13 - Jd Aeroporto (100)
14 - Vl Boa Vista (93)
15 - Tancredo Neves (72) |
16 - Jd São José (159)
17 - São Vicente (69)
18 - Jd Vista Alegre (106)
19 - Pq Valença (121)
20 - Jd Capivari (100)
21 - Vl 13 de Março (18)
22 - Jd. Florence (128)
23 - DIC I (77)
24 - DIC III (107)
25 - Jd Eulina (146)
26 - Faria Lima (399)
27 - Jd Aurélia (282)
28 - Jd Sta Odila (103)
29 - Taquaral (247)
30 - Barão Geraldo (119) |
31 - Vl
Pe Anchieta (144)
32 - Sousas (82)
33 - Joaquim Egídio (14)
34 - Jd Campos Elíseos (115)
35 - Jd Ipaussurama (53)
36 - Jd São Marcos (111)
37 - Jd São Cristóvão (83)
38 - Centro (515)
39 - Vl Ipê (123)
40 - Jd Paranapanema (173)
41 - Itatinga (08)
42 - Pq Floresta (64)
43 - Jd São Domingos (135)
44 - Sta Bárbara (62)
47 - Carvalho de Moura (20)
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Obs.: ( ) nº de óbitos; 3 óbitos com área desconhecida
FONTE: BANCO DE
DADOS DE ÓBITOS DE CAMPINAS
Equipe
Responsável por este Boletim:
DS/SMS/PMC
Dra. Solange Mattos Almeida
Dra. Maria Cristina Restitutti
Tânia Gonçalves Marques |
LAPE/DMPS/UNICAMP
Prof. Dra. Marilisa
Berti A. Barros
Dra. Letícia Marín L.
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Maiores
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