Mortalidade em Campinas Informe
do Projeto de Monitorização
Secretaria Municipal de Saúde - Prefeitura Municipal de Campinas |
Mortalidade e gênero
O maior risco de mortalidade dos homens tornou-se evidente quando medidas de prevenção e controle das doenças infecciosas e de cuidados médicos específicos provocaram intenso declínio das mortes das mulheres durante o período de gravidez e parto. É amplamente reconhecida a maior exposição dos homens a trabalhos insalubres, que exigem maior uso de força física e com maior risco de acidentes. Também o estilo de vida masculino que é caracterizado pelo uso mais intenso de tabaco, de álcool e de outras drogas e pela maior tendência a experimentar situações de violência constituem outro fator responsável pelas elevadas taxas de morte nos homens. O objetivo deste boletim é analisar as diferenças da mortalidade entre os sexos e monitorar a tendência dessas disparidades.
O impacto da mortalidade expressa-se no perfil das pirâmides demográficas. Verifica-se que nas idades mais avançadas a população de homens é significativamente menor que a feminina (figura 1). Enquanto que no primeiro ano de vida existem 103 meninos para 100 meninas, na faixa de 35 a 39 anos esse valor declina para 92,5 e atinge 69,7 aos 70 anos de idade. Na população de 80 anos ou mais, existem apenas 55 homens para cada conjunto de 100 mulheres. Na população masculina de Campinas 8,5% tem 60 anos ou mais, enquanto na feminina 10,7% encontram-se nessa faixa de idade. A proporção de homens idosos difere conforme o distrito de saúde da cidade, sendo maior no distrito Leste (12,0%) e menor no Sudoeste (5,1%). No distrito Leste, 15,5% da população feminina tem 60 anos ou mais.
A alta taxa de mortalidade dos homens reduz fortemente a esperança de vida ao nascer. Em 2005, os homens apresentaram esperança de vida ao nascer de 71,1 anos, ou seja, 7,3 anos menor que a das mulheres, como visto no Boletim 40. Observando a distribuição dos óbitos masculinos segundo a idade verifica-se que 25,1% ocorre antes dos 50 anos e 42,1% após os 70 anos, sendo que esses valores para as mulheres são respectivamente 14,9% e 61,1%.
Nas décadas de 80 e 90, a taxa de mortalidade dos homens manteve-se estável e a das mulheres apresentou lento, mas progressivo declínio (figura 2) de forma que o risco de morte de homens que era 1,7 vezes superior ao das mulheres, em 1980, aumentou para 1,9 em 2000 (figura 3).
Assim, nesse período, aumentou a desigualdade de mortalidade entre os sexos. A partir de 2000, as taxas dos homens declinaram com mais intensidade do que a das mulheres de modo que a desigualdade entre os sexos diminuiu, embora ainda sem atingir o patamar de 1980 (figura 3). Em 2007, o risco de óbito dos homens foi 80% superior ao das mulheres.
O declínio das taxas de homens e mulheres entre 1990 e 2007, em vários grupos de idade, pode ser apreciado na figura 4 que também mostra o crescimento intenso do risco de mortalidade que ocorre com o aumento da idade. Mesmo com o declínio, as taxas dos homens em 2007 ainda são bem superiores às das mulheres em 1990.
Observa-se, na figura 5, que o aumento das diferenças entre os sexos verificado nas décadas de 80 e 90, ocorreu com mais intensidade na faixa de 15 a 29 anos. Em 2000-2002, homens de 15 a 29 anos tiveram uma taxa de mortalidade 6 vezes superior às das mulheres.
As diferenças entre os sexos quanto ao perfil de causas de morte (figura 6) são mais expressivas na faixa de 10 a 39 anos e decorrem do impacto das mortes violentas (causas externas).
A maior mortalidade dos homens é verificada em todos os grandes grupos de causa básica (figura 7). Os homens têm um risco de morte por causas externas 4,4 vezes superior ao das mulheres, seguido pelos gupos de doenças do aparelho digestivo (2,2 vezes maior), doenças respiratórias (1,8) e cardiovasculares (1,7).
As taxas mais elevadas dos homens nesses grupos de causas ocorrem em todas as faixas de idade, como poder ser visto na figura 8.
A análise de um conjunto de causas específicas de mortalidade (tabela 1) revela a maior desigualdade entre os sexos em doença alcoólica do fígado (13,1 vezes maior nos homens), homicídios (12,1) e câncer de laringe (11,9) seguidos pelo câncer de esôfago (5,1), acidentes de transporte (4,9) e cirrose de fígado (3,8). Verifica-se assim o forte impacto do tabagismo, do consumo excessivo de álcool e da exposição à violência como significativos determinantes da diferenciação entre os perfis de morte de homens e de mulheres.
Considerando-se as áreas de cobertura dos centros de saúde de Campinas (mapa) as maiores taxas de mortalidade de homens ocorrem no São Marcos, Itatinga, Vista Alegre, Aeroporto, Pedro Aquino, Orozimbo Maia, Figueira, Santa Mônica, Floresta e Boa Vista, que também são áreas com elevadas taxas femininas (tabela 2).
Os dados deste boletim comprovam as taxas mais elevadas de mortalidade da população masculina de Campinas e detectam a magnitude das disparidades em diferentes causas de óbito. Essa disparidade decorre em grande parte da maior exposição a riscos a que os homens se submetem no contexto do trabalho e do estilo de vida que adotam, no qual está mais presente o tabagismo, o consumo abusivo de bebidas alcoólicas e outras drogas e também uma vida social que os expõe com maior freqüência a situações e eventos de violência. Há, entretanto, na população masculina evidências de uma maior vulnerabilidade biológica revelada pelo maior risco de mortalidade já no primeiro ano de vida (dados do Boletim 41) e mesmo durante o período gestacional.
Por outro lado, os homens tendem a procurar muito menos os serviços de saúde comparativamente às mulheres. Referem menos doenças, aparentam ter menor percepção de sinais e sintomas, em estar menos sintonizados com o próprio corpo e em resistir a assumir o papel de doente. A manutenção de uma cultura de diferenciação de homens e mulheres quanto aos papéis sociais, às formas de conduta e de expressão de sentimentos e emoções contribuem para a persistência dessa relutância masculina frente aos cuidados da saúde e ao controle de doenças.
Os resultados do boletim apontam a necessidade de melhor compreensão das causas dos comportamentos de saúde dos homens, bem como da urgência de organização de propostas e programas de saúde que priorizem a população masculina, buscando reduzir a profunda desigualdade de padrão de saúde que persiste entre os sexos no município de Campinas.