As
ações em Saúde do Trabalhador começaram a ser executadas
pelo serviço público, em Campinas, a partir de 1986, quando
foi organizado o Programa de Saúde do Trabalhador, com o
desafio, antes mesmo da regulamentação do Sistema Único de Saúde
(SUS), de se trabalhar em Saúde Pública não se dissociando o
preventivo do curativo, com participação ativa do usuário e
por meio de equipe multidisciplinar.
Atualmente
essas ações se dão na rede básica e no hospital Mário Gatti
para o atendimento dos acidentes de trabalho; equipes de vigilância
dos distritos para algumas intervenções em ambientes de
trabalho e ainda o Centro de Referência em Saúde do
Trabalhador (CRST) para o atendimento especializado em doenças
relacionadas ao trabalho, vigilância Epidemiológica, intervenções
de maior complexidade em ambientes de trabalho e ações
educativas em Saúde do Trabalhador.
As
demandas em Saúde do Trabalhador que o SUS-Campinas tem
recebido ao longo desses anos são de origens muito diversas, o
que requer uma abordagem específica para garantir maior
resolutividade das necessidades de quem procura o serviço com
problemas de saúde relacionados ao trabalho. O CRST tem sua
demanda individual de usuários encaminhadas, principalmente, a
partir de sindicatos, empresas, rede pública de saúde, convênios,
advogados e do próprio usuário (demanda espontânea). Para
organizar essa demanda de forma a produzir um atendimento que
garantisse a ampliação do acesso do usuário, transformasse o
perfil de atendimento da unidade e proporcionasse uma maior eqüidade
na prestação de serviços e otimização de recursos, a
unidade criou um primeiro atendimento diferenciado, instituindo
assim o ACOLHIMENTO a partir de julho de 1998.
Este
está estruturado por meio de consultas individuais, agendadas
por telefone ou no mesmo dia para todos que procuram
pessoalmente a unidade. A consulta é realizada por
profissionais de nível universitário (enfermeira, assistente
social, fonoaudiólogas, terapeuta ocupacional e psicóloga),
devidamente capacitados. Para tal ,foi desenvolvida uma ficha própria,
e informatizada em dezembro de 1999, com dados sobre a
identificação do usuário, origem da demanda, motivo da
procura do serviço, situação ocupacional e previdenciária,
seu trabalho, queixas, tratamentos realizados, encaminhamentos e
condutas necessárias para o caso.
Baseando-se
no banco de dados da ficha de acolhimento no período de janeiro
a março de 2000, foi realizada uma análise quantitativa e
qualitativa das suas variáveis, onde concluiu-se que o
acolhimento favoreceu a organização da demanda na unidade, a
otimização de recursos e ampliação do acesso de usuários.
Esta experiência tem demonstrado ser de valor para o aperfeiçoamento
da equipe, uma vez que propiciou uma melhor identificação das
relações entre as queixas do usuário e a sua atividade de
trabalho, assim como o encaminhamento adequado para ações
individuais e coletivas.
Para
que a atenção básica prestada pela rede pública de Campinas
se dê de forma integral, conforme previsto nos princípios do
SUS, é de suma importância que esta reconheça as relações
existentes entre as condições de saúde de sua população e
os processos de trabalho por ela exercida. Dessa forma a discussão
do acolhimento em Saúde do Trabalhador deve ser levada aos
Centros de Saúde representando um primeiro passo para a
descentralização gradual dessas ações.