“Loucutores” do Cândido Ferreira discutem a necessidade de conscientização por ocasião do “Dia Mundial de Luta Contra a AIDS”

01/12/2005

Por iniciativa da Organização das Nações Unidas, todo dia 1 de dezembro é celebrado o "Dia Mundial de Luta Contra AIDS". Sendo assim, esse dia será tema de um programa de rádio muito especial.

O especial vai ao ar na próxima terça-feira, dia 06/12, às 10h com reprise às 22h, pelo programa “Maluco Beleza” veiculado pela Rádio Educativa FM 101,9MHz.

O Programa Maluco Beleza é produzido pelos usuários, “jornalistas”, do Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira e veiculado há mais de três anos, através de uma parceria do Cândido Ferreira com a Rádio Educativa Municipal.

Na ocasião o programa sobre a Aids trará comentários de usuários do serviço e uma entrevista muito importante com a Dra. Bárbara Dalcanale Meneses, Psicóloga do Centro de Referência de Gays, Lésbicas, Travestis, Transexuais e Bissexuais da Prefeitura Municipal de Campinas. A Dra. Meneses irá ensinar os métodos preventivos e dar um panorama atual da realidade da Aids.  

Essa temática proposta pelos usuários tem ligação direta com a prática do serviço que é discutir o papel da rede de saúde frente às epidemias.  

"Maluco Beleza: Um programa pra quem tem a cabeça no lugar"

O programa Maluco Beleza é resultado da parceria entre os usuários do Cândido Ferreira — por meio da assessoria de comunicação — com a Rádio Educativa FM, emissora que viabilizou o projeto e que tem possibilitado a propagação de vozes há muito tempo excluídas da convivência social e da possibilidade de se colocar perante a sociedade.

O “Maluco Beleza” é um jornalístico que vai ao ar todas as terças-feiras, às 10h, com reprise às 22 horas pela Rádio Educativa FM 101,9MHz. O jornalístico tem a duração de meia hora e é composto por quadros que incluem entrevistas, enquetes realizadas nos espaços públicos da cidade, análise de notícias, imitações, debates, músicas, recados, depoimentos, entre outros. A irreverência e o questionamento a respeito da loucura e da normalidade na atual sociedade fundamentam o trabalho e dão o tom diferencial ao programa.

Semanalmente o programa trabalha um tema escolhido pelo grupo de "jornalistas" composto por cerca de quinze usuários que elaboram, produzem e gravam o programa.  

Os temas se baseiam nos direitos humanos, saúde mental e em todos os assuntos que permitam a relação com o lugar dos usuários em sociedade.  

De acordo com Reginaldo Moreira, diretor do programa, o principal objetivo é desmistificar a loucura na sociedade e servir de instrumento de transformação da opinião pública, possibilitando assim a diminuição do preconceito e da exclusão social em relação aos portadores de transtornos mentais.  

Em três anos e meio de programa diversos temas foram abordados como: "Luta Antimanicomial”, "Drogas", "Tolerância e Convivência com as Diferenças", "Stress e Qualidade de Vida", "Saúde e Violência", "Eleições e Cidadania", "Meio Ambiente", "Guerra entre EUA e Iraque", "Carnaval", “Comunicação Alternativa”, “Idoso”, “Desarmamento” entre outros. Um dos pontos altos do “Maluco Beleza” foi a produção do primeiro programa especial sobre o Fórum Social Mundial, em 2003. Para desenvolvê-lo, parte do grupo de "jornalistas" esteve em Porto Alegre/RS e fez a cobertura do evento devidamente credenciada como equipe de mídia alternativa, com acesso às salas de imprensa e equipamentos. Isto foi, segundo Reginaldo Moreira, a confirmação da importância do trabalho do grupo, que acabou produzindo jornalismo comunitário de qualidade e contribuindo para a democratização da comunicação.  

Além disso, a equipe do “Maluco Beleza” oferece palestras e oficinas de comunicação sobre as temáticas de “Reinserção Social através da Comunicação” e “Comunicação Alternativa”.  

Historicamente, as pessoas com transtornos mentais não tiveram direito à fala durante anos de suas vidas, em que ficaram confinadas nos pátios de manicômios. O “Maluco Beleza” tem sido uma forma de ressarcir esse direito, veiculando a cultura produzida por esta população, mostrando como são ativos e participantes dos temas da atualidade.

O que move os "Jornalistas do Cândido" é a confiança no fato de que somente com a democratização dos meios de comunicação é que poderemos construir uma sociedade mais justa, em que a convivência com as diferenças possa ser possível. 

Cândido Ferreira: Convivendo com as diferenças  

O Serviço de Saúde “Dr. Cândido Ferreira” é referência no tratamento de saúde mental no Brasil, desde 1993, pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A parceria com a Prefeitura Municipal de Campinas, através de um convênio de co-gestão firmado desde 1990, tem viabilizado a transformação nas formas de cuidar o portador de transtorno mental. Com a desospitalização os portões foram abertos, foram abolidos a aplicação do eletrochoque e o uso da camisa de força e os tratamentos passaram a se basear no respeito aos direitos dos pacientes.

A entidade atende um público de mais de mil usuários por mês e conta com um Núcleo de Atenção à Crise, um Núcleo de Atenção à Dependência Química, três Centros de Atenção Psicossocial (Caps Estação, Caps Antonio da Costa Santos e Caps Esperança), um Núcleo Clínico, 12 Oficinas de trabalho, um Centro de Convivência e Arte, o Espaço 8 Atelier – atelier de arte do serviço - e uma escola para alfabetização de adultos, o   Centro Cultural Cândido Fumec.  

Novas formas de cuidar da doença mental têm sido implementadas no serviço, uma dessas formas é a reinserção através da Comunicação. As atividades da Comunicação desenvolvidas no Cândido Ferreira há cerca de 9 anos, contam hoje com a oficina de jornal impresso (Jornal Candura - Espaço Aberto para um Novo Pensamento), oficina de rádio (Programa Maluco Beleza) e oficina de roteiro (com a produção de um vídeo-documentário sobre a Reforma Psiquiátrica).

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