Pesquisadora apresenta estudo sobre homossexualidades a profissionais do Programa DST/Aids de Campinas

24/03/2008

Autor: Eli Fernandes

Reunião de equipe contou com mais de 60 profissionais do Centro de Referência que viram a palestra e realizaram debate sobre o assunto

A pesquisa inédita "Saúde Mental, Qualidade de Vida, Religiosidade e Identidade Psicossocial nas Homossexualidades", da psicóloga Daniela Barbetta Ghorayeb, foi apresentada nesta quinta-feira, dia 20 de março de 2007, das 13h às 15h, para cerca de 60 profissionais do Centro de Referência (CR) do Programa Municipal de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids (PMDST/Aids) da Secretaria de Saúde de Campinas.

Para sua apresentação ela trouxe alguns resultados qualitativos da pesquisa, como três diferentes respostas à pergunta Você já sentiu ou sente orgulho de sua orientação? "Sim, um pouco porque os gays que saíram do armário, deram sua cara para bater, são motivo de orgulho, tiveram coragem de reivindicar direitos iguais", ou "Sim, muito porque mesmo com todo mundo contra eu me assumo", ou " Sim, um pouco, hoje em dia porque admiro a luta homossexual por direitos civis".

O estudo apresentado aos profissionais do Programa DST/Aids de Campinas foi desenvolvida na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) investigou as dimensões de saúde mental, a qualidade de vida, a religiosidade e a identidade psicossocial na homossexualidade. Em sua dissertação de mestrado ela disse ter encontrado diferenças expressivas entre as experiências da homossexualidade de homens e mulheres.

No grupo pesquisado do gênero feminino, por exemplo, a orientação sexual é tratada de forma mais reservada, não havendo a necessidade de declarar abertamente a orientação. “Essas mulheres acreditam que se trata, apenas, de uma faceta a mais da identidade. Ademais, possuem relacionamentos mais estáveis com suas parceiras”, afirma a psicóloga. Já os homens que foram objeto de estudo estão dispostos a viver as relações afetivas de modo mais transparente no meio social ao qual pertencem.

Segundo Daniela, uma das justificativas para tais diferenças seria a própria herança cultural que carrega cada gênero. Para a psicóloga, em última análise, a sexualidade feminina foi marcada, historicamente, pela privacidade. Já a sexualidade masculina, prossegue a pesquisadora, sempre carregou um caráter de visibilidade.

O estudo contemplou pesquisa de campo, por meio de entrevistas individuais, visitas a boates e festas privadas, além da participação em manifestações de movimentos sociais. A pesquisa foi comparativa e, para isso, a psicóloga entrevistou 60 indivíduos homossexuais e 60 heterossexuais, pareados a partir da faixa etária, gênero e escolaridade. O método escolhido para o recrutamento dos sujeitos foi o chamado “bola de neve”, ou seja, um indivíduo indicava outro para ser entrevistado, o que atribuiu maior confiabilidade e credibilidade aos dados.

Outro aspecto nos resultados que chamou a atenção da pesquisadora foi a similaridade entre os índices de qualidade de vida dos dois grupos – os indivíduos estudados estão inseridos socialmente e não isolados em grupos fechados, como se imagina. “Com isso, é importante uma reflexão mais profunda sobre as construções e preconceitos presentes no imaginário social”, acredita Daniela, referindo-se aos estereótipos que reforçam uma outra realidade.

Uma questão a ser considerada refere-se às características do grupo. Os voluntários têm, em média, 30 anos, possuem nível de escolaridade superior e todos pertencem à classe média. Por isso, segundo Daniela, as conclusões podem ter referência, apenas, a partir do perfil selecionado. O estudo constatou ainda maior prevalência de transtornos mentais no grupo de orientação homossexual em comparação com o grupo de heterossexuais, com destaque para o transtorno depressivo e risco de suicídio. Estes resultados confirmam pesquisas que sugerem o impacto do preconceito e da discriminação sobre a saúde mental.

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