Vila Ipê é o 25º Centro de Saúde a integrar o Programa de Tabagismo

11/04/2011

Autor: Marco Aurélio Capitão

Mais uma Unidade do Sistema Único de Saúde (SUS) de Campinas passou a integrar o Programa de Tabagismo da Secretaria de Saúde de Campinas. Desde a última semana, o Centro de Saúde (CS) Vila Ipê, na área de abrangência do Distrito Sul de Saúde, aderiu ao serviço, que segue diretrizes da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas, do Ministério da Saúde (MS) e da Organização Mundial de Saúde (OMS).

O CS Vila Ipê, assim como as demais unidades integradas ao Programa, passa a contar com uma Equipe de Tabagismo especializada em atender pessoas interessadas em abandonar o hábito de fumar e fumantes passivos que convivem com os fumantes ativos. A primeira reunião aconteceu em 30 de março, neste CS, com 32 participantes dispostos a abandonar o cigarro. Nesta unidade, fumantes passivos e ativos são acolhidos, em encontros com duração de uma hora, sempre às quartas-feiras, com início às 18h.

O encontro inaugural contou com a presença do coordenador do Programa de Tabagismo da Secretaria de Saúde de Campinas, o médico Mario Becker. No início da reunião, os membros da Equipe de Tabagismo deste CS explicaram aos integrantes do grupo os objetivos principais do Programa e como estes profissionais acolhem e atendem tabagistas passivos e ativos na Unidade.

Logo no início do encontro Mário Becker relatou a todos que o tabagismo ativo é a primeira causa de morte prematura prevenível e o tabagismo passivo é a terceira. “Importante considerar que estes óbitos ocorrem após décadas de doenças, sequelas e acidentes, prejudicando fumantes passivos e ativos na família, nos estudos, no trabalho e com elevados custos aos sistemas de saúde”, destacou o médico. Ele informou que esses dados são evidências apontadas há décadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em todo o mundo.

Todos foram esclarecidos das dificuldades que poderão enfrentar nesse esforço de abandonar o cigarro, considerando que a maioria deles fuma há mais de vinte ou trinta anos. Foram igualmente enfatizados os enormes ganhos em qualidade de vida que frequentemente são relatados nas 25 Unidades que atendem crescente número de participantes que abandonaram o fumo devido aos atendimentos semelhantes aos do CS Vila Ipê.

O médico lembra que não há fila de espera nas Unidades que contam com Equipes de Tabagismo, exceto no CS Integração, devido ao tamanho da sala de atendimento, com solução prevista para breve. Segundo Mário Becker, de outubro de 2010 a março de 2011 foram incluídos no Programa os os CSs São Marcos, Jardim Ipaussurama, Carvalho de Moura, São Cristóvão e Vila Ipê, além do Ambulatório da Cesasa.

A médica generalista Valéria Yoshida integra o Programa de Tabagismo no CS São Marcos e no Ambulatório da Ceasa, área de abrangência do Distrito Norte. Ela conta que no São Marcos, desde que foi implantado, em novembro de 2010, o Programa tem atingido seu objetivo. "O São Marcos conta, hoje, com cerca de vinte pessoas no Programa, duas conseguiram deixar o tabaco e tiveram alta, além de outras quatro que estão prestes a se livrar do cigarro", comemora a médica.

Segundo ela, o balanço também é positivo no Ambulatório da Ceasa onde o serviço iniciou em outubro de 2010. Segundo ela, o grupo começou com dez pessoas, duas obtiveram alta e uma está em vias de vencer o tabaco. "É um trabalho difícil, pois um vício de tantos anos demora para ser abandonado e exige muito empenho, tanto dos membros da Equipe de apoio como do paciente", afirma.

Na região sul, o CS Carvalho de Moura ingressou no Programa em janeiro deste ano. A enfermeira Luciana Gonçalves, que integra a Equipe de Tabagismo, conta que por enquanto cinco pessoas participam das reuniões. Estas acontecem no Carvalho de Moura às segundas-feiras, às 10h. "É um grupo coeso e assíduo que já está na fase das entrevistas médicas para se avaliar a necessidade de medicamentos. Mas o grupo deve crescer nas próximas semanas, pois algumas pessoas já manifestaram a vontade de participar do Programa", disse a enfermeira.

No CS Ipaussurama, na área do Distrito Noroeste, onde treze pessoas reúnem-se semanalmente, o Programa iniciou em janeiro deste ano. "Nesses encontros - esclarece a médica de família e comunidade, Samanta Polli Antonio, que integra a Equipe de Tabagismo do Ipaussurama - os integrantes do grupo recebem orientações para se sentiram estimuladas e dispostas a abandonar o tabaco". Ela destaca que nesse processo de recuperação a força de vontade tem um grande peso para o sucesso dessa empreitada.

Na região sudoeste, no CS São Cristóvão, o Programa de Tabagismo começou em fevereiro, com 23 pacientes. "Aqui as reuniões acontecem todas as terças-feiras, a partir das sete da manhã, não há filas e temos toda a estrutura para atender todos os interessados em parar de fumar", esclarece o médico generalista Jon Tedesco, um dos integrantes da Equipe no São Cristóvão. Tedesco disse, ainda, que o CS também contata empresas no caso de alguma pessoa interessada em parar de fumar precisar mudar o horário de chegada ao trabalho.

Nas Unidades de saúde onde está implantado, o Programa atende com um médico, além de combinações variadas de enfermeiros, agentes comunitários de saúde, dentistas, auxiliares de cirurgião-dentista, técnicos de enfermagem, psicólogos e terapeutas ocupacionais.

Para integrar a Equipe de Tabagismo, membros dos CSs participam de capacitação no Ambulatório de Substâncias Psicoativas (ASPA) e Tabagismo do Hospital de Clínicas da Unicamp, no Programa Estadual de Tabagismo ou no CAPS AD- Reviver.

Tratamento

Nas reuniões do Grupo Motivacional, que podem durar, em média, de quatro a seis semanas, as pessoas se apresentam, se conhecem, ficam à vontade para falar da sua relação com o tabagismo e da sua disposição de, em algum momento, parar de fumar. Nesses encontros os integrantes do Grupo recebem orientações da Equipe e ouvem depoimentos de pessoas já atendidas e que não mais fumam, para se sentirem estimuladas a abandonar o tabaco.

Após essa primeira etapa, os pacientes que decidem marcar a data da parada de fumar passam por consulta com médico e com membro não médico da Equipe. Dessa forma, os profissionais avaliam se este paciente está preparado para integrar semanalmente o Grupo Terapêutico, uma segunda etapa do Programa, que pode estender-se por tempo variável, geralmente em torno de oito semanas. Importante lembrar que ele terá o apoio de toda Equipe de Tabagismo, com o suporte necessário. Quando indicado pela Equipe, é prescrita medicação. Após aproximadamente oito semanas sem recaídas, segundo o coordenador do Programa, o paciente tem alta e retorna a reuniões no Grupo Motivacional ainda por um ano, uma vez por mês.

"Nessa participação mensal o paciente em abstinência relata os benefícios que já vivencia após ter abandonado o uso dos produtos do tabaco, o que também estimula os outros participantes a marcarem sua data de abstinência ao fumo. Esses benefícios – enumera o médico - aparecem na melhora da autoestima, na relação familiar e, sobretudo, na disposição e na saúde como um todo. Há ganhos que iniciam até vinte minutos após fumar o último cigarro, como a tendência à normalização da pressão arterial e dos batimentos do coração. Outros benefícios mais significativos aparecem de meses a anos apos a parada do fumo".

Mário Becker é taxativo ao colocar que a qualidade de vida de todos fumantes, passivos e ativos, de fetos a idosos, melhora sensivelmente com a cessação do fumo. Os ganhos incluem a redução no nascimento de bebês prematuros e de baixo peso. Conforme destaca, “esses benefícios frequentemente estendem-se por toda a vida, menos consultas e atendimentos em pronto-socorro, em internações hospitalares e em UTIs, além da redução dos prejuízos que afetam a vida da família, o rendimento escolar, profissional e financeiro”.

Serviços na rede

Na Rede Municipal de Saúde de Campinas o usuário tem acesso ao tratamento de tabagismo no CAPS ad Reviver, CSs Centro, Costa e Silva e São Quirino (Distrito de Saúde Leste); CSs Integração e Ipaussurama (Distrito de Saúde Noroeste); Ambulatório da CEASA, CSs Barão Geraldo, Jardim Aurélia, Padre Anchieta e São Marcos (Distrito de Saúde Norte); Complexo Hospitalar Ouro Verde, CSs Jardim Aeroporto, Santo Antônio e São Cristóvão (Distrito de Saúde Sudoeste); CSs Independência, CSs Carvalho de Moura, Nova América, Orosimbo Maia, Paranapanema, Parque da Figueira, Santa Odila, São José, Vila Ipê e Vila Rica (Distrito de Saúde Sul). Para conhecer a Unidade de Saúde que atende tabagistas mais próxima do usuário: fones 156 e 160 e www.campinas.sp.gov.br/tabagismo.

Males

Gestantes expostas ao tabaco por estarem próximas a quem fuma, além de aumentarem o risco à sua própria saúde, compartilham o problema com o feto e a criança, especialmente nos primeiros meses e anos de vida. Fetos “fumantes”, mais frequentemente que os “não fumantes”, constam de internações em UTIs neonatais por várias semanas logo após o parto. “O apego precoce mãe-bebê, sabidamente importante no crescimento e desenvolvimento da criança, fica sensivelmente prejudicado, pela redução na amamentação e pela menor integração do bebê à família. Frequentemente esta perda se prolonga com menos rendimento escolar e mais atendimentos por doenças, sequelas e acidentes”, acrescenta Mário Becker.

Mario Becker faz questão de ressaltar a importância de o SUS adotar e apoiar, tanto as pessoas que querem abandonar o hábito de fumar, como os fumantes passivos. Ele lembra que, no Brasil, 200 mil mortes anuais são relacionadas ao tabagismo. "Programas como esse, reforçados por leis que tornaram os ambientes fechados livres de tabaco, beneficiam fumantes passivos e ativos. Lembrar que esta legislação identifica locais fechados como todos que possuem pelo menos uma estrutura vertical e uma horizontal. Hoje, aproximadamente 16% da população brasileira adulta são fumantes. Isso representa uma diminuição de quase 50% no número de fumantes desde 1989", afirma o médico.

Custos

O coordenador complementa que, de uma seleção de 32 doencas tabaco-relacionadas - circulatórias e respiratórias, além de cãncer -, foram estimados custos ao SUS superiores a R$330 milhões. Isto apenas considerando pacientes que foram hospitalizados ou receberam quimioterapia, com idade igual ou superior a 35 anos, em 2005.

Estes prejuízos representam mais de 7,7% do total de custos totais de hospitalizações e quimioterapias tabaco-relacionadas no SUS para pessoas de idade igual ou acima de 35 anos em 2005. Estes dados não incluem várias outras doenças, sequelas e acidentes tabaco-relacionados de fumantes passivos e ativos, causando utilização significativamente aumentada do SUS. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a dependência ao tabaco está associada a 85% dos casos de câncer de pulmão, 85% dos óbitos por enfisema pulmonar, 40% dos derrames cerebrais e 25% dos infartos fatais.

Dia Mundial

Em 1988, a Assembléia da Organização Mundial de Saude (OMS) aprovou a resolução WHA42.19, determinando que a celebração do Dia Mundial sem Tabaco aconteça anualmente no dia 31 de maio. Desde então, a OMS articula em todo o mundo a comemoração e define um tema correlato ao tabagismo que deve ser abordado pelos seus 192 países-membros.

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