Reclamações sobre caramujo africano representam 8% das demandas sobre pragas urbanas na região Sudoeste

15/06/2004

Espécie constitui praga agrícola
e representa uma ameaça para a saúde pública

Denize Assis

As reclamações de moradores sobre infestação do caramujo gigante africano, ou Achatina fulica, já representam 8% das demandas relacionadas a pragas urbanas recebidas pela Vigilância em Saúde (Visa) Sudoeste. Em 2003, a Visa recebeu 38 reclamações. Este ano, desde janeiro, já foram registradas oito.

O caramujo africano chegou ao Brasil trazido por profissionais da gastronomia, que passaram a comercializar a carne como escargot. A idéia era aumentar a lucratividade, mas quando o negócio deixou de ser interessante, o molusco foi solto na natureza em muitos estados brasileiros e acabou por tornar-se uma praga agrícola, por destruir plantações e lavouras diversas. Também passou a representar um risco à saúde pública, já que a espécie pode hospedar o verme Angiostrongylus costaricensis, que causa doença grave que pode levar à morte por perfuração intestinal e hemorragia abdominal.

De acordo com o médico veterinário Cláudio Castagna, da Visa Sudoeste, a contaminação acontece por via oral, pelo contato com a baba - muco - que o caramujo solta pela pele e que pode ser ingerida por meio de hortaliças cultivadas em hortas infestadas e/ou pelos alimentos contaminados pelas mãos após contato direto com o caramujo.

"Por isso, é preciso lavar bem as verduras e frutas. As mãos devem ser lavadas sempre depois de contato com o solo, do trabalho no campo ou nas hortas e jardins. Ainda é importante impedir que crianças brinquem com os caramujos, já que elas podem colocar as mãos sujas na boca", diz Cláudio.

O biólogo Edílson Geanfrancisco Soave, da Visa Sudoeste, explica que terrenos baldios e construções, além de plantações, hortas e jardins, são ambientes favoráveis para o caramujo africano porque oferecem bastante calor e umidade. A proliferação também é favorecida pela falta de predadores e porque o molusco é um herbívoro generalista - come tudo o que é verde -, além de ser hermafrodita. De acordo com o biólogo, as épocas do ano mais propícias para a proliferação são os meses de calor. "No inverno, eles se reproduzem menos", diz.
Para combater a praga, a Secretaria de Saúde capacitou profissionais, mapeou locais infestados e passou a trabalhar para conter infestações e esclarecer as pessoas quanto às medidas de controle do caramujo, riscos, sintomas da doença e quando acionar e/ou procurar o serviço de saúde. "Com isso, o número de casos registrados diminuiu", diz Edílson.

O perigo que o caramujo representa para a saúde pública e a ameaça para lavouras rendeu um projeto de lei, já aprovado pela Assembléia Legislativa de São Paulo, que entre outras providências proíbe a criação comercial do molusco. Para se tornar lei estadual, o projeto, agora, precisa ser sancionado pelo Governador do Estado.

Além de Campinas, cidades como Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe também já registraram infestações.

Medidas de controle:

1 - Recolher os caramujos, com luva e pá, todos os dias pela manhã e colocá-los num balde com salmoura. Deixar uma noite e, no dia seguinte, enterrá-los;

2 - Desbastar a vegetação, como folhagens, gramas e capins, de maneira que o sol atinja o terreno;

3 - Usar armadilhas para atrair os caramujos de toda propriedade. A armadilha, que deve ser colocada no local mais sombreado e úmido, pode ser confeccionada com um saco de estopa ou pano. O material deve ser molhado com cerveja uma vez por semana e preenchido com cascas de frutas. Depois é só recolher os caramujos todos os dias pela manhã e coloca-los na solução com salmora e, no dia seguinte, enterrá-los;

4 - Terrenos baldios e parques devem ser, freqüentemente, roçados e ter a vegetação desbastada de tal modo que o sol atinja o solo;

5 - Não criar caramujos em casa.

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