Espécie
constitui praga agrícola
e representa uma ameaça para a saúde
pública
Denize Assis
As reclamações
de moradores sobre infestação do caramujo gigante africano,
ou Achatina fulica, já representam 8% das demandas
relacionadas a pragas urbanas recebidas pela Vigilância em Saúde
(Visa) Sudoeste. Em 2003, a Visa recebeu 38 reclamações.
Este ano, desde janeiro, já foram registradas oito.
O caramujo africano chegou ao Brasil trazido por profissionais
da gastronomia, que passaram a comercializar a carne como
escargot. A idéia era aumentar a lucratividade, mas quando o
negócio deixou de ser interessante, o molusco foi solto na
natureza em muitos estados brasileiros e acabou por tornar-se
uma praga agrícola, por destruir plantações e lavouras
diversas. Também passou a representar um risco à saúde pública,
já que a espécie pode hospedar o verme Angiostrongylus
costaricensis, que causa doença grave que pode levar à
morte por perfuração intestinal e hemorragia abdominal.
De acordo com o médico veterinário Cláudio Castagna, da
Visa Sudoeste, a contaminação acontece por via oral, pelo
contato com a baba - muco - que o caramujo solta pela pele e
que pode ser ingerida por meio de hortaliças cultivadas em
hortas infestadas e/ou pelos alimentos contaminados pelas mãos
após contato direto com o caramujo.
"Por
isso, é preciso lavar bem as verduras e frutas. As mãos
devem ser lavadas sempre depois de contato com o solo, do
trabalho no campo ou nas hortas e jardins. Ainda é importante
impedir que crianças brinquem com os caramujos, já que elas
podem colocar as mãos sujas na boca", diz Cláudio.
O biólogo Edílson
Geanfrancisco Soave, da Visa Sudoeste, explica que terrenos
baldios e construções, além de plantações, hortas e
jardins, são ambientes favoráveis para o caramujo africano
porque oferecem bastante calor e umidade. A proliferação
também é favorecida pela falta de predadores e porque o
molusco é um herbívoro generalista - come tudo o que é
verde -, além de ser hermafrodita. De acordo com o biólogo,
as épocas do ano mais propícias para a proliferação são
os meses de calor. "No inverno, eles se reproduzem
menos", diz.
Para combater a praga, a Secretaria de Saúde capacitou
profissionais, mapeou locais infestados e passou a trabalhar
para conter infestações e esclarecer as pessoas quanto às
medidas de controle do caramujo, riscos, sintomas da doença e
quando acionar e/ou procurar o serviço de saúde. "Com
isso, o número de casos registrados diminuiu", diz Edílson.
O perigo que o caramujo representa para a saúde pública e a
ameaça para lavouras rendeu um projeto de lei, já aprovado
pela Assembléia Legislativa de São Paulo, que entre outras
providências proíbe a criação comercial do molusco. Para
se tornar lei estadual, o projeto, agora, precisa ser
sancionado pelo Governador do Estado.
Além de Campinas,
cidades como Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe também já
registraram infestações.
Medidas de
controle:
1 - Recolher os caramujos, com luva e pá, todos os dias pela
manhã e colocá-los num balde com salmoura. Deixar uma noite
e, no dia seguinte, enterrá-los;
2 - Desbastar a vegetação, como folhagens, gramas e capins,
de maneira que o sol atinja o terreno;
3 - Usar armadilhas para atrair os caramujos de toda
propriedade. A armadilha, que deve ser colocada no local mais
sombreado e úmido, pode ser confeccionada com um saco de
estopa ou pano. O material deve ser molhado com cerveja uma
vez por semana e preenchido com cascas de frutas. Depois é só
recolher os caramujos todos os dias pela manhã e coloca-los
na solução com salmora e, no dia seguinte, enterrá-los;
4 - Terrenos baldios e parques devem ser, freqüentemente, roçados
e ter a vegetação desbastada de tal modo que o sol atinja o
solo;
5 - Não criar caramujos em casa.