Autor: Sérgio Oliveira
Com a entrega do Projeto Piloto
de Informatização nos Centros de Saúde, ocorrida no dia 20
de maio passado, Campinas tornou-se o primeiro município do
Brasil a contar com um Centro de Saúde totalmente
informatizado. Os benefícios da iniciativa já podem ser
sentidos tanto pela população quanto pelos profissionais da
saúde que trabalham na unidade.
Com o cartão SUS em mãos, ao
chegar à recepção, a identificação dos pacientes passa a ser
automática, diminuindo o tempo de espera e eventuais filas.
Se o cidadão não tem o cartão ainda, não há problema, a
recepcionista imprime um na hora.
A economia de tempo não para
por aí. Antes, era necessário utilizar uma agenda de papel e
o CS reservava horários específicos para que a população
pudesse marcar uma consulta. Agora, a agenda está
informatizada e as consultas podem ser marcadas pelo
disque-saúde (telefone 160), de segunda a sexta, das 7h às
19h, e aos sábados, das 8h às 14h, sem a necessidade de
deslocamento do paciente até a unidade.
No consultório, além de ver o
histórico de seu paciente, o médico fará, eletronicamente,
os registros dos procedimentos realizados durante a
consulta, agilizando o atendimento e acabando com o trâmite
em papel.
As informações cadastradas
passam a fazer parte dos registros de atendimentos daquele
paciente e, no futuro, poderão ser acessadas em qualquer
unidade de saúde que estiver conectada ao sistema de
informatização.
“Antes a gente tinha que
preencher planilha à mão, e eu tinha cinco agendas enormes
na minha mesa. Agora é tudo digital. Outro benefício é a
gestão, porque, eu passo a saber com maior rapidez, quando,
por exemplo, alguma doença está afetando mais a região e
preparo a equipe para isso”, explica a coordenadora do Santo
Antônio, Denise Cury.
O CS Santo Antônio esta
localizado na Avenida Pastor João Prata Vieira, s/n, no
Parque Vista Alegre, na região Sudoeste de Campinas, próximo
ao entroncamento das rodovias Santos Dumont e Bandeirantes.
A unidade é referência no
atendimento básico à saúde para cerca de 15 mil pessoas.
Diariamente, são realizados uma média de 500 atendimentos,
por cerca de 55 profissionais de saúde.
O trabalho dos agentes de saúde
também foi facilitado. Eles receberam netbooks, com conexão
3G, com os quais fazem o registro on line das visitas que
realizam, o que diminui o retrabalho uma vez que, antes de
contarem com o equipamento, após realizarem as visitas,
tinham que digitar todas as informações levantadas.
Com isso, sobra mais tempo para
cuidarem da saúde dos pacientes atendidos. “Agora podemos
consultar os dados das famílias que atemos imediatamente.
Ganhamos muita agilidade”, avalia a agente de saúde Nair
Scaramuzza.
Todas estas informações
disponibilizadas em tempo real permitem aos gestores
quantificar a sua produção e verificar com maior agilidade e
clareza o que precisa ser melhorado em termos de
atendimento. Os técnicos da Secretaria de Saúde também
estimam que a informatização aumenta em até 20% a
produtividade dos profissionais da área.
Digitalização
Um dos efeitos benéficos da
informatização é a possibilidade de digitalizar os
documentos e acessá-los no computador, tanto que os agentes
de saúde da unidade aproveitaram os recursos dos sistemas
implantados pela Informática de Municípios Associadis (IMA)
para organizar os prontuários de todos os usuários que estão
cadastrados no Santo Antônio.
Tanto o Siga-Saúde, software
que está automatizando o atendimento na área em Campinas,
quanto do DIM, sistema que controla a distribuição de
medicamentos nos centros de saúde, contribuíram bastante
para esta tarefa.
Para tanto, os profissionais do
CS realizaram uma triagem nos prontuários e os documentos
pertencentes aos pacientes que não tinham passado pela
unidade desde 2007 foram separados. “Geralmente são
prontuários inativos, de pessoas que mudaram do bairro ou
até mesmo de cidade ou Estado. Os prontuários contêm
informações importantes sobre a saúde dessas pessoas, mas
nesse caso ficam aqui sem uso”, explica a agente de Saúde
Valdirene de Jesus dos Santos.
Depois de localizados e
separados, os nomes dos pacientes a quem pertencem esses
prontuários foram pesquisados no Siga-Saúde ou no DIM. Se as
famílias não foram localizadas no sistema, significa que não
estão utilizando os serviços do SUS no município.
Se foram localizadas, é
possível saber se ainda moram nas imediações do Santo
Antônio ou mudaram-se para a área de abrangência de outra
unidade de saúde. “Se o prontuário pertencia a pacientes que
se mudaram, buscamos checar, através de um telefone, ou
outro meio, e, confirmada a mudança de endereço,
encaminhamos a pasta com os documentos para a unidade onde
estão sendo atendidos”, revela Jacqueline Rufino Marins,
também agente de saúde.
Jacqueline destaca que os
prontuários contêm a história da saúde das pessoas e que é
muito importante que as unidades que estão atendendo estes
pacientes tenham acesso a essa informação.
De acordo com a coordenadora, o
acervo da unidade é muito maior do que a população que
utiliza o CS. “Temos aproximadamente 30 mil prontuários para
15 mil usuários”, conta, ressaltando a importância da
utilização de instrumentos de informática para melhorar a
qualidade desse cadastro.
Além, de permitir que a
informação chegue de fato aos profissionais de saúde que
atenderão estes pacientes, Denise cita outra vantagem deste
procedimento: a liberação de espaço na recepção da unidade.
“Esta é a grande novidade, a possibilidade de digitalização
dos prontuários, que diminui a dependência com relação ao
documento físico e permite a melhor utilização dos espaços
do nosso Centro”, comemora.
Sistema
O elemento central da
informatização na área de Saúde é o SIGA (Sistema Integrado
de Gestão de Atendimento), um software desenvolvido pela
Prefeitura de São Paulo e Ministério da Saúde (MS), e, que,
através da IMA, foi implantado também em Campinas.
Em março do ano passado, este
sistema foi escolhido pelo MS para ser o software padrão
para gestão dos recursos e serviços prestados pelo Sistema
Único de Saúde (SUS) em todos os municípios
brasileiros.
Com a implantação do Siga, uma
série de procedimentos exigidos pelo Ministério da Saúde
para o repasse de recursos federais aos municípios passa a
ser automatizada.
Ao mesmo tempo em que ele
agiliza o recebimento destes recursos, o software provoca
uma verdadeira revolução tecnológica nos procedimentos que
hoje são adotados pelos profissionais da área, tendo impacto
direto na melhoria do atendimento à população.
Ele permite a emissão do cartão
de identificação do paciente usado no SUS. Por meio desta
identificação é possível recuperar instantaneamente, na tela
do computador, todas as informações referentes aos
tratamentos que o paciente portador do cartão já tenha
recebido, quando e onde foi tratado, quais medicamentos está
tomando, qual o diagnóstico e o encaminhamento dado, além de
outras informações sobre seu histórico de saúde,
viabilizando as mudanças que estão ocorrendo no atendimento
à Saúde.
Com a implantação do SIGA
consolidada em Campinas, era preciso cuidar de outros
aspectos necessários para a informatização da área da Saúde,
como a melhoria de infraestrutura de dados e fornecimento de
equipamentos para as unidades, bem como a melhoria de
conectividade com a Internet.
Projeto Piloto
Para avaliar quais equipamentos
teriam um impacto maior para atingir estes objetivos e
quanto seria necessário investir em cada unidade, IMA e
Secretaria Municipal de Saúde fecharam um acordo para a
implantação de um Projeto Piloto de Informatização dos
centros de saúde, em outubro de 2011.
Por sua proatividade e
engajamento no uso das ferramentas tecnológicas, o Centro de
Saúde Santo Antônio foi o escolhido para o projeto. Nesse
processo, a unidade recebeu novos equipamentos de
informática, além de investimentos em treinamento e
infraestrutura.
Em março deste ano foram
concluídos os trabalhos de melhoria na rede elétrica e
implantação da rede de dados. No mesmo mês, a conectividade
foi ampliada de 1 Mbps para 3 Mbps full, ou seja com
garantia do fornecedor de que esta será a banda disponível
para utilização da unidade em 98% do tempo.
Também em março, a unidade
recebeu 21 novas estações de trabalho, equipamentos em
quantidade e performance adequados às atividades
desenvolvidas pelo centro. Além disso, foram instaladas
quatro impressoras, duas delas especialmente voltadas para a
impressão do Cartão SUS, leitores de códigos de barra, para
automatizar a leitura do cartão SUS, câmeras web, para
videoconferências e um scanner com mesa digitalizadora para
digitalização de documentos.
Paralelamente, a equipe do CS
Santo Antônio passou por cursos oferecidos pela IMA para
poder aproveitar o máximo das facilidades que estes
equipamentos e o sistema SIGA podem trazer para o
desenvolvimento de suas atividades.
Em abril, os agentes de saúde
receberam 11 netbooks e a coordenação do Centro um notebook.
A unidade também passou a ser monitorada pelo CIMCamp, que
implantou 4,5 quilômetros de fibra ótica e cinco
câmeras de vigilância na unidade. Por fim, o CS Santo
Antônio passou a integrar o Programa Campinas Digital,
oferecendo acesso gratuito à internet aos seus usuários,
através da tecnologia WiFi.
Novo desafio
O desafio, agora, é levar esta
experiência exitosa para as cerca de 60 unidades
descentralizadas de atendimento básico à saúde do município.
“Com a implantação deste modelo sabemos que acertamos no que
deve ser feito na informatização dos dados da saúde. Esse é
o modelo que será usado em todo o Sistema Único de Saúde e
difundido em todo o Brasil. Mais uma vez a saúde de Campinas
faz história em nível nacional”, destaca o secretário
municipal de Saúde, Fernando Brandão.
De acordo com o cronograma da
Secretaria de Saúde, o próximo CS a receber a informatização
será o Capivari, também na Sudoeste, seguido do São Marcos
na Norte, Taquaral, na Leste, Orosimbo Maia, na Sul, e Pedro
Aquino (Balão do Laranja), na Noroeste. A previsão é de uma
implantação a cada dois meses.
O presidente da IMA, Pedro
Jaime Ziller, aponta que a experiência pode também ser
replicada em outros municípios da Região Metropolitana de
Campinas. A IMA deve coordenar a implantação do Cartão SUS
em toda a RMC, em um processo que recentemente foi aprovado
pelo Conselho de Desenvolvimento da Região.
“Estamos trabalhando para que,
no futuro, em uma situação hipotética, se um cidadão
campineiro sentir-se mal durante uma viagem quando estiver
próximo a Cosmópolis, por exemplo, e procurar uma
unidade do SUS naquele município, o médico que o atender
consiga acessar todas as suas informações médicas
instantaneamente, o que, com certeza, contribuirá para um
atendimento com maior segurança e qualidade”, explica Ziller.
De acordo com ele, a jornada
ainda está no início, mas o uso intensivo de tecnologia da
informação e telecomunicação é capaz de acelerar a
eliminação dos gargalos que restringem os atendimentos no
SUS e de otimizar os investimentos que são feitos na Saúde,
de forma a melhorar os serviços prestados à população.