Atividades
promovem o auto-cuidado, além de serem um complemento da parte
terapêutica
Cidadãos do
Jardim São Fernando, Guarani, Santa Eudóxia e de outros
bairros na abrangência do Centro de Saúde (CS) Paranapanema
estão recebendo aulas de capoeira, futebol, ginástica
localizada, axé, corte e costura, ponto cruz, crochê,
vagonite e de confecção de sabonetes como terapia
complementar para tratar e prevenir doenças.
Os cursos são
parte do Projeto Corpo, Espaço e Criação desenvolvido pela
equipe do CS Paranapanema em parceria com a Casa da Esperança,
Parceiros do Futuro, Centro de Convivência do Serviço de Saúde
Cândido Ferreira e de voluntários da comunidade local.
O Centro de
Saúde Paranapanema é referência para 22 mil moradores da
Região Sul de Campinas. De acordo com a coordenação do
serviço, grande parte destes usuários, ao procurar o serviço,
reivindicam mais atividades físicas e de lazer.
Então, para
atender a esta demanda e pensando nas atividades como um
complemento da parte terapêutica, em agosto de 2002, a
unidade implantou o Projeto Corpo, Espaço e Criação que,
atualmente, já atende a mais de 120 pessoas. Outras 200 estão
numa lista a espera de novas vagas.
A enfermeira
sanitarista Regina Conceição Sousa Guimarães, coordenadora
do Parapanema, explica que as oficinas proporcionam o convívio
entre as pessoas, estimulam as relações interpessoais e
promovem o auto-cuidado.
"As
pessoas aprendem a se cuidar e a cuidar dos outros. E, assim,
nós, profissionais de saúde, atuamos também para prevenir
doenças e promover a saúde e a autonomia das pessoas",
diz Regina. Ela lembra que a promoção e a prevenção na
comunidade é uma das diretrizes do Programa de Saúde Paidéia,
da Prefeitura de Campinas.
A psicóloga
Cibele Martins e a terapeuta ocupacional Adriana Carreira, da
equipe do CS Paranapanema, afirmam que o Corpo, Espaço e Criação
é prioridade e parte fundamental do projeto terapêutico de
seus pacientes. Elas ressaltam que também é objetivo do
trabalho a prevenção da violência.
Cibele
explica que a oficina de futebol, por exemplo, surgiu para
atender meninos que tinham problemas com disciplina na escola
ou mesmo em casa e eram encaminhados para a equipe de saúde
mental do serviço. "Hoje as famílias relatam a mudança
de atitude destes garotos. Em todos os depoimentos os
familiares referem-se ao bom comportamento, à disciplina e ao
companheirismo como resultado da oficina", afirma Regina.
O Projeto
Corpo, Espaço e Criação também fez diferença para a cidadã
campineira C. Ela, que participa da oficina de sabonete, conta
que a atividade mexeu com seus sentimentos. Aos poucos,
segundo ela, a inquietação e a falta de concentração foram
cedendo lugar para a rapidez de raciocínio e para a tolerância.
"Me sinto muito mais feliz", diz.
A experiência
também mudou a vida da costureira profissional M. C., que dá
aulas de corte e costura como voluntária no CS. "De início,
a experiência foi totalmente nova para mim. Há muito tempo não
desenvolvia trabalho voluntário. Precisei me reciclar,
lembrar procedimentos básicos. Tem sido muito bom estar no
grupo. A gente aprende muito mais do que ensina", afirma
M. C.
Para Adriana
(ela prefere se identificar somente pelo primeiro nome), aluna
da oficina de corte e costura, as aulas têm sido
"maravilhosas". "Minha mãe era costureira mas
nunca teve tempo de me ensinar. Estou aprendendo para me
especializar em roupas infantis. Quero costurar como voluntária
para crianças pobres", afirma Adriana.
Além do
reconhecimento da população, o Projeto Corpo, Espaço e Criação
agora está sendo legitimado por representantes da sociedade
civil. A Singer, empresa que atua no ramo de máquinas de
costura, estuda a probabilidade de disponibilizar um curso
profissionalizante para uma das alunas da oficina de corte e
costura. A idéia é que ela atue como multiplicadora
ensinando a prática para outras alunas. A Singer também vai
deve doar máquinas de costura para o projeto.