A Secretaria
de Saúde de Campinas começou a avaliar nesta
segunda-feira, 4 de agosto, a possibilidade de viabilizar um
local para abrigar gatos apreendidos no Bosque dos Jequitibás,
área onde recentemente apareceu um morcego contaminado pela
raiva. Cães e gatos que vivem soltos na área podem ter
sido infectados e transmitir a doença ao homem.
O parque,
no Centro da cidade, recebe todos os dias centenas de
pessoas. No último domingo, 3 da agosto, um jornalista que
visitava a área foi mordido por um gato que vive solto lá.
O jornalista já está recebendo assistência na
rede municipal de saúde.
Na semana
passada, a Prefeitura anunciou a apreensão de animais que
vivem soltos no bosque e nas ruas próximas num raio de 500
metros. A estimativa da coordenação do parque é que 30
gatos vivam soltos na área. Não há registros de cachorros
errantes no local.
Os animais
seriam encaminhados para eutanásia, conforme indica o
Ministério da Saúde e o Programa Nacional e Controle da
Raiva. A medida, necessária para prevenir o aparecimento de
outros casos de raiva na área, gerou muitos protestos por
parte das entidades protetoras dos animais e de moradores de
Campinas.
De acordo
com a Secretaria de Saúde, a única alternativa para evitar
a morte dos animais é mantê-los em observação por 180
dias em um local onde cada cão ou gato fique alojado em um
espaço individual. A Prefeitura não dispõe de alojamento
nestas condições.
A
enfermeira sanitarista Salma Balista, coordenadora da
Coordenadoria de Vigilância e Saúde Ambiental (Covisa) da
Prefeitura, afirma que, pela gravidade da situação, todo
animal encontrado solto na área deve ser apreendido e
eutanasiado como estabelece a norma do Ministério da Saúde.
No entanto, segundo ela, antes de encaminhá-los para a
eutanásia, a Prefeitura em parceria com a União Protetora
dos Animais (UPA) vai tentar viabilizar um local para abrigá-los.
A decisão deve sair em uma semana.
"Por
enquanto ainda não podemos divulgar o local - nome da
empresa - porque não terminamos as negociações. Se a
resposta for positiva, os animais recolhidos serão mantidos
em observação pelo período preconizado (seis meses). Caso
contrário, teremos que fazer a eutanásia", diz Salma.
A
enfermeira explica que a área candidata a receber os
animais precisa passar por uma reforma para ter condições
técnicas e de segurança para não haver risco para outros
animais e para as pessoas.
A raiva é
uma doença fatal que ataca todos os mamíferos. É
transmitida pelo contato de um animal contaminado para outro
mamífero por meio de mordedura, lambedura ou arranhão. De
acordo com o médico veterinário Ricardo Conde Rodrigues,
do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Campinas, é possível
que algum dos animais que vivem soltos no bosque funcione
como um elo de ligação entre o morcego contaminado e um
ser humano ou qualquer outro tipo de animal mamífero.
Ricardo
afirma que antes do animal desenvolver os sintomas não há
como saber se ele está ou não incubando o vírus da raiva.
"Isso só é possível na fase terminal da doença. Então
é provável que haja um gato ou mais incubando o vírus rábico,
sendo assim um potencial transmissor para o humano ou para
outros animais", diz o veterinário.
Desde o início
de 2003, quatro casos de raiva em morcegos foram registrados
no município, sendo dois na área de Barão Geraldo, um na
Região Sul e o caso confirmado há 20 dias no Proença, na
área do Bosque. A Secretaria ainda aguarda o resultado
laboratorial de um outro morcego encontrado também na região
do bosque.
O último
caso de raiva em humano em Campinas foi registrado em 1981.
Em cão, a última ocorrência foi em 82 e, em gato, em
2000. "O controle da doença na cidade só é possível
porque a cada suspeita o município desencadeia todas as ações
de bloqueio. Também mantemos campanha de vacinação anual
gratuita", afirma a médica sanitarista Tereza de Jesus
Martins, coordenadora do Distrito de Saúde Sul.
Equipes da
Zoonoses visitaram 464
endereços da área do bosque em
ação de bloqueio de raiva
Desde 15 de
julho, equipes do CCZ de Campinas vacinaram 144 cães e 30
gatos contra a raiva na área do Bosque dos Jequitibás. Os
profissionais visitaram, durante a ação, 464 residências
localizadas num raio de 500 metros nas imediações da rua
29 de Janeiro, no bairro Proença, Região Leste da cidade.
As equipes
também conversaram com moradores para esclarecê-los quanto
aos riscos da doença e informá-los sobre a necessidade de
proteger seus animais e como proceder se encontrar algum
morcego vivo ou morto.
As providências
foram adotadas após a confirmação da raiva em um morcego
não hematófago no local. O conjunto de medidas,
tecnicamente chamado de bloqueio de foco de raiva, é necessário
para prevenir o surgimento de outros casos da doença.
Cidade
enfrenta epizootia de
raiva animal desde 2000
Segundo a
Secretaria Municipal de Saúde, Campinas enfrenta epizootia
de raiva em herbívoros desde 2000, quando a doença atingiu
animais no Distrito de Joaquim Egídio, na Região Leste da
cidade.
Em 2001, a
doença atingiu também Souzas e a área rural do Taquaral,
quando a Secretaria de Saúde confirmou 30 casos de raiva,
distribuídos entre bovinos, eqüinos e quirópteros -
morcegos. Em 2002, foram 27 casos, sendo três em morcegos e
o restante em bois e cavalos. Este ano, já foram
confirmados quatro casos, todos em morcegos.
De acordo
com a médica veterinária Jeanette Trigo Nasser,
coordenadora do CCZ de Campinas, a ocorrência da raiva em
animais que convivem próximos ao ser humano aumenta a
possibilidade da doença, sempre fatal, atingir o homem.
"Por
isso, é importante que as pessoas informem o Centro de Saúde,
o CCZ ou, se a ocorrência for na área rural, o Escritório
de Defesa Agropecuária (EDA) se algum animal morrer com
suspeita de raiva ou por outro motivo desconhecido",
diz.
Segundo
Jeanette, o controle da raiva dos herbívoros deve ser feito
por meio de vacinação dos rebanhos e do controle da população
de morcegos. A vacinação em animais de grande porte é de
responsabilidade do proprietário. Em áreas onde ocorre
epizootia a revacinação é obrigatória e deve ser feita a
cada seis meses.
"Outra
medida importante no controle da raiva é a vacinação de cães
e gatos", afirma. A veterinária informa que, em
Campinas, a Prefeitura promove campanha de vacinação
contra a raiva para estes animais todo ano. Além disso, o
Centro de Controle de Zoonoses mantém a vacinação o ano
inteiro. As doses são gratuitas.
Jeanette
afirma que também é importante que a população contribua
para diminuir o número de animais abandonados que
perambulam pelas ruas da cidade e evite crias indesejáveis.
"As crias podem ser evitadas prendendo a fêmea no cio
ou por meio da castração", finaliza.
Confira as
datas da Campanha de vacinação contra a raiva animal em
Campinas:
13 e 14 de
setembro: região Noroeste
20 e 21 de setembro: região Sul
27 e 28 de setembro: região Sudoeste
4 e 5 de outubro: região Leste
18 e 19 de outubro: região Norte