Dona
Julieta, 93 anos, mantém vivos na lembrança os doze anos que
morou dentro de uma manilha de esgoto. Hoje, no aconchego de
sua pequena casa de três cômodos, instalada no Jardim das
Roseiras, parece não guardar ressentimentos nem mágoas
daquele tempo em vivia à margem da civilização.
Ela foi
descoberta vivendo naquelas condições pelos agentes de saúde
do Paidéia, que também tiveram a colaboração dos moradores
do bairro. Para quem duvidar de sua história, dona Julieta
guarda a velha manilha nos fundos de sua casa.
"Quando
descobrimos aquele ser humano vivendo naquelas condições,
praticamente ao relento, a vontade de reverter aquela situação
tomou conta de todos", relata
Míriam Cristina Godoy de Crescenzo, enfermeira sanitarista e
coordenadora do Centro de Saúde da Vila Perseu Leite de
Barros, na Região Noroeste de Campinas.
A enfermeira
conta que dona Julieta relutou muito em atender a equipe do
Paidéia. Foi por meio do contato e interferência de uma
integrante do Conselho Local de Saúde que a equipe conseguiu
conquistar a confiança da mulher.
A enfermeira
Míriam Cristina relata que o pessoal do Paidéia, depois de
uma exaustiva investigação, descobriu que dona Julieta
trabalhou por 42 anos como cozinheira para um casal de
estrangeiros em uma residência no bairro Nova Campinas.
O marido de
dona Julieta, hoje já falecido, era motorista nessa residência.
Com a morte dos donos da casa e, depois, de seu marido, a
velha cozinheira acabou indo parar, literalmente, no olho da
rua. Daí sua opção em ir morar dentro de uma manilha.
Casos como o
da dona Julieta são raros. De qualquer forma, ilustram a
filosofia do Paidéia, que é ouvir as queixas e identificar
as necessidades de cada cidadão. "Só assim
conseguiremos implantar um atendimento humanizado, que consiga
acolher cada um de maneira singular, única e, desta forma,
conseguir intervir no sentido de resgatar e valorizar a vida,
como no caso de dona Julieta, e promover a saúde",
conclui a enfermeira.