A última
segunda-feira, 15 de agosto, foi uma data especial
para um grupo de pessoas que participa, no Centro de
Saúde (CS) Prefeito Antônio da Costa Santos, no
Jardim Conceição, região Leste de Campinas, de um
projeto terapêutico para se manter longe do vício do
álcool. O grupo inaugurou uma horta comunitária.
Para marcar a ocasião, pacientes, familiares e equipe
de saúde promoveram uma grande festa.
"A
horta comunitária é mais uma etapa do tratamento e
tem como objetivo a reabilitação e reinserção
social dos pacientes", diz a psicóloga Raquel
Pardo Policastro, que integra a equipe
multidisciplinar que acompanha o grupo. Segundo
Raquel, o grupo, formado atualmente por oito pessoas,
foi constituído há dez meses e tem apresentado bons
resultados, tanto que foi possível esta nova etapa do
trabalho.
A
dentista Maria Cristina Cerávolo, que também integra
a equipe multidisciplinar de assistência ao grupo,
afirma que a expectativa é reduzir danos à saúde
destas pessoas. "E a única condição é que os
pacientes venham para as atividades sem estarem
alcoolizados", diz. Cristina informa que, até
então, as atividades eram realizadas uma vez por
semana. Agora, com a horta, eles precisam vir ao
Centro de Saúde – a horta fica no quintal da
unidade - todos os dias para cuidar das plantas",
afirma.
Para
viabilizar a horta, o CS contou com a parceria da
Ceasa, que disponibilizou um agrônomo para orientar o
grupo e forneceu as sementes. O objetivo, futuramente,
é que os participantes possam vender os produtos,
todos orgânicos, e que a renda seja revertida para
aumentar a produção e para a geração de renda dos
próprios pacientes.
Para
Domingos Carlos Almeida Pinto, um dos participantes do
grupo, a horta é mais um estímulo na luta para se
manter em abstinência. "Vem como um algo a mais
para mostrar que estamos conseguindo", afirma.
Segundo
Domingos, que tem 42 anos, quando ele começou a ser
acompanhado pela equipe do CS Conceição, costumava
faltar às atividades. "Hoje, o compromisso é
outro. Venho todos os dias, me visto melhor, me cuido
melhor. Já estou há um bom tempo sem beber e tenho
mais saúde. Além disso, existe uma ligação entre nós,
pacientes, e a equipe. Um dá força para o outro. É
muito bom", diz.
O
pintor Devair Teles Ferreira, de 63 anos, também freqüenta
o grupo e descreve sua atual condição de abstinência
como "uma grande satisfação". Ele afirma
estar bem feliz. "É como recuperar algo que
havia perdido. Hoje as pessoas me respeitam. E a horta
é mais um incentivo para me manter assim", diz.
A
terapeuta ocupacional Patrícia Cardozo, também da
equipe multidisciplinar, diz que existe um cuidado da
equipe em dar espaço para as aptidões dos
integrantes do grupo e afirma que o projeto da horta
comunitária foi escolhido estrategicamente. Nesta
mesma diretriz, são exploradas as aptidões para música,
desenho entre outras. "E, para ampliar o universo
cultural destas pessoas e explorar estas
potencialidades, promovemos com freqüência visitas a
museus e a outros locais públicos", informa.
A médica
generalista Renata Prado, que também é da equipe
multidisciplinar que acompanha o grupo, afirma que a
magnitude do problema do uso de drogas, verificada nas
últimas décadas, ganhou proporções tão graves que
hoje é um desafio da saúde pública no país. Além
disso, este contexto também é refletido nos demais
segmentos da sociedade por sua relação comprovada
com os agravos sociais, tais como: acidentes de trânsito
e de trabalho, violência domiciliar e crescimento da
criminalidade.
"Ciente
deste fato e dentro da nossa realidade que apontava vários
pacientes usuários de álcool, definimos este projeto
terapêutico e a horta surgiu dentro desta proposta e
para dar ênfase à reabilitação e reinserção
social", diz.
A
equipe de saúde do CS Conceição ressalta que, para
viabilizar o projeto da horta comunitária, foi
fundamental o apoio da supervisora de controle
ambiental Sandra Regina Deório Venturato, do Distrito
de Saúde Leste, e da Ceasa. A equipe lembra, ainda,
que o projeto terapêutico inclui apoio aos familiares
dos alcoolistas.
Denize
Assis