Saúde notifica morcego com raiva em escola e inicia vacinação de todos os alunos

01/08/2008

Autor: Denize Assis

A Secretaria de Saúde de Campinas, por meio da Vigilância em Saúde (Visa) Sudoeste, do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) e do Centro de Saúde Dic 1, com apoio da Secretaria Municipal de Educação, iniciou nesta sexta-feira, dia 1º de agosto, vacinação com esquema pós-exposição contra a raiva em alunos de uma escola de ensino infantil na região sudoeste da cidade.

São aproximadamente 70 crianças de 3 a 5 anos que poderiam ter tido contato com um morcego não-hematófago – que não se alimenta de sangue - , infectado com o vírus da raiva, encontrado no pátio da escola na hora do intervalo. O fato ocorreu no dia 3 de julho. Eles vão receber um esquema com cinco doses da vacina até o dia 28 de agosto.

No mesmo dia em que o morcego foi encontrado pelos alunos, a direção da escola entrou em contato com o CCZ, que enviou uma equipe ao local. Os técnicos recolheram o exemplar e o encaminharam ao Instituto Pasteur de São Paulo - referência estadual para o controle da raiva -, que confirmou, no final de julho, que o animal estava com a doença. Na ocasião, a equipe do CCZ informou sobre medidas de controle em relação à população de morcegos e orientou sobre riscos do contato com este tipo de animal.

“Apesar da direção da escola informar que nenhum aluno teve exposição – ninguém tocou no animal -, a Secretaria de Saúde, com respaldo do Instituto Pasteur, optou por tomar a medida cuidadosa de promover a vacinação de todas as crianças. A vacina utilizada é a de cultivo celular. O esquema completo de vacinação inclui cinco doses e é essencial que todas sejam aplicadas para eficácia do tratamento”, informa a médica veterinária Andréa Von Zuben, da Coordenadoria de Vigilância em Saúde de Campinas.

O médico veterinário Cláudio Luiz Castagna, da Visa Sudoeste, informa que o início do esquema de vacinação transcorreu de forma tranqüila. Antes do procedimento, houve uma palestra para os pais, que puderam esclarecer dúvidas. “Foram vacinadas 59 crianças e faltaram 11, que estarão sendo vacinadas no Centro de Saúde Dic 1”, diz Cláudio.

O médico veterinário recomenda que as pessoas nunca tenham contato com morcego, vivo ou morto. “É muito importante que todos tenham consciência de que contato com morcego significa risco. O morcego caído pode estar infectado com o vírus da raiva e transmitir a doença ao homem. Ao encontrar um exemplar deste animal, a pessoa deve entrar em contato com o Centro de Controle de Zoonoses para que seja recolhido e examinado. Nunca deve-se colocar a mão ou tocar num morcego”, diz.

Segundo ele, a transmissão ocorre quando o vírus da raiva existente na saliva do animal infectado penetra no organismo, através da pele ou mucosas. No caso do morcego, ele tem o hábito de se lamber. Assim, espalha a saliva pelo corpo e, o homem, ao tocar o animal infectado, corre o risco de contrair a doença.

Saiba mais. A raiva é uma doença que acomete todas as espécies de mamíferos e que pode ser transmitida aos homens sendo, portanto, uma zoonose. É causada por um vírus mortal, tanto para os homens quanto para os animais, e é uma das doenças mais antigas da humanidade, havendo relatos desde o século 24 antes de Cristo.

A principal forma de transmissão da raiva é pelo depósito de saliva contendo o vírus rábico em pele ou mucosa por meio de mordedura, arranhadura e lambedura. No meio urbano, o principal transmissor da doença para o homem é o cão – cerca de 80% dos casos -, seguido do gato. O Brasil é o país com o maior número de casos de raiva humana na América Latina.

Situação em Campinas. Apesar de Campinas ser considerada como área de raiva controlada – os últimos casos em humano e em cão ocorreram no início da década de 80 -, o município voltou a registrar casos em morcegos não hematófagos em 1998, um caso em gato 1999, e casos em herbívoros – bois, cavalos entre outros – em 2000, na área de Joaquim Egídeo, na Região Leste, tendo a doença avançado, em 2001 e 2002, para outros bairros.

Com um intenso trabalho que incluiu reforço nas estratégias de vigilância epidemiológica, mapeamento das colônias de morcegos hematófagos e ações de educação em saúde, os casos em herbívoros cessaram e, a partir de 2003, têm sido registradas ocorrências somente em morcegos não hematófagos – frugívoros e insetívoros - em áreas da Região Norte, como Barão Geraldo, e ainda na Leste, no Centro da cidade, e Sul. Este foi o primeiro caso no região Sudoeste nos últimos 20 anos.

Segundo a Vigilância em Saúde da Prefeitura, a ocorrência desta doença em animais de grande porte e em morcegos não hematófagos aumenta o risco de este agravo voltar a atingir humanos. Esta situação demanda um intenso trabalho de vigilância epidemiológica, altas coberturas vacinais de cães e gatos e ações de educação em saúde e mobilização social. É com esta diretriz que a Secretaria de Saúde realiza as campanhas anuais de vacinação. Este ano, a vacinação de cães e gatos ocorre nos dias 13 e 14 de setembro, nas regiões norte, noroeste e sudoeste e, nos dias 20 e 21 de setembro, nas regiões sul e leste.

Todos os animais devem ser vacinados. A dose é gratuita. A meta em 2008 é vacinar mais de 120 mil animais.

Pré-exposição.O protocolo da raiva também recomenda tratamento profilático pré-exposição, realizado com vacinas, que está indicado para grupos de alto risco de exposição ao vírus da raiva, entre os quais: veterinários, vacinadores, laçadores e treinadores de cães, profissionais de laboratório que trabalham com o vírus da raiva, professores e alunos que trabalham com animais potencialmente infectados com o vírus da raiva, espeleólogos, tratadores e treinadores de animais domésticos de interesse econômico (eqüideos, bovídeos, caprinos, ovinos e suínos) potencialmente infectados com o vírus da raiva.

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