Campinas reduz desigualdade na utilização dos serviços e amplia acesso à saúde

19/08/2008

Autor: Denize Assis

Constatação está no livro As dimensões da saúde – Inquérito populacional em Campinas lançado hoje

Campinas avançou nos últimos anos em relação ao acesso à saúde. O município reduziu a desigualdade na utilização dos serviços de saúde e possibilitou maior eqüidade no acesso aos tratamentos, medicamentos, pré-natal e outros. A conclusão está no livro As dimensões da saúde – Inquérito populacional em Campinas lançado oficialmente nesta segunda-feira, dia 18 de agosto, na Sala Azul da Prefeitura Municipal.

O livro deriva do inquérito multicêntrico de saúde (Projeto ISA-SP), realizado em alguns municípios do estado de São Paulo por pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública e Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, da Faculdade de Medicina da Unesp-Botucatu e do Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

Trata-se do 1º grande inquérito de saúde realizado em Campinas. Foram visitados 4.717 domicílios e entrevistados 1.585 campineiros em diferentes faixas etárias. A pesquisa foi financiada pela Fapesp e Secretaria de Estado da Saúde e tem apoio da Secretaria Municipal de Saúde.

“Os dados encontrados mostram o quanto Campinas avançou no acesso aos serviços de saúde. Não há diferença entre os grupos de maior ou menor escolaridade ou entre as pessoas das diversas situações sócio-econômica”, informou a professora e doutora Marilisa Berti de Azevedo Barros, do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

No entanto, segundo Marilisa, ainda persiste a desigualdade em relação à situação sócio-econômica quanto ao comportamento social. O consumo e dependência do fumo e do álcool é maior entre as pessoas de baixa escolaridade, assim como a prática de atividade física é menor e a qualidade da dieta é inferior em comparação às camadas que freqüentaram mais a escola e têm melhor situação econômica.

“O comportamento hoje inadequado pra saúde significa, em pouco tempo, maior morbidade e maior mortalidade. Portanto, significa a persistência das desigualdades sociais no campo da saúde. E, para inverter isto, o que nós precisamos é de promoção da saúde. Política de saúde que não somente dê acesso, mas que realmente consiga modificar a forma das pessoas viverem, uma forma mais saudável que, conseqüentemente, vai reduzir a morbidade e a mortalidade”, disse.

Marilisa participou da mesa de lançamento do livro. Também estavam presentes no evento a médica sanitarista Solange Mattos Almeida, da Secretaria Municipal de Saúde; o secretário de Saúde de Campinas, José Francisco Kerr Saraiva; o professor Chester Luiz Galvão César, diretor da Faculdade de Saúde Pública da USP e também um dos organizadores do livro e do Inquérito ISA; e o prefeito de Campinas dr. Hélio de Oliveira Santos.

“Este é um momento histórico. Trata-se da entrega à comunidade de dois importantes documentos: o livro que compila os resultados do inquérito, um documento elaborado a partir de rigorosos critérios pelas universidades que o legitimam em relação à credibilidade, e o Boletim de Mortalidade n º 41 – Mortalidade Infantil. Os resultados mostram que avançamos e também apontam que temos que ser enfáticos nas campanhas de prevenção. E essas campanhas não podem ser pontuais. Devem ser perenes, durante trabalhos que façamos o ano todo”, disse o secretário de Saúde.

Ele ressaltou os resultados que apontam 60% mais consumo de tabaco entre as pessoas de baixa escolaridade e o consumo 4 vezes maior de álcool entre a população negra. Também destacou que 80% da população não pratica exercícios e que 95% das dietas são impróprias ou poderiam ser melhoradas.

“Vinte e dois por cento da nossa população é hipertensa, sendo que este índice é maior entre as pessoas com menos de quatro anos de escolaridade – 29%. Estas informações explicam as milhares de mortes por doenças cardiovasculares todos os anos. E apontam a necessidade de sermos mais agressivos nas nossas políticas de prevenção”, afirmou. E completou: “Nós estamos planejando uma atividade física diária para nossos idosos a partir de ações nos centros de saúde e nós devemos também partir para a agressividade nas escolas na questão da atividade física e orientação dietética”.

O professor Chester, presente à mesa, disse que os inquéritos constituem na melhor interface entre a epidemiologia e outros setores da saúde e permitem a integração entre as áreas, o que é de grande importância para gestores e trabalhadores da saúde. Ele informou que Campinas está promovendo agora o 2º inquérito, o que vai permitir mapear, avaliar e monitorar as situações de saúde e planejar melhor as políticas para o setor. “Estes estudos também têm impacto acadêmico importante”, ressaltou.

Além de Campinas, o inquérito multicêntrico de saúde, incluiu a cidade de Botucatu e uma área formada pelos municípios de Taboão da Serra, Embu e Itapecerica da Serra e o Distrito de Saúde de Butantã, situado no município de São Paulo. O inquérito foi realizado entre os anos de 2001-2002.

Mortalidade Infantil. A Secretaria de Saúde de Campinas aproveitou a oportunidade do lançamento do livro para divulgar também o Boletim nº 41 de Mortalidade Infantil, elaborado recentemente. O documento aponta mortalidade infantil de 10 por mil em Campinas para o período 2006-2007, taxa inferior à maior parte encontrada nos municípios brasileiros e também nos paulistas.

Solange afirmou que a taxa de mortalidade infantil tem uma importante relação com a questão da idade – a taxa é maior entre as mulheres com mais de 40 anos -, da raça - é maior entre os filhos das mulheres negras – e com a escolaridade – também aumenta nas camadas que freqüentaram menos a escola e nas famílias com menor renda do chefe da casa.

O boletim foi elaborado em conjunto pela Secretaria de Saúde de Campinas e Centro Colaborador em Análise de Situação de Saúde do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

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