Ação contra leishmaniose visceral na região leste atingiu 180 imóveis e 226 cães

01/09/2011

Autor: Denize Assis

Mais de cento e oitenta imóveis foram visitados pelas equipes da Secretaria Municipal de Saúde e 226 cães receberam microchips e coleiras em ação de prevenção e controle da leishmaniose visceral (LV) em um condomínio na região leste de Campinas, entre quinta-feira, dia 1º, e sábado, dia 3 de setembro.

No local, entre Sousas e Joaquim Egídio, existe um foco da doença em cães. O primeiro caso foi registrado no final de 2009 e, desde então, houve confirmação de 15 cães soropositivos. Este é o primeiro e único foco autóctone de LV canina registrado no município. Não há casos autóctones registrados em humanos.

Esta ação compõe uma série de atividades que vêem sendo desencadeadas no condomínio desde que o surto foi identificado. O objetivo principal é evitar casos humanos e conter a expansão da área geográfica de transmissão canina.

Além de receberem coleiras repelentes e inseticidas (com deltametrina a 4%) e microchips de identificação, os cães tiveram amostras de sangue coletadas para inquérito sorológico. Realizado a cada seis meses, o inquérito aponta a prevalência da doença, ou seja: mostra qual a porcentagem de cães infectados e se a doença tem avançado. Os técnicos da saúde ainda promoveram ações de comunicação, educação e mobilização social.

Os trabalhos foram promovidos por dez equipes compostas, cada uma, por um médico veterinário e três auxiliares. A ação ocorreu sob coordenação da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), em parceria com o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) e Vigilância em Saúde Leste. Contou com apoio dos Centros de Saúde de Sousas e de Joaquim Egídio, das Vigilâncias em Saúde e Distritos de Saúde e com o protagonismo de todos os médicos veterinários da Secretaria de Saúde.

“A receptividade da comunidade foi muito boa. Os moradores acolheram as equipes, autorizaram as atividades e se comprometeram a fazer a guarda responsável dos animais, inclusive acionando o CCZ no caso de perda da coleira”, informou a médica veterinária Andrea Von Zuben, da Covisa, coordenadora municipal do Programa de Controle e Prevenção da Leishmaniose Visceral.

Andrea von Zuben afirmou que a principal dúvida foi sobre o microchip que, segundo explicou a veterinária, é do tamanho aproximado de um grão de arroz e é constituído de material que não causa nenhum dano ao animal. O produto possui um código que é identificado por um aparelho de leitura eletrônica.

As coleiras serão fornecidas gratuitamente – pelo Sistema Único de Saúde (SUS) - durante dois anos, com troca a cada quatro meses. Por isso, foram retiradas e devolvidas as coleiras adquiridas pelos proprietários que já estavam em uso.

O objetivo foi padronizar com encoleiramento de todos os animais ao mesmo tempo. A partir de agora, a Vigilância em Saúde vai monitorar a situação para ver se a meta de prevenir a doença em humanos e conter a expansão entre os cães está sendo alcançada.

O uso da coleira é uma medida que, embora não esteja prevista nos Programas Nacional e Estadual da Leishmaniose Visceral como medida de saúde pública, está confirmada como eficaz na prevenção e controle da doença entre os cães. O ideal é que a cobertura seja de 100%.

Sobre a doença. A LV é uma zoonose que pode afetar o homem, transformando-se em antropozoonose. É transmitida pelo mosquito Lutzomyia longipalpis também conhecido como ‘mosquito palha’ ou ‘birigui’. O mosquito pica o animal infectado e, ao picar o homem, transmite a doença. Pode levar à morte, se não tratada. No Brasil, são registrados mais de duzentos óbitos em humanos por ano. Aproximadamente 58% dos casos são em crianças e os homens são mais afetados, com 61% das ocorrências. A letalidade é de 6,3%.

Esta doença é considerada um grave problema de saúde pública. É de notificação compulsória, o que significa que as ocorrências têm que ser informadas às autoridades sanitárias rapidamente.

Segundo o médico infectologista Rodrigo Angerami, da Covisa de Campinas, na grande maioria dos municípios brasileiros nos quais a doença se tornou endêmica, a ocorrência de cães infectados geralmente precedeu a ocorrência de casos humanos.

“Os cães infectados, sem a menor dúvida, se constituem um elemento fundamental na cadeia de transmissão. Por esse motivo, este primeiro foco autóctone em Campinas merece atenção especial”, diz. Entretanto, a identificação do cão infectado não implica, necessariamente, no início da transmissão entre humanos.

As investigações e acompanhamento deste primeiro foco em Campinas contam com a parceria da Secretaria de Estado da Saúde, por meio da Superintendência do Controle de Endemias (Sucen), Instituto Adolfo Lutz e Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE).

A leishmaniose visceral tem tratamento em humanos. No entanto, no cão, o tratamento não está indicado porque representa risco para a saúde pública. A proibição do tratamento canino está indicada na Portaria IM nº 1.426 (2008) que regulamenta o Decreto nº 51.838 (1963), dos Ministérios da Saúde e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

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