Saúde amplia rede de cuidados aos usuários de crack, álcool e outras drogas

20/10/2011

Autor: Denize Assis

A Secretaria de Saúde de Campinas vai ampliar o acesso e qualificar a rede de cuidados aos usuários de álcool e drogas com a inauguração de mais quatro equipamentos: um Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Álcool e Drogas (ad), na região Noroeste da cidade; um Caps Infantil (Caps I), na região Sudoeste; um Consultório de Rua; e uma Casa de Passagem, ligada ao Caps ad Independência, na região sul. Além disso, vai abrir oito leitos no Caps ad Reviver, na região Leste, o que vai habilitá-lo a ser um CAPS ad III, que funciona 24 horas durante todos os dias da semana.

A ampliação do acesso e a qualificação do cuidado atendem as diretrizes da Política Nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde e da Política Nacional sobre Drogas e reafirmam a condição de Campinas como pioneira a atender à Reforma Psiquiátrica (lei 10.216/2001) e como referência nacional na área de Saúde Mental. Além disso, apontam que o município entende as questões de álcool e outras drogas também como problema de saúde pública e como prioridade no atual governo.

“A rede de prevenção, promoção e tratamento dos riscos e danos associados ao consumo de álcool, crack e outras drogas é prioridade na agenda da Administração Municipal e da Saúde, que segue as diretrizes da Política Nacional de Álcool e Drogas do Ministério da Saúde e o que é preconizado pela Organização Mundial de Saúde. Nossas ações contam com a parceria importante do Serviço de Saúde Cândido Ferreira e incluem ampliação do acesso, qualificação dos profissionais, articulação intra e intersetorial e promoção da saúde, dos direitos e enfrentamento do estigma”, diz o secretário municipal de Saúde, José Francisco Kerr Saraiva.

Segundo o secretário, atualmente são investidos R$ 40 milhões por ano na Política de Saúde Mental. “Trata-se de um programa que tem alto custo, mas é imprescindível e urgente”, diz.

José Francisco Saraiva afirma que o enfrentamento dessa questão exige a união de esforços dos diferentes setores envolvidos e a destinação de investimentos para projetos integrados. As áreas envolvidas são as da Saúde, Assistência Social, Educação, Comunicação, Segurança Pública, Poder Judiciário, Trabalho, Cultura, Esportes e Planejamento. “É neste sentido que a Prefeitura e a Secretaria de Saúde têm trabalhado”, disse.

A coordenadora municipal da área técnica de Saúde Mental, Carla Machado, chama a atenção para a questão da internação. Segundo ela, a internação como estratégia de proteção, cuidado e tratamento deve ser compreendida como parte integrante da rede de cuidados, pois ela, por si só, não garante a efetividade de todas as questões que envolvem a reabilitação social.

“A internação tem sido apontada, de forma equivocada, por diferentes setores da sociedade como solução. Porém, a internação é parte de uma complexa rede de cuidados em diferentes níveis de atenção. Trata-se de uma proposta temporária, provisória e que, por si só, não garante a integralidade do cuidado, nem a eficácia do tratamento após a internação”, diz.

Segundo Carla, outro equívoco é atribuir ao setor saúde a responsabilidade sobre a solução do problema. Outra tendência, também equivocada, é cobrar abordagens imediatistas e repressivas. “Trabalhamos na perspectiva da prevenção”, afirma.

A estimativa do Ministério da Saúde é que transtornos psiquiátricos graves decorrentes do uso de álcool e outras drogas (exceto tabaco) atingem pelo menos 10% da população acima de 12 anos, sendo o impacto do álcool dez vezes maior que o do conjunto das drogas ilícitas.

A família da dona de casa Zair Lugato, de 68 anos, compõe a estatística da população que enfrenta a questão das drogas. Ela conta que sua filha Luciana, de 43 anos, começou a usar drogas por volta dos 20 anos e viveu durante mais de duas décadas com dependência de várias substâncias, inclusive o crack. Chegou até a morar na rua durante um ano e meio, na cidade de São Paulo.

Em abril de 2010, Luciana foi resgatada da rua entre a vida e a morte e trazida para Campinas. Depois de um tempo internada no Hospital Ouro Verde, por conta de estar com a saúde muito debilitada, a filha de dona Zair voltou a morar com a mãe e passou a fazer acompanhamento no Caps ad Independência, na região sul de Campinas.

“O trabalho do Caps, com toda sua equipe com assistente social, médico, psicólogos, enfermeiros é muito bom. São profissionais generosos. Eles realizam um atendimento importante não só para o paciente, mas para toda a família que também precisa de apoio. Com eles aprendi a lidar com a situação que sei que é para sempre. Hoje minha filha está bem, não está usando drogas e é uma excelente companheira”, afirma.

Dona Zair foi informada pela reportagem da inauguração do Caps Noroeste e ficou feliz ao saber que mais uma porta vai se abrir, ainda mais sendo perto da sua casa. Ela mora no Jardim Garcia. “Com a abertura de mais este Caps ad, o acesso fica mais fácil. Não só para minha família, que já está em tratamento, mas para tantos outros que necessitam desta ajuda”, diz.

Caps AD Noroeste.

O novo Caps ad Noroeste, com previsão para ser inaugurado até o final de 2011, será referência para bairros das regiões Noroeste e Sudoeste da cidade, onde concentram populações com grande vulnerabilidade social e de demanda de usuários com problemas ligados ao uso abusivo e dependência de álcool e outras drogas.

Este será o terceiro Caps ad no município. Atualmente, já funcionam um na região Sul, o Caps ad Independência, e outro na leste, o Caps ad Reviver. A meta do município é ter cinco Caps ad, um em cada Distrito de Saúde.

O Caps ad é um serviço de saúde mental que acolhe e presta acompanhamento a cidadãos adultos que sofrem com transtornos por uso abusivo e dependência de álcool e outras drogas. O atendimento é feito por uma equipe multidisciplinar composta por médico psiquiatra, enfermeiro com formação em saúde mental, médico clínico, terapeuta ocupacional, psicólogo e assistente social, auxiliares de enfermagem e outros.

Como todos os Caps, o Caps ad oferece atenção diária e trabalha integrado às equipes dos Centros de Saúde de suas regiões e de forma que toda a rede se responsabiliza pelo enfrentamento ao uso de álcool e outras drogas, condição que amplia a atenção em saúde para além da medicalização do sofrimento psíquico.

Os Caps contam com retaguarda hospitalar geral e especializada na rede do município para os momentos em que os usuários necessitam e demandam espontaneamente tratamento intensivo.

Caps I.

O Caps I será inaugurado na região Sudoeste de Campinas até o final do mês de outubro. A data prevista é dia 29. Trata-se de um serviço de saúde mental destinado a prestar acompanhamento, por equipe interdisciplinar, a crianças e adolescentes com grau de vulnerabilidade social que apresentem sofrimento psíquico relacionados a transtornos mentais graves e persistentes, inclusive relacionados ao uso ou abuso de álcool ou outras drogas.

Consultório de Rua.

O Consultório de Rua consiste numa unidade móvel, um veículo grande como um ônibus, que vai percorrer as ruas com uma equipe estruturada nos moldes da Equipe de Saúde da Família, no caso uma equipe ampliada composta por médicos generalistas, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, redutores de danos, psicólogos e assistentes sociais.

Nos vários bairros de Campinas, os moradores têm como referência uma unidade básica de saúde, que é diferente dependendo do endereço da sua residência. No novo projeto, o serviço irá até o lugar de moradia do usuário, considerando que a população de rua tem dificuldade de vínculo com a unidade de saúde.

Casa de Acolhimento Transitório.

A Casa de Acolhimento Transitório consiste em um espaço terapêutico de transição e de proteção onde os usuários da rede de atenção psicossocial em tratamento para transtornos relacionados ao uso de droga podem permanecer por um período entre 30 e 40 dias.

A proposta desta casa é de intervenção breve ou de impulsionar o início de um tratamento protegido das drogas, de curto a médio prazos, que respeite o contexto cultural, social e familiar do usuário, sua capacidade de adesão, ou seu desejo de interromper ou apenas reduzir seu contato com álcool e droga.

Isto significa que, nesta casa, a pessoa pode reestruturar sua vida em um ambiente acolhedor e urbano para iniciar a construção de um projeto terapêutico maior e ser seguido nos Caps ad. Portanto, a gestão dessa casa vai estar sempre ligada a um Caps ad – que continua fazendo o atendimento ao paciente. Desta forma, como Campinas tem dois Caps ad e vai inaugurar mais um, o objetivo, neste primeiro momento, é ter três casas, sendo a primeira na gestão do Caps ad Independência, na região sul, e em um segundo momento ampliar para os outros dois Caps ad.

Por tratar-se de um dispositivo de acolhimento 24 horas e de caráter intersetorial, a equipe de cada casa será composta por oito monitores ou acompanhantes terapêuticos.

A rede.

Atualmente, a rede de saúde mental para álcool e drogas em Campinas é composta dos seguintes equipamentos:

Dois Caps ad, dois Caps i, leitos de internação psiquiátrica em hospital geral, unidade de internação em saúde mental, 11 Centros de Convivência, Oficinas e Núcleos de Geração de Renda, Escola de Redução de Danos e equipes de saúde mental em unidades básicas de saúde.

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