A Secretaria de Saúde
de Campinas deu início nesta quarta-feira, 4 de novembro, à
coleta das amostras de sangue das pessoas que estiveram mais
expostas à contaminação ambiental do loteamento Mansões
Santo Antônio, no bairro Santa Cândida, na região Leste de
Campinas. As amostras foram enviadas para análises no Laboratório
Municipal de Campinas. Também serão feitos exames de urina.
Este é o
primeiro passo da avaliação das condições de saúde das
pessoas que estiveram mais expostas à contaminação ambiental
daquela área, que são cidadãos que moram nas chácaras das
proximidades há mais de 10 anos. A próxima etapa será em 13
de novembro, quando eles passarão por avaliação clínica.
A investigação
clínico-epidemiológica deve apontar se a contaminação
comprometeu as funções renal e hepática destas pessoas. O rim
e o fígado são os órgãos que podem apresentar seqüelas em
caso de contaminação pelas substâncias que foram manipuladas
naquela área por mais de 20 anos. Esta população será
acompanhada pela Secretaria de Saúde por muitos anos, já que a
contaminação pode ter efeito a longo prazo.
Além dos cidadãos
que moram na área há mais de 10 anos e que consumiram água
que provém do solo, também serão investigados trabalhadores
que atuaram no local em obras da Concima na remoção de solo.
Os estudos também
dependem de uma avaliação comparativa com outro grupo de
pessoas, com características semelhantes, que não estiveram em
contato com aquelas substâncias. Esta metodologia é necessária
para que as conclusões possam ser tecnicamente embasadas.
Neste primeiro
momento, 23 pessoas compareceram ao Centro de Saúde Taquaral
para fazer a coleta. Antes, porém, elas foram esclarecidas
sobre todos os procedimentos a serem adotados e sobre os motivos
que indicam a necessidade da investigação.
O atendimento
está sendo realizado pelos profissionais do Centro de Saúde
Taquaral e da Vigilância Ambiental de Campinas. Foram
disponibilizados quatro médicos e toda infra-estrutura do
Centro de Saúde. O Hospital Municipal Mário Gatti também
disponibilizou dois oncologistas para, se necessário, também
avaliarem as pessoas.
A avaliação
clínico-epidemiológica deste primeiro grupo de pessoas servirá
como referencial para a continuidade dos trabalhos da Secretaria
de Saúde. Dependendo dos resultados apontados, o restante da
população que mora na área de influência da contaminação
também será submetida à investigação clínico-epidemiológica.
No levantamento preliminar da Prefeitura, este público é
constituído por 1.000 pessoas, contando os trabalhadores da
Concima e da Gardênia.
O procedimento
adotado para a investigação foi definido em conjunto por
profissionais do CRST (Centro de Referência em Saúde do
Trabalhador), Distrito de Saúde Leste e Vigilância Leste,
Centro de Saúde Taquaral e Vigilância Ambiental e teve
assessoria da Secretaria de Estado da Saúde e da Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas).
PARA ENTENDER O
CASO DAS MANSÕES SANTO ANTÔNIO
No período entre 1976 a 1996, na Rua Hermantino Coelho, 908, no
bairro Mansões Santo Antônio, funcionou a Proquima Produtos Químicos
Ltda.
A Proquima trabalhava na recuperação de solventes, a partir de
resíduos industriais ou solventes contaminados, além da
fabricação de produtos de limpeza.
A Proquima, até o ano de 1990, recebeu treze penalidades de
advertência e cinco multas, o que culminou em sua interdição
em 25 de julho de 1990.
A interdição foi suspensa por força de uma liminar concedida
pelo Juiz de Direito da 8ª Vara Cível da Comarca de Campinas,
medida que permitiu o funcionamento da empresa até 7 de abril
de 1995.
Em abril de 1995 foi assinado um termo de compromisso com o
Poder Judiciário para a desativação da empresa em um prazo de
18 meses.
Em outubro de 1996 a Proquima encerrou definitivamente as
atividades no local. Assim a Proquima funcionou por mais de seis
anos depois de sua interdição.
Em 1996 a empresa Concima S/A Construções Civis adquiriu o
terreno da Proquima.
Em 1997 a Concima iniciou a construção de quatro blocos de
apartamento, sendo quatro em cada terreno de 8 mil metros
quadrados, constituindo-se nos empreendimentos Parque Primavera
1 e 2, com a perspectiva de construir outros quatro no terreno
vizinho.
Após iniciar a construção do primeiro empreendimento, a
Concima, em 2001, solicitou no Grapohab (órgão estadual específico
que analisa projetos imobiliários) autorização para iniciar o
segundo empreendimento.
Em agosto de 2001 a Cetesb indeferiu a autorização por se
tratar de área suspeita de contaminação.
Em 25 de outubro de 2001 a Cetesb autuou a Concima por meio do
Auto de Infração (advertência) determinando algumas
providencias: isolar a área, paralisar as obras de
terraplenagem, interromper a venda de apartamentos, avaliar a
quantidade de água de poços, avaliar qualitativamente os
compostos orgânicos voláteis e avaliar os níveis de
explosividade destes compostos.
Atualmente existem três blocos de cinqüenta apartamentos cada
um no terreno do P. Primavera 1, sendo que um dos blocos está
ocupado por 43 famílias e os outros dois em fase de acabamento.
A Secretaria Municipal de Saúde de Campinas recebeu três
informes técnicos da Cetesb, sendo o primeiro em 15 de abril, o
segundo em 28 de maio e o terceiro em 20 de agosto de 2002. No
dia seguinte ao primeiro informe, a Secretaria de Saúde já deu
o pontapé inicial às medidas necessárias. Confira abaixo:
16 de abril
A Secretaria de Saúde reúne-se com a Cetesb para o primeiro
informe técnico e para delimitação de área de investigação.
29 de maio
Reunião com a Cetesb para o segundo informe técnico que
apresentava análise de água de dois poços e de uma nascente.
3 de junho
Lacração dos dois poços e da nascente, com apoio da Concima.
A Concima ainda apresentou ficha de 64 trabalhadores que tiveram
contato direto com o solo contaminado. Foi providenciada ligação
de água da Sanasa em duas casas que utilizavam água de poço.
Também teve início cadastramento dos imóveis localizados na
área de investigação. A Secretaria de Saúde entrega
comunicado à população.
22 de junho
Reunião da Secretaria de Saúde com técnicos da DIR 12 e dos
Centros de Vigilância Sanitária (CVS) e de Vigilância
Epidemiológica (CVE) da Secretaria de Saúde do Estado.
Interdição cautelar de todos os poços e nascentes. A Concima
foi notificada para fornecer relatórios completos apresentados
à Cetesb.
5 de julho
Ofício à Secretaria de Obras solicitando a não autorização
da obra até conclusão das investigações.
10 de julho
Ofício ao reitor da Unicamp solicitando assessoria técnica da
universidade.
22 de agosto
Reunião com CVS e CVE, DIR 12 e Cetesb, quando foi entregue
parecer técnico da Cetesb referente aos laudos da Concima.
26 de agosto
Lacração de um poço profundo localizado na garagem da Gardênia.
2 de setembro
Ofício solicitando a Concima a listagem e endereço dos
compradores dos apartamentos dos dois blocos em fase de conclusão.
Censo da população residente na área de investigação, feito
pelos agentes de saúde do Paidéia.
18 de setembro
Amostragem de ar na garagem do prédio da Concima pelo período
de 1 hora, para detectar indício de algum organoclorado.
23 de setembro
Reunião com a população, às 19h, para esclarecimentos quanto
às providências tomadas até o momento pela Prefeitura e
Campinas e pela Cetesb.
23 de outubro
Início da investigação clínico epidemiológica.
4 de novembro
Coleta das amostras de sangue para exames laboratoriais.