Jovens gays, travestis, trans e bissexuais constroem, em Campinas, zine para prevenção ao hiv/aids e às DSTs, com sua própria linguagem

26/11/2007

Autor: Eli Fernandes

Iniciativa está prevista no Plano de Ações e Metas (PAM) do Programa de DST/Aids (PM-DST/Aids) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Campinas

Projeto de incentivo à prevenção, em Campinas, reúne jovens e adolescentes, entre gays, bissexuais, outros homens que fazem sexo com homens (HSHs) e travestis para produção de um zine confeccionado por eles mesmos e cujo foco é a vulnerabilidade às doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), ao vírus HIV e à aids. A ação se desenvolve no Centro de Referência (CR) do Programa Municipal de DST/Aids (PM-DST/Aids) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da Prefeitura de Campinas.

A primeira edição do zine "Nem Te Conto" é na próxima quinta-feira, dia 29 de novembro de 2007, às 19h, no Centro de Referência do PMDST/Aids (localizado á rua Regente Feijó, número 637, Centro, telefones: 3234 – 5000 e 3236 – 3711). A atividade integra um conjunto de ações relacionadas à celebração do Dia Mundial de Luta Contra a Aids, no sábado, 1º de Dezembro, data reconhecida pelas Organizações das Nações Unidas.

Os jovens puderam participar de todo o processo criação e publicação com a equipe do Centro de Referência do PMDST/Aids e parceiros, da sociedade civil organizada. O resultado é a edição de uma publicação com a linguagem própria dos jovens gays, bissexuais, outros HSHs, travestis e transexuais. Por meio de oficinas e aconselhamento, os jovens e adolescentes discutiram conceitos de vulnerabilidade e comunicação social. Os dois primeiros encontros ocorreram em um final de semana, dias 26 e 27 de maio de 2007.

Eles encontraram-se no Centro de Referência, participaram de atividades em grupo, viram apresentações artísticas relacionadas à diversidade sexual, passaram pela palestra de aconselhamento semelhante a que é oferecida anteriormente à realização do teste de HIV e um bate papo com artistas e profissionais de mídia sobre o zine, um veículo de comunicação que pode ser feito a partir da composição, com recorte, colagem, desenhos e textos, de uma publicação com a cara do grupo. Agora os profissionais e participantes do grupo trabalham na edição do zine.

O formato, derivado dos populares "fãs-zines" (no Brasil) ou fan-zines (em inglês) ficou conhecido a partir da década de 1970, com a cultura não-hegemônica que disseminava, entre outras coisas, a idéia do "faça você mesmo". Sem acesso às publicações comerciais predominantes à época, artistas da música e seus fãs produziam suas próprias publicações. A palavra "zine" deriva de "magazine", que em inglês significa "revista". Mais tarde, o formato zine foi agregado a diversos outros setores da sociedade e influenciou a comunicação, até mesmo a TV, onde permeia a linguagem também conhecida como "videoclipe".

"Foi ótimo trabalhar na elaboração de um material educativo que é voltado principalmente às pessoas como eu. Pude construir um produto que é para o meu próprio consumo e, neste caso, é um material educativo, que vai ficar por muito tempo, poderá ser visto por muitas pessoas e trará, sem a menor sombra de dúvida, mais qualidade de vida aos jovens como eu", disse Felipe Áquilla, estudante do 1º ano do ensino médio, morador do Jardim Santa Lúcia, região Sudoeste de Campinas, e ativista do Centro de Educação e Assesoria Popular (Cedap), organização não-governamental parceira do PMDST/Aids de Campinas.

"Para mim foi muito interessante fazer parte da criação do zine. Estão contidas nele informações que permeiam a adolescência. O zine é interessante pelo fato de ser uma criação de fácil entendimento, pois tem a nossa linguagem, que é simples, direta e objetiva. Isso facilita muito para a pessoa que vai ter acesso a esse material", disse Renata Brenelly, 17 anos, estudante do 2º ano do ensino médio, também ativista da ONG Cedap, que tem sede em Campinas.

Para Renata, a qualidade técnica da equipe do Centro de Referência (CR) do Programa Municipal de DST/Aids foi fundamental para o trabalho dos jovens. "É importante ressaltar o acolhimento que todos nós recebemos nos dias de criação do zine, pois o trabalho fica fácil quando estamos com profissionais que mesmo não sendo adolescentes, entendem a nossa língua", afirmou.

O estilista Chesller Moreira, de 25 anos, estilista, ativista do E-Jovem [uma ONG de Campinas que desenvolve ações a favor da cidadania de jovens lésbicas, gays, bissexuais, outros homens que fazem sexo com homens (HSHs), transexuais e travestis jovens], disse que não tem conhecimento de "nada parecido e que tenha sido realizado anteriormente". "Achei que foi muito bom. Uma experiência nova. Eu nunca havia participado de um processo assim. Foi interessante trabalhar com adolescentes, conheci coisas que não conhecia e para mim que trabalho com criação, foi um grande acréscimo. O processo criativo foi de altíssima qualidade".

Para o teleoperador Murilo Assis, de 20 anos, o trabalho de elaboração do zine foi "único", pois ele disse nunca ter participado de algo semelhante. "Um luxo conversar, brincar, inventar e somar tudo isso num material de idéias. Sim, digo material de idéias porque vai ajudar alguém com o argumento que dei, ou conceito que criei bem consciente do que é se prevenir das doenças sexualmente transmissíveis", disse Murilo.

"A melhor parte desta história foi reunir a turma e contar o que acontece no nosso dia-a-dia, enquanto gays que conhecem o meio. Eu me soltei nas opiniões, conselhos, desenhos, e até nas cores do material que seria montado. Mas, agora que vejo que o negócio, depois de quase pronto, vejo que é ainda mais sério que quando fazíamos. Surgem mais idéias e coisas que faltaram, o que já servirá para uma próxima edição do nosso zine "Nem Te Conto!". E o nome já dá a impressão de que é algo forte que está por vir".

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