Iluminar Campinas é destaque do ano pela FGV

07/12/2005

O Programa Iluminar Campinas - Cuidando das Vítimas de Violência Sexual, da Prefeitura, foi selecionado como destaque no Ciclo de Premiação do Programa Gestão Pública e Cidadania/2005 da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Fundação Ford. A entrega dos prêmios ocorreu no dia 30 de novembro, na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), no Rio de Janeiro.

O Iluminar concorreu com outros 722 projetos inscritos de vários municípios. Na primeira fase do processo de seleção foram classificados 100 programas semifinalistas, para os quais houve solicitação de informações complementares. Na segunda fase, quando foram selecionados 30 programas, Campinas recebeu duas técnicas para visitas aos equipamentos que compõem a rede de atendimento.

Durante a entrega da premiação, uma banca composta por representantes de diferentes setores da sociedade, ouviu e questionou os finalistas para selecionar cinco iniciativas consideradas destaques do Ciclo. O Programa Iluminar, além do certificado de classificação, recebeu R$ 20.000,00 (vinte mil reais) como prêmio de destaque do ano e a publicação oficial com referência a todos os programas premiados.

Para a representante do Programa Iluminar, a médica ginecologista sanitarista e homeopata Verônica Gomes Alencar, este prêmio é muito merecido, pois Campinas é a única cidade com um milhão de habitantes que ganhou o prêmio e cumpriu seu papel de forma exemplar, com dedicação e competência de todos os profissionais envolvidos. "Este prêmio é um estímulo aos profissionais que atuam no programa. Nossa rede de serviços tem mais de 1 mil cuidadores capacitados trabalhando para que as vítimas de violência sexual sejam atendidas no serviço de saúde antes das 72 horas após terem sido violentadas", disse.

Programa

Desde sua implantação, em 2001, o Programa Iluminar Campinas – Cuidando das Vítimas de Violência Sexual, vem mudando o tratamento dispensado às mulheres, homens, adultos, crianças e adolescentes até 16 anos vítimas da violência sexual no município, por meio de um trabalho intersetorial de interface com todas as secretarias municipais e participação efetiva de diferentes serviços públicos.

O Programa envolve duas redes de trabalho, uma de cuidados diretos e outra de cuidados indiretos. A que se refere ao apoio indireto estão os equipamentos da Secretaria de Cidadania, Trabalho, Assistência e Inclusão Social, como os Núcleos Comunitários de Crianças e Adolescentes, o Centro Municipal de Proteção à Criança e Adolescente (CMPCA), Casa Abrigo da Mulher Sara M e o Centro de Referência e Apoio à Mulher (Ceamo).

Nesta rede também estão incluídas as Escolas Municipais (Cemeis, Emeis e Emef’s), Guarda Municipal, Conselhos Municipais da Criança e do Adolescente (CMDCA), da Mulher (CMDM) do Idoso(CMI) e das Pessoas com Deficiência (Cmadene), Conselhos Tutelares, ong’s que trabalham com estes segmentos da população, e Delegacias de Polícias e da Mulher e os serviços de assistência jurídica e psicológica da PUC Campinas e da Universidade Paulista (UNIP).

Centros de Saúde, Prontos Socorros Municipais, Centro de referência de DST/AIDS, Serviço Municipal de Atendimento Médico de Urgência (Samu), Centro de Assistência Integral a Saúde da Mulher (Caism/Unicamp), Pronto Socorro Infantil do HC da Unicamp, e Instituto Médico Legal (IML) trabalham com a rede de cuidados diretos.

Todos estes serviços estão autorizados a notificar os casos de crianças e adolescentes ao Conselho Tutelar e ao Sistema de Notificação de Violência (SISNOV) via Internet. Para garantir esse diferencial no atendimento das vítimas, os profissionais desta rede recebem capacitação da Secretaria Municipal de Saúde em parceria com o Centro de Pesquisa das Doenças Materno-infantis (Cemicamp) e do Caism. Um colegiado da rede que se reúne bimestralmente acompanha e coordena as ações.

Ao ser recebido em um dos serviços, a vítima é acolhida e orientada, a queixa é identificada e o paciente é imediatamente encaminhado para atendimento médico e assistência psicológica. O atendimento para as mulheres inclui anticoncepção de emergência. Em todos os casos é feita a imunização contra hepatite e aplicação do coquetel contra o vírus HIV. A vítima também é orientada para fazer Boletim de Ocorrência (BO) e a agendar exame de corpo de delito.

Dados

Ao implementar o Programa, em 2001, Campinas estabeleceu um protocolo de atendimento que acolhe as vítimas, valoriza a escuta afetiva e competente, desenvolve a solidariedade, cuida da saúde física, mental e civil do cidadão e identifica os casos. Antes de sua implantação, os dados sobre este tipo de violência só existiam na Polícia quando a vítima fazia BO.

Em 2004 foram atendidos 339 casos de violência sexual na cidade, dos quais 196 referem-se a estupros a mulheres pós púberes, sendo que 174 (88%), atendidos antes das 72 horas, tempo suficiente para eficácia dos procedimentos de prevenção citados não sendo registrado nenhum caso de DST/Aids ou hepatite. Apenas 22 casos, 11,2% foram atendidos após as 72hs, dificultando os procedimentos de prevenção, mas garantindo com sucesso todas as outras ações desenvolvidas pelos demais serviços do programa. E desses casos, 12 das vítimas solicitaram aborto com realização garantida por lei, mas apenas seis abortamentos foram realizados.

A violência sexual, no ano passado, atingiu 123 crianças e adolescentes, sendo 110 do sexo feminino e 13 do sexo masculino, 90% e 10% respectivamente, dentre eles, 98 foram de violência doméstica, e apenas 30%, ou seja 29 casos atendidos antes de 72 horas, o que confirma a questão de como a violência doméstica fica camuflada. Os demais foram atendidos após as 72 horas, ou dias, meses depois, durante outros atendimentos realizados pelos serviços da rede. Também foram registrados 10 casos de atentado violento ao pudor a homens, acima de 16 anos, desse total 3 casos de violência urbana e os demais de violência doméstica e advindos de prisões.

Prêmio

O Ciclo de Premiação tem por objetivo identificar, divulgar e premiar iniciativas inovadoras de governos estaduais, municipais e organizações indígenas, com a proposta de estimular o debate e a reflexão crítica sobre processos de transformação na gestão pública no Brasil, com ênfase na articulação entre governo e sociedade civil.

Entre os critérios de seleção dos programas e projetos estão os que introduzam mudança qualitativa ou quantitativa em relação a práticas anteriores; tenham impacto na melhoria da qualidade de vida do público beneficiário; possam ser repetidos ou transferidos para outras regiões ou administrações; ampliem ou consolidem o diálogo entre a sociedade civil e os agentes públicos; utilizem recursos e oportunidades de forma responsável, na perspectiva de um desenvolvimento auto-sustentável.

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