Programa Maluco Beleza, feito pelos usuários do Cândido Ferreira, participa da Intercom pela primeira vez

27/08/2004

O congresso, que discute anualmente os rumos da Comunicação brasileira, 
acontece em Porto Alegre (RS).

No dia 3 de setembro (sexta-feira),  o programa de rádio MALUCO BELEZA, produzido e apresentado pelos usuários do Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira, será apresentado no grupo de rádio e mídia sonora da Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação), congresso sobre Comunicação que acontece anualmente e que neste ano terá como sede a cidade de Porto Alegre/RS. É a primeira vez que o Maluco Beleza será apresentado num congresso científico, através de seu idealizador e diretor, de sua parceira - a Rádio Educativa FM, e de um representante do grupo de usuários do serviço, que realiza o programa.

O trabalho foi desenvolvido pelos jornalistas Ivete Cardoso do Carmo Roldão, docente da faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas e diretora da Rádio Educativa FM - emissora pública do município de Campinas, e Reginaldo Moreira, docente da faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, mestrando em Gerontologia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultor da assessoria de comunicação do Cândido Ferreira.

"MALUCO BELEZA - Um programa pra quem tem a cabeça no lugar"

O programa Maluco Beleza é resultado da parceria entre os usuários do Cândido Ferreira — por meio da assessoria de comunicação — com a Rádio Educativa, emissora que viabilizou o projeto e que tem possibilitado a propagação de vozes há muito tempo excluídas da convivência social e da possibilidade de  se colocar perante seus semelhantes. 

O Maluco Beleza é um jornalístico que vai ao ar todo dia 10, às 10h (com reprise às 22h), nos 101,9 mhz-FM, uma concessão da Prefeitura Municipal de Campinas que está sob a coordenação da Secretaria Municipal de Cultura, Esportes e Turismo. A proposta do trabalho, concebido entre o grupo de usuários "Jornalistas do Cândido" e a equipe da assessoria de comunicação do Cândido, é trabalhar um tema mensalmente, escolhido pelo próprio grupo. Os temas se baseiam nos direitos humanos, saúde mental e em todos os assuntos que permitam a relação com o lugar dos usuários em sociedade. De acordo com Reginaldo Moreira, diretor do programa, o principal objetivo do programa é desmistificar a loucura na sociedade e servir de instrumento de transformação da opinião pública, possibilitando assim a diminuição do preconceito e da exclusão social em relação aos portadores de transtornos mentais. 

O jornalístico tem a duração de uma hora e leva aos ouvintes um programa composto por quadros que incluem entrevistas, enquetes realizadas nos espaços públicos da cidade, análise de notícias, imitações, músicas, recados, depoimentos, entre outros. A irreverência e o questionamento a respeito da loucura e da normalidade na atual sociedade fundamentam o trabalho e dão o tom diferencial ao programa. O tema e as pautas são definidos em reuniões com o grupo de "jornalistas", formado por aproximadamente vinte usuários do Cândido, que elaboram, produzem e gravam o programa.

Em quase dois anos e meio de programa, diversos temas foram abordados como  "Luta Antimanicomial, "Drogas", "Tolerância e Convivência com as Diferenças", "Stress e Qualidade de Vida", "Saúde e Violência", "Eleições e Cidadania", "Meio Ambiente", "Aids", "Guerra entre EUA e Iraque", "Carnaval", entre outros. Um dos pontos mais altos do Maluco Beleza foi a produção de um programa especial sobre o Fórum Social Mundial. Para desenvolver o programa, parte do grupo de "jornalistas" esteve em Porto Alegre/RS e fez a cobertura do evento devidamente credenciada como equipe de mídia alternativa, com acesso às salas de imprensa e equipamentos. Isto foi, segundo Reginaldo Moreira, a confirmação da importância do trabalho do grupo, que acabou produzindo jornalismo comunitário de qualidade e contribuindo para a democratização da comunicação.

O Serviço de Saúde “Dr. Cândido Ferreira” é considerado como referência no tratamento de saúde mental no Brasil, desde 1993, pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A parceria com a Prefeitura Municipal de Campinas, através de um convênio de co-gestão firmado desde 1990, tem viabilizado a transformação nas formas de cuidar do portador de transtorno mental. Com a desospitalização, os portões foram abertos, foram abolidos a aplicação do eletrochoque e o uso da camisa de força e os tratamentos passaram a se basear no respeito aos direitos dos pacientes. Hoje, eles tem a possibilidade de fazer tratamento fora do espaço hospitalar, através dos CAPS implantados em várias regiões do município de Campinas, próximo aos locais onde residem - o que contribui para a reinserção social e familiar desses cidadãos. 

Volta ao índice de notícias