Reclamações sobre escorpiões quadruplicam na época das chuvas

13/01/2005

Denize Assis

As solicitações de moradores de Campinas para vistoria em focos de escorpiões chegam a ser até quatro vezes maior na época das chuvas, segundo dados divulgados nesta quinta-feira, 13 de janeiro, pela coordenação do serviço 156 da Prefeitura. Em dezembro de 2004, foram 26 solicitações e, somente nos 10 primeiros dias deste ano, foram registradas 9, contra cinco em junho e julho de 2004, meses em que o serviço recebeu o menor número de chamadas. As demandas são encaminhadas para a Secretaria Municipal de Saúde.

"Nos meses de primavera e verão, que coincidem com a fase reprodutiva de animais peçonhentos, os escorpiões acabam desabrigados em conseqüência das inundações e porque cresce o volume de água nas redes de escoamento", diz o médico veterinário Cláudio Luiz Castagna, da Vigilância em Saúde (Visa) Sudoeste. "E com a maior disponibilidade deles no meio ambiente e em locais de maior acesso para o homem, aumenta também o risco de acidentes".

No Estado de São Paulo, de 1988 a 1998 foram registrados 15,2 mil acidentes com escorpiões e 31 óbitos. Em Campinas, o serviço de referência para este tipo de ocorrência é o Centro de Controle de Intoxicações (CCI) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). No entanto, a unidade não dispõe de dados atualizados sobre este tipo de acidente.

De acordo com informações do Departamento de Saúde Coletiva Municipal, dos 214 acidentes com animais peçonhentos registrados pela Vigilância em Saúde em 2004, 36 foram ocasionados por escorpiões e o mês com o maior número de ocorrências foi janeiro, quando houve 10 acidentes. Não houve mortes segundo as informações da Secretaria de Saúde. No entanto, é necessário considerar que nem todos os casos são registrados nos serviços de saúde da Prefeitura porque a maioria dos pacientes é encaminhada diretamente para o CCI.

Segundo o biólogo Edílson Geanfrancesco Soave, da Visa Sudoeste, as espécies encontradas em Campinas são a do escorpião amarelo (Tityus serrulatus) e a do escorpião marrom (Tityus bahiensis). A picada da espécie Tityus serrulatus é mais grave porque ele inocula mais veneno.

Edílson informa que a cidade tem uma incidência importante destes animais peçonhentos em todas as cinco regiões do município. Porém, alguns locais, pelas características favoráveis, como tipo de solo e clima, registram uma população maior. É o caso da maioria dos bairros da Região Sudoeste, entre eles Vila União e Jardim Santa Letícia, onde é encontrada a espécie Tityus serrulatus, Parque Ipiranga, Jardim São João e Jardim Vista Alegre, onde encontra-se o Tityus bahiensis.

Em 2004, a Região Sudoeste foi a que registrou a maioria dos acidentes com escorpiões na cidade. Em seguida constam as Regiões Sul e Leste, seguida da Norte. Na Noroeste, não foram registradas ocorrências em 2004.

Segundo Edílson, a gravidade dos acidentes varia de acordo com alguns fatores. "A quantidade de veneno injetado, bem como a idade e peso da vítima podem fazer a diferença", diz. Em Campinas, os acidentes têm sido verificados em pessoas de todas as faixas etárias, com uma concentração maior em homens com idade entre 15 e 49 anos. O veneno, afirma Edílson, atua principalmente no sistema nervoso (ação neurotóxica). "A substância provoca dor intensa, abaixa a temperatura do corpo, acelera a pulsação e pode matar".

O biólogo diz que os acidentes mais freqüentes variam de leves a moderados. De acordo com ele, nos casos graves, além da anestesia local, o paciente recebe soro antiescorpiônico. "O soro aplicado para o tratamento é feito do próprio veneno do escorpião", informa.

Prevenção. Para prevenir a infestação de escorpiões, as pessoas devem conservar os arredores da casa livres de todo tipo de entulho, telha ou tijolos. Segundo a bióloga Elen Fagundes de Telli, coordenadora da Visa do Distrito Sudoeste, é muito freqüente o transporte desses animais peçonhentos em pilhas de móveis e materiais de construção ou madeira, principalmente se estes objetos forem levados de chácaras para a cidade.
Por isso, segundo Elen, a pessoa deve fazer a carga peça por peça e se proteger com luva grossa para manipular as peças. A bióloga ressalta que o uso de veneno para o controle destes animais não funciona.

Segundo ela, o Centro de Saúde deve ser notificado toda vez que um escorpião for encontrado, mesmo que não tenha havido acidentes. Em casos de acidentes, as pessoas devem procurar Centro de Saúde ou serem encaminhadas ao CCI. Se possível, o animal peçonhento deve ser levado para identificação. Os Distritos de Saúde e o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) também podem ser acionados para orientar quanto à prevenção e para realizar identificação da espécie.

Saiba como prevenir:

Terrenos baldios ao lado da casa devem ser mantidos limpos, sem mato, pedras ou tocos;

O quintal também precisa estar limpo e livre de restos de construção, garrafas, tábuas, folhas secas etc.

O Lixo doméstico deve ser colocado em sacos plásticos bem fechados ou lixeiras com tampa e colocado momentos antes da coleta em suportes altos. É importante nunca jogar o lixo em terrenos baldios e denunciar quando isto ocorrer;

Os ralos da casa precisam ser substituídos por modelos do tipo abre e fecha ou vedados com tela milimétrica ou borracha;

Os espelhos quebrados de interruptores devem ser trocados ou vedados com fita adesiva, papelão ou isopor;

Pontos de luz do teto devem ser vedados com massa corrida ou fita adesiva;

Pias e tanques precisam ficar tampados;

Caixas de gorduras não devem ter frestas;

Paredes de tijolo baiano e muros devem ser rebocados;

Soleiras de portas precisam ser vedadas com rodos, panos ou rolinhos de areia ao entardecer;

Usar calçados e luvas de couro quando for trabalhar com materiais que possam abrigar escorpiões.

Essas recomendações também servem para o controle de aranhas.

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