Saúde capacita Atenção Básica para atender doenças crônicas

04/01/2010

Autor: Denize Assis

Desde o último dia 16 de outubro Campinas integra o projeto Gestão de Cuidado em Redes, desenvolvido pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS), numa parceria entre o Ministério da Saúde, a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), o Hospital Israelita Albert Einstein (responsável pela implantação da Tecnologia da Educação à Distância) e algumas prefeituras que já têm uma rede instalada e tradição em saúde pública. O projeto-piloto envolve as cidades de Juazeiro (BA) e Belo Horizonte (MG), além de Campinas. A iniciativa se propõe a instrumentalizar e capacitar a rede básica de saúde para atender pacientes acometidos de doenças crônicas como diabetes, hipertensão, lombalgias, asma, doenças reumáticas, doenças gástricas e doenças cardíacas.

De acordo com o médico Roberto Marden Soares Farias, coordenador da Atenção Básica da Secretaria da Saúde de Campinas, as doenças crônicas representam aproximadamente 70% da demanda nas grandes cidades. Em Campinas, o projeto está na fase de capacitação dos médicos, enfermeiros e coordenadores para a aplicação da metodologia nas suas respectivas unidades.

A próxima etapa, segundo Marden, incluirá a capacitação desses profissionais para a utilização da tecnologia da Telemedicina e Educação à Distância, na qual, por meio de tecnologias de informática e comunicação à distância, os profissionais de saúde terão acesso aos melhores especialistas e a bibliotecas virtuais.

“Toda e qualquer doença crônica deve ser cuidada no Centro de Saúde. E todas elas devem ser encaminhadas para setor secundário somente quando chegar num nível de complexidade que só um especialista dá conta. Diabetes, por exemplo, quando bem cuidado, só poucos casos precisam ser encaminhados”, explica.

Segundo o Ministério da Saúde, aproximadamente 150 milhões de brasileiros são usuários dos serviços de Atenção Básica do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo que 93 milhões estão incluídos no Programa Saúde da Família (PSF) que já contabiliza aproximadamente 29.300 equipes em todo o País. “Com os investimentos das duas últimas décadas para ampliar o acesso dos brasileiros às ações e atividades de saúde através da Atenção Primária à Saúde, houve uma notável expansão de uma rede de Centros de Saúde municipais e de equipes de Saúde da Família”, disse.

Ele observa, todavia, que há estudos e evidências que apontam uma considerável insatisfação de grande parte dos usuários quanto à falta de humanização no atendimento e, ainda, à baixa qualidade da assistência prestada na Atenção Básica. “Isso, por sua vez, traz reflexos para os serviços secundários e terciários, que se ressentem do alto número de encaminhamentos desnecessários, dificultando o acesso dos usuários a estes níveis da atenção”, justifica.

Segundo o coordenador da Atenção Básica no SUS Campinas, dentre os vários percalços que dificultam o bom andamento da saúde pública, como o subfinanciamento, a municipalização sem a correspondente contrapartida financeira, as limitações impostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal e a terceirização de serviços, destaca-se a baixa capacitação dos profissionais de saúde para lidar com a complexidade do processo de saúde que engloba a violência urbana e o adoecimento por estresse.

“A maior carga de doenças representadas pelos processos crônicos não transmissíveis acomete uma população mais velha e ainda vulnerabilizada pelas péssimas condições de vida da sua maioria. Além disso – ressalta o médico – existe o problema da alta rotatividade de médicos da Atenção Básica, que não se sentem preparados pelas escolas de medicina, ainda focadas numa formação voltada para a super-especialização e, consequentemente, despreparadas para lidar com esses problemas nas periferias das grandes cidades”.

Para Roberto Mardem, esses problemas podem ser minimizados com a ampliação da capacidade das unidades de saúde da família, com a utilização de modo racional dos medicamentos e exames, com a ampliação da autonomia do usuário no auto cuidado e, consequentemente, a redução de sua dependência dos serviços de saúde. “A partir daí – esclarece o médico – se necessário, o paciente é encaminhado para os serviços de atenção secundários com investigações diagnósticas já realizadas nos serviços de atenção primária”.

Os profissionais envolvidos nesse projeto, denominados Coordenadores de Territórios e de Facilitadores da Gestão do Cuidado, atuarão ligados às equipes de saúde da família (cada médico facilitador ficará responsável por 9 a 12 equipes de Saúde da Família). Terão como papel, num processo de educação permanente, construído a partir do problema encontrado pela equipe de saúde da família e da fragilidade clínica do médico de família para cuidar de dado caso, ampliar a sua capacidade para acompanhar e cuidar de cada paciente.

“Ademais, nesta relação íntima, será capaz de detectar problemas gerenciais, administrativo e outros, além dos relativos ao conhecimento, que podem estar impedindo a prática de uma boa clínica. Como trabalharão também conectados com os gestores, ou seja, com coordenadores de distritos da Secretaria de Saúde, influenciarão positivamente na resolução destes problemas”, afirma. De outro lado, explica o coordenador da Atenção Básica, o médico poderá fazer discussões de casos complexos com os especialistas, ouvir a sua opinião sobre determinados pacientes e seus exames. “Poderão ainda, no próprio serviço, acessar um dado artigo, protocolo ou evidência clínica que o ajude resolver determinado problema”, completa.

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