Denize Assis
A Secretaria
de Saúde de Campinas vai disponibilizar, gratuitamente, 150
mil camisinhas para os foliões durante o Carnaval 2004. Os
preservativos serão distribuídos nos desfiles das escolas de
samba, no sábado e no domingo, 21 e 22 de fevereiro, e nos
bailes populares e clubes em toda cidade, nos quatro dias de
folia.
Deste total,
130 mil foram enviadas pelo Ministério da Saúde. A
Secretaria Municipal de Saúde adquiriu o restante da cota com
recursos próprios. A quantidade corresponde a mais de 50% das
280 mil unidades distribuídas mensalmente pela Prefeitura nos
Centros de Saúde e demais serviços da rede municipal.
De acordo com
a coordenação do Programa Municipal de Doenças Sexualmente
Transmissíveis e Aids (DST/Aids), o objetivo é que a
distribuição dos preservativos seja feita de forma
qualificada pelas equipes da Secretaria de Saúde. Durante as
ações, os 57 profissionais que integram as equipes vão
orientar a população sobre a necessidade do uso do
preservativo nas relações sexuais eventuais, comuns durante
os dias de folia.
A campanha é
dirigida a toda população. No entanto, segundo a psicóloga
Elisabete Gonçalves Zuza, coordenadora municipal do Núcleo
de Prevenção de DST/Aids, será dada ênfase para homens na
faixa etária de 18 a 39 anos, das classes C, D e E.
"Essa é a parcela da população masculina com menor índice
de uso contínuo de camisinha", informa Elisabete.
Pesquisa do
Ibope para o Programa Nacional de DST/Aids, do Ministério da
Saúde, em 2003, mostra que 15% da população sexualmente
ativa não acreditam totalmente que o preservativo pode barrar
o vírus da Aids.
Use e confie.
A campanha de combate à Aids do Ministério da Saúde para o
período do Carnaval, que começou a ser veiculada neste
domingo, 8 de fevereiro, também enfatiza esta parcela da
população. O slogan é "Pela camisinha não passa nada.
Use e Confie".
O filme em
exibição nas televisões destaca a flexibilidade, a resistência
e a ausência de poros na camisinha. Num bar, dois rapazes
conversam sobre o assunto e um deles põe o preservativo na
lata de refrigerante. Em seguida, ele abre a lata e a
camisinha infla como um balão por conta do gás da bebida. Na
seqüência, o rapaz vira a lata, deixa a bebida escorrer para
o preservativo e mostra ao amigo que nem o ar e nem o líquido
vazaram.
A mesma idéia
é repetida nos cartazes da campanha: um peixinho nada em uma
camisinha cheia de água. Os cartazes serão fixados em locais
freqüentados por foliões durante o carnaval.
Risco.
A preocupação com as doenças transmitidas por via sexual é
maior no Carnaval, quando aumenta o risco de infecção por
causa do contexto, do sentido da festa. De acordo com a
coordenadora do Programa de DST/AIDS de Campinas, a enfermeira
sanitarista Maria Cristina Ilário, após o Carnaval, aumenta
o número de pessoas que procuram o Centro de Referência
Municipal de DST/AIDS e de ligações para o Disk Aids (3234
5000) e para o Coas (Centro de Orientação e Apoio Sorológico
3236 3711).
"A
procura por estes serviços aumenta porque as pessoas se
arriscam mais no Carnaval", diz. De acordo com Cristina,
por isso, os profissionais de saúde vão sensibilizar os foliões
para que brinquem e se divirtam protegendo a saúde, a vida,
ou seja, fazendo sexo com preservativo.
Referência. Campinas
é reconhecida no Brasil como modelo na assistência e
tratamento da Aids e quer, agora, se tornar referência também
na área de prevenção a infecção pelo HIV e outras DSTs
(Doenças Sexualmente Transmissíveis). O município garante
100% de atenção às pessoas com Aids. Segundo dados da Vigilância
em Saúde, a cidade tem notificados 3.730 casos de Aids de 82
até 2003. Deste total, 1.936 já foram a óbito.
Atualmente,
com relação ao total de casos, para cada três homens
infectados, há uma mulher. E, quando analisamos somente o número
de homens e mulheres que se infectaram por meio de relações
heterossexuais em 2003 (a categoria de exposição sexual
entre heterossexuais em 2003 é a primeira causa de AIDS neste
ano), esta proporção cai para 1 por 1. Na década de 80, início
da epidemia, esta proporção era em média de 50 homens para
cada mulher.
Delegação
do Peru chega para conhecer
programa
Um grupo de
doze profissionais que trabalham na prevenção, assistência
e controle das DST/Aids no Peru chegou a Campinas no último
domingo, 11 de fevereiro, para conhecer de perto o trabalho da
Secretaria Municipal de Saúde. A comissão é formada por médicos,
psicólogos e outros profissionais peruanos que integram o
Ministério da Saúde do Peru, Organizações Não
Governamentais (ONGs), Forças Armadas e Rede Internacional de
Pessoas Vivendo com Aids.
De acordo com
o médico infectologista Víctor Manuel Chávez Pérez, da
equipe técnica do Programa Nacional de Enfermidades de
Transmissão Sexual e Aids (Procetss) do Ministério da Saúde
do Peru, o programa de DST/Aids de Campinas é muito bom.
"Nosso objetivo é implementar o tratamento
anti-retroviral e o programa nacional de aderência ao
tratamento com base na experiência de Campinas", diz.
Pérez
informa que, atualmente, o Peru tem 14 mil pessoas com Aids. A
população do País é de 27 milhões de habitantes. A
principal forma de transmissão da doença entre os peruanos,
segundo o infectologista, é a relação sexual (95% dos
casos).
A
coordenadora do Programa Municipal de DST/Aids, a enfermeira
sanitarista Maria Cristina Ilário, diz que a visita é parte
do projeto de cooperação externa dos países da América
Latina para a ampliação do tratamento da Aids. "A troca
de experiências é sempre um ganho. A união entre as nações
tem-se mostrado fundamental para a superação de dificuldades
econômicas e técnicas", diz.
Nesta
segunda-feira, 12, a comissão de peruanos conheceu o Centro
de Referência Municipal de DST/AIDS e as várias atividades
desenvolvidas da unidade. A equipe vai permanecer na cidade
por 10 dias e deve conhecer ainda a interface do programa com
as outras unidades de saúde do município e com as ONGs.
Atualmente,
200 mil pessoas estão em tratamento na América Latina e no
Caribe, onde o número de infectados é estimado em 1 milhão.
Do total de atendidos no continente, 125 mil são brasileiros,
o que corresponde a 75%. Essa enorme desigualdade na atenção
aos portadores do HIV foi uma das maiores preocupações dos
organizadores do encontro da Organização Mundial de Saúde (OMS)
realizado no Rio de Janeiro, em março de 2003, para discutir
como será feita a ampliação do atendimento aos portadores
do HIV no mundo.
Embora a América
Latina e o Caribe apareçam nos relatórios da OMS com uma
cobertura de 53% da demanda por tratamento, o alto índice é
puxado pelo Brasil, que garante 100% de atenção às pessoas
com Aids.