Prefeitura vai distribuir, de graça, 150 mil camisinhas no Carnaval

09/02/2004

Denize Assis

A Secretaria de Saúde de Campinas vai disponibilizar, gratuitamente, 150 mil camisinhas para os foliões durante o Carnaval 2004. Os preservativos serão distribuídos nos desfiles das escolas de samba, no sábado e no domingo, 21 e 22 de fevereiro, e nos bailes populares e clubes em toda cidade, nos quatro dias de folia.

Deste total, 130 mil foram enviadas pelo Ministério da Saúde. A Secretaria Municipal de Saúde adquiriu o restante da cota com recursos próprios. A quantidade corresponde a mais de 50% das 280 mil unidades distribuídas mensalmente pela Prefeitura nos Centros de Saúde e demais serviços da rede municipal.

De acordo com a coordenação do Programa Municipal de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids (DST/Aids), o objetivo é que a distribuição dos preservativos seja feita de forma qualificada pelas equipes da Secretaria de Saúde. Durante as ações, os 57 profissionais que integram as equipes vão orientar a população sobre a necessidade do uso do preservativo nas relações sexuais eventuais, comuns durante os dias de folia.

A campanha é dirigida a toda população. No entanto, segundo a psicóloga Elisabete Gonçalves Zuza, coordenadora municipal do Núcleo de Prevenção de DST/Aids, será dada ênfase para homens na faixa etária de 18 a 39 anos, das classes C, D e E. "Essa é a parcela da população masculina com menor índice de uso contínuo de camisinha", informa Elisabete.

Pesquisa do Ibope para o Programa Nacional de DST/Aids, do Ministério da Saúde, em 2003, mostra que 15% da população sexualmente ativa não acreditam totalmente que o preservativo pode barrar o vírus da Aids.

Use e confie. A campanha de combate à Aids do Ministério da Saúde para o período do Carnaval, que começou a ser veiculada neste domingo, 8 de fevereiro, também enfatiza esta parcela da população. O slogan é "Pela camisinha não passa nada. Use e Confie".

O filme em exibição nas televisões destaca a flexibilidade, a resistência e a ausência de poros na camisinha. Num bar, dois rapazes conversam sobre o assunto e um deles põe o preservativo na lata de refrigerante. Em seguida, ele abre a lata e a camisinha infla como um balão por conta do gás da bebida. Na seqüência, o rapaz vira a lata, deixa a bebida escorrer para o preservativo e mostra ao amigo que nem o ar e nem o líquido vazaram.

A mesma idéia é repetida nos cartazes da campanha: um peixinho nada em uma camisinha cheia de água. Os cartazes serão fixados em locais freqüentados por foliões durante o carnaval.

Risco. A preocupação com as doenças transmitidas por via sexual é maior no Carnaval, quando aumenta o risco de infecção por causa do contexto, do sentido da festa. De acordo com a coordenadora do Programa de DST/AIDS de Campinas, a enfermeira sanitarista Maria Cristina Ilário, após o Carnaval, aumenta o número de pessoas que procuram o Centro de Referência Municipal de DST/AIDS e de ligações para o Disk Aids (3234 5000) e para o Coas (Centro de Orientação e Apoio Sorológico 3236 3711).

"A procura por estes serviços aumenta porque as pessoas se arriscam mais no Carnaval", diz. De acordo com Cristina, por isso, os profissionais de saúde vão sensibilizar os foliões para que brinquem e se divirtam protegendo a saúde, a vida, ou seja, fazendo sexo com preservativo.

Referência. Campinas é reconhecida no Brasil como modelo na assistência e tratamento da Aids e quer, agora, se tornar referência também na área de prevenção a infecção pelo HIV e outras DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis). O município garante 100% de atenção às pessoas com Aids. Segundo dados da Vigilância em Saúde, a cidade tem notificados 3.730 casos de Aids de 82 até 2003. Deste total, 1.936 já foram a óbito.

Atualmente, com relação ao total de casos, para cada três homens infectados, há uma mulher. E, quando analisamos somente o número de homens e mulheres que se infectaram por meio de relações heterossexuais em 2003 (a categoria de exposição sexual entre heterossexuais em 2003 é a primeira causa de AIDS neste ano), esta proporção cai para 1 por 1. Na década de 80, início da epidemia, esta proporção era em média de 50 homens para cada mulher.

Delegação do Peru chega para conhecer programa

Um grupo de doze profissionais que trabalham na prevenção, assistência e controle das DST/Aids no Peru chegou a Campinas no último domingo, 11 de fevereiro, para conhecer de perto o trabalho da Secretaria Municipal de Saúde. A comissão é formada por médicos, psicólogos e outros profissionais peruanos que integram o Ministério da Saúde do Peru, Organizações Não Governamentais (ONGs), Forças Armadas e Rede Internacional de Pessoas Vivendo com Aids.

De acordo com o médico infectologista Víctor Manuel Chávez Pérez, da equipe técnica do Programa Nacional de Enfermidades de Transmissão Sexual e Aids (Procetss) do Ministério da Saúde do Peru, o programa de DST/Aids de Campinas é muito bom. "Nosso objetivo é implementar o tratamento anti-retroviral e o programa nacional de aderência ao tratamento com base na experiência de Campinas", diz.

Pérez informa que, atualmente, o Peru tem 14 mil pessoas com Aids. A população do País é de 27 milhões de habitantes. A principal forma de transmissão da doença entre os peruanos, segundo o infectologista, é a relação sexual (95% dos casos).

A coordenadora do Programa Municipal de DST/Aids, a enfermeira sanitarista Maria Cristina Ilário, diz que a visita é parte do projeto de cooperação externa dos países da América Latina para a ampliação do tratamento da Aids. "A troca de experiências é sempre um ganho. A união entre as nações tem-se mostrado fundamental para a superação de dificuldades econômicas e técnicas", diz.

Nesta segunda-feira, 12, a comissão de peruanos conheceu o Centro de Referência Municipal de DST/AIDS e as várias atividades desenvolvidas da unidade. A equipe vai permanecer na cidade por 10 dias e deve conhecer ainda a interface do programa com as outras unidades de saúde do município e com as ONGs.

Atualmente, 200 mil pessoas estão em tratamento na América Latina e no Caribe, onde o número de infectados é estimado em 1 milhão. Do total de atendidos no continente, 125 mil são brasileiros, o que corresponde a 75%. Essa enorme desigualdade na atenção aos portadores do HIV foi uma das maiores preocupações dos organizadores do encontro da Organização Mundial de Saúde (OMS) realizado no Rio de Janeiro, em março de 2003, para discutir como será feita a ampliação do atendimento aos portadores do HIV no mundo.

Embora a América Latina e o Caribe apareçam nos relatórios da OMS com uma cobertura de 53% da demanda por tratamento, o alto índice é puxado pelo Brasil, que garante 100% de atenção às pessoas com Aids.

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