Programa DST/Aids de Campinas distribuiu 550 mil preservativos no Carnaval

13/02/2008

Autor: Eli Fernandes

Prevenção e quebra de tabus. Com estas metas o Programa Municipal de DST/Aids de Campinas realizou uma intensa campanha de combate às doenças sexualmente transmissíveis durante os desfiles do Carnaval é Natureza deste ano da Prefeitura. A estimativa é que das atividades de pré-carnaval até a terça-feira, dia 5 de fevereiro, foram distribuídas 550 mil camisinhas, 200 mil a mais que em 2007, além de oferecer apoio e orientação através de materiais educativos. O trabalho envolve 135 profissionais por noite do Sistema Único de Saúde (SUS) que atuam em Centros de Saúde, outras unidades e parceiros da Secretaria Municipal de Saúde e do Centro de Referência do Programa DST/Aids.

Para a coordenadora do Programa DST/Aids de Campinas, a enfermeira sanitarista Maria Cristina Feijó Januzzi Ilário, o trabalho é um incentivo à prevenção. "A distribuição de camisinhas no Carnaval cumpre dois objetivos. Um é deixar as pessoas com o preservativo à mão. O outro é o que a gente chama de marketing social do preservativo. Essa é uma estratégia que a gente vem aprendendo no Programa de Aids. O preservativo tem que ser um insumo, uma figura, um personagem comum na vida das pessoas. É preciso quebrar o tabu da vergonha de pegar preservativo, seja a pessoa de que faixa etária for", avaliou a coordenadora. Ela conta que no período após o Carnaval os serviços de orientação sobre a aids de pessoas preocupadas ou que querem tirar dúvidas e fazer exames aumenta 100%, o que mostra a importância da prevenção.

Segundo Maria Cristina, na sexta-feira, 1º de fevereiro, foram distribuídas oitenta mil camisinhas, no sábado, dia 2, cerca de cem mil e no domingo, 3 de fevereiro, foram trinta mil. Na segunda e na terça-feira foram distribuídas 160 mil camisinhas. Desde o início de janeiro as equipes da Secretaria Municipal de Saúde atuaram em mais de vinte eventos do pré-carnaval fazendo a distribuição das camisinhas, tirando dúvidas e orientando a população sobre os serviços públicos disponíveis. Para as crianças as equipes distribuem bexigas brancas com o logotipo de combate à Aids e apitos.

Mulheres

Um dos grandes desafios atuais, segundo a coordenadora, é a mudança nos hábitos de prevenção das mulheres. Segundo ela, a epidemia tem crescido no sexo feminino e na média nacional tem aumentado numa velocidade importante entre meninas jovens de 13 a 20 anos. "Em Campinas e região a epidemia é mais adulta. Os novos casos estão concentrados na faixa de 20 a 39 anos, entre mulheres e homens. O que nos interessa é avaliar qual é categoria de exposição, ou seja, com que população eu tenho que trabalhar. A gente já pode afirmar que não é mais uma tendência, é fato na Aids: a epidemia é feminina, está se feminizando", disse Cristina. Ela também explica que a aceitação do preservativo é maior entre os jovens e por isso a doença tem crescido justamente entre mulheres da terceira idade.

Com um preservativo como enfeite no boné, o estudante Cláudio Pereira da Costa, de 19 anos, brincava animadamente atrás de um dos trios elétricos do quarto dia de folia no sambódromo declarando que achava normal expor o produto. "Não vejo porque esconder. A cor desta embalagem de camisinha está bonita e já aproveito pra avisar às pretendentes que sou prevenido e seguro", explicou. Já a balconista Gilmara Souza, de 17 anos, disse que ganhou os preservativos e colocou na bolsa. "Acho normal ter, mas prefiro guardar até para não perder no meio de tanta gente", justificou. O preparador de lanches, José Moreira Sotto, não exibia a camisinha mas afirmou que usa. "Acho muito bom eles distribuírem porque aí a gente não tem desculpa para não se prevenir, esta doença é muito séria e perigosa", avaliou.

"Eu achei muito legal, muito importante fazer isso, pois não é toda a população que tem o costume que eu achava que tinha sobre como e porque usar o preservativo. Por isso acho que essas campanhas são fundamentais. Principalmente entre os adolescentes. Entre os adultos e principalmente entre as famílias que vieram juntas ao sambódromo eu considero que a aceitação da camisinha é bem melhor", disse auxiliar de enfermagem Margarete da Conceição Marçal Fidelis, que trabalha no Centro de Saúde da Vila Rica, à região do Distrito de Saúde Sul.

A estudante A.S.H., de 11 anos, aprovou a organização do Carnaval pela Secretaria Municipal de Cultura, Esportes e Lazer e o trabalho que viu ser realizado pela equipe da Secretaria de Saúde para prevenção às DST/aids. "É bom para os adolescentes aprenderem a se prevenir e não fazerem nenhuma besteira. É bom para todos. Todo mundo gosta", disse a adolescente, que veio ao local com a família e deixou o sambódromo por volta de 21h. "As pessoas estão aprendendo melhor a lidar com essas coisas", afirmou.

Outras pessoas que compareceram ao Sambódromo destacaram a importância do trabalho de incentivo à prevenção. O escriturário Márcio Aparecido de Toledo, de 29 anos, morador da Vila Industrial chegava ao Sambódromo por volta de 21h30 quando recebeu, logo na entrada do local, dois preservativos e uma leque da campanha nacional "Vista-se! Use sempre camisinha" e nele o telefone do "Coas"/CTA (Centro de Testagem e Acolhimento). "Eu que fazer esse trabalho é uma boa. A prevenção deve ser incentivada, pois é uma atitude de cada um. Eu diria à população que, se for fazer sexo, tem que se prevenir", disse.

Sua namorada, a estudante Eliamara Cristina da Silva, de 27 anos, que chegou com ele ao local, compartilha da mesma opinião. "Quando as pessoas recebem dois preservativos aqui no Carnaval, elas lembram-se que precisam usar camisinhas o ano todo. É respeito e responsabilidade com o próprio corpo, com a própria vida e também com a vida do parceiro", disse.

Também foi esta a conclusão da dona de casa Márcia Regina da Cunha, moradora do DIC (Distrito Industrial de Campinas) 4. "Estou achando que essa campanha é uma coisa muito boa, pois ajuda na prevenção das doenças sexualmente transmissíveis e de uma gravidez indesejada também. As pessoas, vendo as camisinhas e recebendo-as aqui, das mãos de profissionais de saúde, perdem o medo, a vergonha de usá-las", afirmou. Ela veio acompanhada da família e disse que o assunto seria abordado em casa. "Espero que todas as pessoas que receberam as camisinhas façam um bom uso delas", disse.

Para o motorista Ismael Cunha, as camisinhas devem ser utilizada durante o ano todo e também no Carnaval. Ela considera muito importante o trabalho realizado através da Prefeitura. "Minha mensagem, principalmente aos adultos é que usem as camisinhas e passem a incentivar as pessoas mais novas para ficarem cientes disso, para que divirtam-se, tenham prazer com respeito e responsabilidade".

O Secretário Municipal de Assuntos Jurídicos, Carlos Henrique Pinto, afirmou estar feliz com os resultados do trabalho de incentivo à prevenção. "É um trabalho imprescindível e alegra-nos muito o fato de Campinas ser a cidade que mais trabalha esta questão, a cidade que mais se destaca no controle da epidemia de aids, que acaba atingindo muitas pessoas em todo o mundo devido à falta de informação e de acesso aos métodos e insumos de prevenção hoje disponíveis", afirmou.

"Considero este trabalho imprescindível, em qualquer momento, não só no momento de grande concentração de pessoas, mas o tempo todo. E aproveito para parabenizar o Programa DST/Aids de Campinas por essa iniciativa tão importante, de conhecimento, de prevenção, levando informação para todos. É por isso que Campinas ocupa este lugar tão importante de destaque no controle desta epidemia", completou.

Para o prefeito de Campinas, Hélio de Oliveira Santos (PDT), que é médico, o trabalho de incentivo à prevenção ao HIV/aids, outras DSTs e ainda à gravidez indesejada, é muito importante e é representa uma conquista da população junto ao Sistema Único de Saúde. "É muito importante que as pessoas utilizem do lazer, da felicidade, da alegria do Carnaval, das festas, mas não esqueçam nunca da camisinha, das medidas preventivas que são fundamentais para salvar vidas", disse.

Centro de Referência do Programa Municipal de DST/Aids de Campinas

Em Campinas o teste de HIV e outras DSTs pode ser realizado no "Coas"/CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento) do Centro de Referência do PMDST/Aids, localizado à rua Regente Feijó, 637, no Centro, aberto de segunda a sexta-feira, das 7h às 20h.

O telefone do "Coas"/CTA é (19) 3236 – 3711. Outro local especializado no aconselhamento e teste de HIV e DSTs é o CTA/Ouro Verde, que funciona somente às segundas-feiras, das 13h às 17h, dentro do Hospital Ouro Verde, na Avenida Rui Rodrigues, 3434, próximo ao Terminal Ouro Verde de ônibus urbanos. O telefone do CTA/Ouro Verde é (19) 3226 – 7475.

Todos os Centros de Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas também oferecem o teste de HIV e outras DSTs, através da campanha nacional "Fique Sabendo", de incentivo ao teste de HIV/aids e outras doenças sexualmente transmissíveis. "O aconselhamento e teste de HIV e outras DSTs no SUS é um direito adquirido pela população", disse a Maria Cristina Ilário. Estimativas do Ministério da Saúde indicam que existem hoje no Brasil cerca de 600 mil pessoas vivendo com o HIV. Dessas, 400 mil não sabem de sua condição sorológica. Portanto, do ponto de vista epidemiológico, o diagnóstico é fundamental para o controle da epidemia de aids. Mas, não é só isso.

O diagnóstico precoce é muito importante para a realização de um tratamento que garanta a qualidade de vida da pessoa infectada. O diagnóstico também pode fazer a diferença na gravidez. Mães que vivem com HIV podem aumentar suas chances de terem filhos sem o vírus da aids, se forem orientadas corretamente e seguirem o tratamento recomendado durante o pré-natal, parto e puerpério. O teste e o tratamento são gratuitos. Além disso, quem realiza o teste em um CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento) conta com apoio e orientação psicológica antes e depois do resultado.

O teste é gratuito, pode ser anônimo e só a pessoa que faz o exame fica sabendo o resultado. Para saber mais sobre aids a população pode acessar o site http://www.aids.gov.br ou ligar para o Disk-Saúde: 0800 61 1997 (do Ministério da Saúde) ou para o Disk-DST/Aids: 0800 16 2550 (do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo).

(colaborou Eliana Fernandes)

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