Campinas anuncia medidas para reabrir o Lago do Café para a população

21/02/2011

Autor: Denize Assis e Marco Aurélio Capitão

A Prefeitura de Campinas anunciou nesta segunda-feira, dia 21 de fevereiro, o conjunto de medidas a serem adotadas para a reabertura do Lago do Café para o uso público. O Lago do Café fica no Parque Portugal, em frente à Lagoa do Taquaral, na região Leste, e integra uma importante área de lazer e turismo no município.

O local está interditado para visitação pública desde outubro de 2008, por ser local de risco para a febre maculosa, doença grave que apresenta letalidade alta e para a qual não existe vacina. No parque já houve quatro casos confirmados do agravo, com três mortes.

A febre maculosa é causada pela bactéria Rickettisia rickttisie transmitida ao homem pelo carrapato do gênero Amblyomma cajenense, conhecido popularmente como carrapato-estrela. O Lago do Café é habitado por capivaras e tem alta infestação deste carrapato.

Medidas.

As medidas incluem manejo ambiental. Esse procedimento implica na remoção da camada superficial do solo nas áreas gramadas numa faixa em torno de 20 centímetros de espessura para posterior cobertura com terra limpa e limpeza e aeração de bambueiras e de todo material vegetal, já que os carrapatos são sensíveis à exposição de raios solares.

A limpeza será efetuada com pá-carregadeira e caminhões, por equipes treinadas e com uso de equipamentos de proteção individual (EPIs). Também será realizada eutanásia das cerca de vinte capivaras que estão confinadas no Parque, conforme indicação e autorização do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A eutanásia será realizada conforme preceitos éticos indicados pelo Conselho de Medicina Veterinária.

Após as ações de manejo ambiental e das capivaras, será promovido novo monitoramento para identificar o grau de infestação de carrapatos do gênero Amblyomma pela Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), órgão da Secretaria de Estado da Saúde.

“Estas medidas visam reduzir drasticamente a infestação de carrapatos e, desta forma, reduzir o risco de transmissão da doença para que a reabertura do Parque possa ocorrer o mais breve possível”, disse o secretário de meio ambiente Paulo Sérgio Garcia de Oliveira. No entanto, segundo ele, neste momento, não é possível estabelecer a data de reabertura do logradouro já que isto depende do controle de todas as situações de risco para a febre maculosa e que só poderão ser mensuradas após monitoramento dos carrapatos.

As medidas anunciadas são particulares e exclusivas para o Lago do Café e foram amplamente discutidas com setores competentes nas esferas federal, estadual e municipal, com base em conhecimentos científicos, tecnologias disponíveis, experiências anteriores, características ambientais do local, fatores epidemiológicos e no risco de adoecimento de pessoas expostas.

“Acatamos determinação do Ibama e recomendações e protocolo tanto da Sucen como do Ministério da Saúde. Nós analisamos várias possibilidades, estudamos, voltamos a conversar com especialistas e não existe alternativa de eficácia comprovada, exceto a eutanásia, que não implique em riscos para o meio ambiente e para o ser humano. Trata-se de uma ação de saúde pública para que possamos controlar as situações de risco para a febre maculosa e devolver esse parque à sociedade”, disse o secretário de Saúde, José Francisco Kerr Saraiva.

As ações para o Lago do Café foram divulgadas em entrevista coletiva para a imprensa na Sala Azul do 4º andar da Prefeitura, na manhã desta segunda-feira. No evento, estavam presentes os secretários municipais de Meio Ambiente, Paulo Sérgio Garcia de Oliveira, de Serviços Públicos, Flávio Augusto Ferrari de Senço, de Comunicação, Francisco de Lagos Viana Chagas, de Assuntos Jurídicos, Antônio Caria Neto, de Saúde, José Francisco Kerr Saraiva, a diretora da Vigilância em Saúde, Maria Filomena de Gouveia Vilela, e a coordenadora da Vigilância Epidemiológica, Brigina Kemp.

A equipe da Vigilância em Saúde de Campinas, informou, ainda, na coletiva, que, além de todas as medidas de manejo ambiental, das capivaras e do monitoramento e controle da infestação de carrapatos, atividades de educação, informação e mobilização social e de vigilância em saúde quanto à febre maculosa serão mantidas de forma permanente no parque.

Também foi informado, pela Secretaria de Meio Ambiente, a criação de um Comitê Assessor para discutir manejo de capivaras em parques públicos e outras áreas públicas de Campinas. Na coletiva, ainda foi ressaltado que a eutanásia das capivaras não é o pilar das ações de controle da febre maculosa em Campinas.

Perguntas e respostas sobre a febre maculosa no Lago do Café:

Quais são os carrapatos que transmitem a Febre Maculosa Brasileira (FMB) para o homem?

Embora possa haver outros carrapatos do gênero Amblyomma também envolvidos no ciclo silvestre da doença, o carrapato Amblyomma cajennense é reconhecido hoje como o principal transmissor da FMB para o homem. Esta espécie de carrapato é a que mais comumente parasita o ser humano. Os nomes populares deste carrapato são micuim, na sua fase de larva e carrapato estrela na sua fase de ninfa. Em qualquer fase da vida este carrapato pode transmitir FMB ao picar o ser humano. É importante destacar que os carrapatos de cães, Rhipicephalus sanguineus, não são transmissores da FMB.

As capivaras não são protegidas por Lei Federal? Por que o IBAMA autorizou o abate?

O IBAMA autorizou o abate por entender que é a única forma de proteger a população que freqüenta o Lago do Café do risco de FMB. Ou seja, o órgão ambiental responsável pela proteção da fauna e flora brasileiras entende que o Lago do Café, na atual situação, representa um grave risco à saúde pública e indicou o abate deste roedor protegido por lei.

Por que as capivaras não podem ser transferidas do Lago do Café para outro local, como alternativa ao abate?

As capivaras que estão no Lago do Café são hospedeiras de uma enorme quantidade de carrapatos infectados pela bactéria causadora da FMB (Rickettsia rickettsii). Caso sejam transferidas, levarão junto as bactérias e espalharão a doença.

Por que não usar carrapaticidas, tanto nas capivaras quanto no local?

Já foi tentado este tipo de abordagem em outros locais, sem sucesso. Houve apenas uma diminuição da população de carrapatos, mas o risco de FMB se manteve.

Por que não usar repelentes e Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para os freqüentadores do parque?

Os repelentes podem até ajudar, mas não garantem proteção absoluta. Os EPIs para proteção contra os carrapatos são extremamente desconfortáveis. Para se ter proteção garantida os técnicos que trabalham com esta doença usam macacões parecidos com os usados para apicultura, manejo de abelhas.

Se as capivaras forem eliminadas, o parque será reaberto ao público quanto tempo depois?

Mesmo com a eliminação das capivaras os carrapatos continuarão no solo e nas folhagens e, portanto, deverá ser feito um trabalho de manejo ambiental para acabar definitivamente com a infestação. Este trabalho será acompanhado de monitoramento da infestação até que seja concluído. Portanto, não é possível estabelecer um prazo para a reabertura.

Qual a importância das capivaras na cadeia de transmissão da Febre Maculosa?

A capivara tem dois papéis importantíssimos na cadeia de transmissão da FMB. A capivara, o cavalo e a anta são os únicos hospedeiros primários do Amblyomma cajennense, carrapato responsável pela transmissão da FMB para o homem. Ou seja, em um local em que não há estes mamíferos, este carrapato não consegue se estabelecer. Outro papel-chave da capivara é o de se infectar pela bactéria e transmiti-la para os outros carrapatos, até então livres da bactéria e que estejam parasitando-a.

Os outros animais que permanecerem no Lago do Café (ex: gambás, preás, aves...) não manterão os carrapatos no parque? Por que o foco é apenas a capivara?

Embora os outros animais citados também possam ser parasitados pelo carrapato Amblyomma cajennense, eles não conseguem manter uma população sustentável. Ou seja, com o passar do tempo este carrapato tende a desaparecer se não houver capivara, anta ou cavalo no local.

Por que a indicação de eliminar as capivaras do Lago do Café e não as de outros locais?

O Lago do Café é um parque fechado com alambrado e já foi confirmado ser um local com transmissão de FMB. Ou seja, as capivaras que vivem lá são parasitadas pelos carrapatos infectados pela Rickettsia rickettsii, bactéria causadora da FMB. Nos últimos anos, quatro pessoas tiveram febre maculosa contraída naquele local, sendo que três morreram. Além disto, não é possível controlar as capivaras de vida livre, pois as populações são rapidamente repostas por migração e/ou reprodução, o que não acontecerá no Lago do Café por ser um local fechado.

Fonte: Vigilância em Saúde de Campinas

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