Projeto para Mansões Santo Antônio começa em maio a um custo de R$ 250 mil

04/03/2004

As ações na região do loteamento terão início em maio, com duração de quatro meses

Marco Aurélio Capitão

Num investimento de R$ 250 mil, a região do loteamento Mansões Santo Antônio, em Campinas, juntamente com outras quatro áreas de contaminação ambiental no Brasil, está incluída no projeto-piloto do Ministério da Saúde que utiliza uma metodologia avançada de avaliação de risco para investigar áreas contaminadas por produtos químicos.

O anúncio da inclusão foi feito na tarde de ontem, no Palácio dos Jequitibás, pelo coordenador-geral da Vigilância Ambiental da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, o médico e doutor em epidemiologia ambiental, Guilherme Franco Neto.

O coordenador-geral anunciou para os dias 12 e 13 de abril o primeiro curso de capacitação para a execução do projeto de avaliação de risco, que deve contar com a participação de, no máximo, dez profissionais da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas. Na seqüência, ainda em abril, um segundo curso vai envolver até vinte pessoas.

O primeiro curso, conforme explica Franco Neto, vai envolver os técnicos que estarão diretamente envolvidos no projeto-piloto. Segundo ele, a complexidade do curso, de caráter intensivo, explica o número reduzido de participantes.

Os treinamentos serão ministrados por seis técnicos da Vigilância Ambiental da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, especialistas em avaliação de risco, e serão custeados pelo Ministério da Saúde.

As ações na região do loteamento Mansões Santo Antônio têm início em maio e, segundo Franco Neto, terão duração de quatro meses. "Essa metodologia – garante o coordenador – diferencia das demais porque, ao contrário das outras, avalia o histórico da ocorrência, isto é, o que aconteceu no passado, está acontecendo no presente e vai acontecer no futuro".

Ele lembra que a metodologia inclui, ainda, entre outras medidas, uma análise pormenorizada de documentos, processos judiciais e estudos toxicológicos e ainda considera a preocupação da população com a sua saúde.

O projeto, baseado na metodologia da ATSDR – Agency for Toxic Substances and Disease Registry, nos Estados Unidos, terá um enfoque voltado para as características brasileiras. "Nossas ações serão desenvolvidas considerando a lógica do SUS (Sistema Único de Saúde), as metas da Vigilância Sanitária e a Saúde do Trabalhador", explica o geólogo Alexandre Pessoa, consultor da Coordenadoria-Geral da Vigilância Ambiental em Saúde (Cegevam), do Ministério da Saúde.

Alexandre Pessoa ressalta que esse projeto, desenvolvido nos Estados Unidos, vai se adaptar perfeitamente ao Sistema Único de Saúde. "É uma ferramenta a mais que vai complementar o trabalho SUS que, no meu entender, é uma das iniciativas mais fantásticas na área de saúde em todo o mundo".

Ações contínuas

"As ações na área das Mansões serão o primeiro passo de uma série de providências que serão estendidas para outras regiões em Campinas e que também poderão ser aproveitadas em outras cidades brasileiras", afirma o arquiteto da Vigilância em Saúde da Prefeitura, Flávio Gordon.

Conforme adianta o arquiteto, o projeto de avaliação de risco terá seqüência

em outras dez áreas contaminadas, indicadas pela Cetesb – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Segundo ele, a Prefeitura já identificou outras 21 áreas potencialmente contaminadas, que incluem empresas desativadas e em operação e aterros ou locais de descarte de resíduos industriais.

"Tratam-se de áreas identificadas como suspeitas de contaminação. A Prefeitura quer assumir uma ação preventiva para que casos como o das Mansões não ocorram novamente", diz Flávio Gordon.

O Ministério da Saúde estima que só no Brasil existem 6 mil áreas contaminadas. Essas estatísticas chegam a 500 mil nos EUA, 300 mil na Alemanha, 100 mil na Holanda, 50 mil na Suíça, 21 mil na Áustria e 10.700 na Dinamarca.

Entenda o caso

A contaminação ambiental nas Mansões Santo Antônio foi ocasionada por uma já extinta indústria de produtos químicos, a Proquima. A empresa esteve instalada no local por mais de vinte anos, desde antes de 1976 até 1996. A fábrica foi, então, fechada e o terreno adquirido pela construtora Concima que, em 1997, iniciou lá a construção de um condomínio. Atualmente, já estão construídos na área três blocos de apartamentos, sendo que um deles já está ocupado por 43 famílias.

Em 15 de abril de 2002, a Prefeitura Municipal de Campinas foi informada oficialmente pela Cetesb, órgão responsável pelo Meio Ambiente no Estado de São Paulo, sobre a situação ambiental inadequada.

Desde então, a Prefeitura tem adotado uma série de intervenções para conter ou atenuar a contaminação da área e para conter os riscos que ela possa trazer às pessoas. A população foi orientada para não utilizar água que provenha do solo. Equipes da Secretaria de Saúde interditaram 19 poços, lacraram uma nascente e outros três poços. Também foi providenciada ligação de água tratada pela Sanasa. Um grupo de moradores e de trabalhadores da Concima e da Gardênia estão sendo submetidos à exames clínicos e laboratoriais.

Também foram embargadas, em 27 de setembro de 2002, quatro construções que estão naquela área. As obras tiveram que ser suspensas porque, por necessitarem de movimentação de solo, poderiam oferecer risco para a saúde dos trabalhadores. A suspensão tem como base o decreto 14.091, publicado no Diário Oficial do Município de 27 de setembro de 2002.

A Prefeitura solicitou assessoria técnica à Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que está sendo fornecida por meio de profissionais dos Departamentos de Medicina Preventiva e Social, de Química e de Geociências.

O trabalho da Prefeitura também tem apoio técnico da Fundacentro (órgão do Ministério do Trabalho), da Funasa (órgão do Ministério da Saúde) e da Fiocruz (órgão do Ministério da Saúde e do Governo de Estado do Rio de Janeiro), além da assessoria dos Centros de Vigilância Sanitária e de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde e da DIR 12 (Direção Regional de Saúde de Campinas).

Produtos perigosos

A Proquima trabalhava com a recuperação de solventes, a partir de resíduos industriais ou solventes contaminados, e com a fabricação de produtos de limpeza utilizando as seguintes substâncias: isopropanol, metanol, hidrocarboneto clorado húmido, querosene, etanol, toluol, butanol, dicloroetano, percloroetileno, acetona, clorofórmio em metanol, piridina, nomilfenoletoxilado, isobutilglicol, ácido fosfórico, soda líquida, ácido sulfônico, xileno sulfonato de sódio, sal quaternário de amônio, barrilha e tall-oil.

Até 1990, a Proquima recebeu, da Cetesb, 13 penalidades de advertência e cinco multas. Em julho de 90, a indústria foi interditada. A medida foi suspensa em agosto daquele mesmo ano, pelo juiz da 8ª Vara Cível da Comarca de Campinas. A liminar permitiu que a fábrica funcionasse até 7 de abril de 1995, quando foi assinado termo de compromisso com o Poder Judiciário para desativação da empresa em 18 meses. Em 1996, a Proquima encerrou as atividades.

Concima

Em 1996, a Concima S/A Construções Civis adquiriu o terreno da Proquima. Em 1997 iniciou a construção de oito blocos de apartamentos, sendo quatro em cada terreno de 8 mil metros quadrados.

Em 2001, quando ia iniciar o segundo empreedimento, a Concima teve que solicitar a autorização no Grapohab (órgão estadual que analisa projetos imobiliários acima de 15 mil metros quadrados). O pedido foi, então, indeferido pela Cetesb por se tratar de área suspeita de contaminação.

Em 25 de outubro de 2001, a Cetesb autuou a Concima, por meio de auto de infração, e determinou algumas providências. Dentre elas, isolar a área, paralisar obras de terraplanagem, interromper a venda de apartamentos, avaliar a qualidade da água de poços, avaliar qualitativamente os compostos orgânicos voláteis e avaliar os níveis de explosividade destes compostos. O responsável pela área é o atual proprietário, portanto a Concima que deve, inclusive, apresentar um estudo sobre o risco e uma proposta de recuperação da área.

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