Campinas expõe em fórum experiência de sucesso no tratamento da tuberculose

23/03/2004

Denize Assis

A experiência de Campinas no tratamento da tuberculose é um dos temas a serem discutidos nesta quarta-feira, 24 de março, Dia mundial contra a doença, na 10a edição do fórum sobre o tema promovido pela Secretaria de Estado da Saúde. O evento acontece das 8h30 às 16h na avenida Monteiro Lobato, 690, em Guarulhos. Este ano o tema será "A mobilização social e o controle da tuberculose".

O trabalho de Campinas será relatado pela auxiliar de enfermagem Cecília de Oliveira Silva, do Centro de Saúde Dic 1 (região Sudoeste). A profissional faz parte da equipe responsável pelo paciente P. L. A, de 53 anos. P. é andarilho e abandonou o tratamento por várias vezes até passar a ser acompanhado no Centro de Saúde do Dic 1, em 2002. Em fevereiro de 2003, depois de um ano de cuidados, P. teve alta.

"É uma satisfação imensa acompanhar a cura de uma pessoa. Existe tratamento eficaz para a tuberculose. O caso de P. só reafirmou minha convicção de que uma rede competente de diagnóstico e tratamento e o empenho do profissional de saúde são fundamentais para o controle da doença", diz Cecília. Ela afirma que a participação dos agentes comunitários de saúde foi extremamente importante para a cura de P.

O Dia Mundial contra a Tuberculose foi lançado em 1982 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela União Internacional contra a Tuberculose e Doenças Pulmonares. A data homenageava os 100 anos do anúncio do descobrimento do bacilo causador da doença, realizado em 24 de março de 1882, por Robert Koch.

Campinas registrou 377 casos novos de tuberculose em 2003

A cada ano, o Brasil tem descoberto cerca de 90 mil doentes de tuberculose e registrado mais de 6 mil mortes. Em Campinas, a situação também é grave. Em 2003, foram notificados, na cidade, 377 novos casos da doença e 11 mortes. Do total de óbitos, seis se referem a pessoas com mais de 60 anos. Em 2002, foram 454 casos novos e oito mortes, sendo duas em idosos. Os dados foram divulgados pela Vigilância em Saúde de Campinas nesta terça-feira, 23, e serão expostos também no Fórum Estadual de Tuberculose.

No encontro, a equipe da Prefeitura de Campinas vai falar ainda dos avanços obtidos no controle da tuberculose, desafios e as estratégias que estão sendo colocadas em prática no município.

Segundo a enfermeira sanitarista Maria do Carmo Ferreira, da Vigilância em Saúde de Campinas, entre os avanços é preciso ressaltar a redução na incidência. Em 2002, a cidade registrou 45,6 casos novos por 100 mil habitantes. Em 2003, foram 37 por 100mil/habitantes. "A mortalidade também vem reduzindo a cada ano. No entanto, enquanto diminui entre a população em geral, tem aumentado entre idosos", afirma a enfermeira.

Desafio. Segundo Carmo Ferreira, Campinas também enfrenta o desafio de diminuir o número de pacientes que abandonam o tratamento. Do total de casos tratados na rede municipal (uma média de 500 por ano – incluindo casos novos), cerca de 10% abandonam o tratamento antes de estarem curados. Dados da Secretaria Municipal de Saúde apontam que, em 1995, a taxa de abandono era de 19%.

Na tentativa de superar este desafio, a Secretaria de Saúde de Campinas desenvolve, desde 2001, por meio do Programa de Saúde Paidéia, o Tratamento Supervisionado Modificado, uma forma de tratar que vai além de ver o paciente tomar a medicação, como preconiza a OMS. A sanitarista explica que, neste modelo, o profissional de saúde também acolhe, assiste e estimula a pessoa a se tratar, além de trabalhar para que o paciente desenvolva autonomia no tratamento.

E, de acordo com a enfermeira, a grande diferença do Tratamento Supervisionado Modificado está na construção do vínculo entre pacientes e profissionais da saúde e da promoção social. "A freqüência dos contatos entre a equipe de saúde e o paciente é maior. Além disso, são desenvolvidos projetos terapêuticos individuais e a cidadania também é estimulada", diz.

A experiência de Campinas aponta que, quando o tratamento é auto administrado – feito pelo próprio paciente –, a taxa de cura fica em torno de 50%. Quando o tratamento é realizado com o apoio dos profissionais de saúde (que vê o paciente engolir a medicação), este índice sobe para perto de 75%. No total, a taxa de cura no município é de 60%.

Metas. As metas da OMS para o controle da tuberculose no mundo são: detecção de 70% e cura de 85% dos casos em 2005; redução pela metade das taxas de morbidade e mortalidade em 2010, se comparadas com as de 2000; e diminuição da incidência para um caso por cada um milhão de habitantes em 2050.

Tosse é o sintoma mais marcante

O sintoma mais freqüente da tuberculose é a tosse, muitas vezes acompanha de escarro. Também podem surgir febre baixa, geralmente no final da tarde, fraqueza no corpo, perda de apetite, dores no peito e nas costas, suores noturnos e, às vezes, escarro com sangue. A pessoa com tuberculose transmite a doença através das gotículas de saliva eliminadas através da tosse, fala ou espirro. A tuberculose tem cura. O tratamento é gratuito e todos os medicamentos estão disponíveis nos Centros de Saúde.

Município promove seminário sobre ocorrências em idosos e crianças

Para capacitar profissionais de saúde da rede básica, a Secretaria de Saúde de Campinas promove, no próximo dia 6 de abril, um Seminário de Atualização em Tuberculose na Infância no Idoso. O evento acontece no Salão Vermelho da Prefeitura, das 8h30 às 12h e é dirigido a médicos pediatras, generalistas e clínicos gerais e a enfermeiros. As inscrições devem ser feitas no Centro de Educação do Trabalhador da Saúde (Cets). Informações podem ser obtidas pelos telefones: 3236 2089 ou 32328415.

Segundo a enfermeira sanitarista Brigina Kemp, para o controle da tuberculose, é fundamental a capacitação de pessoal da atenção básica à saúde e o fortalecimento de uma rede competente de diagnóstico e tratamento. "Por isso, no seminário, vamos dar ênfase à doença na infância e na velhice. Nossa meta é melhorar a investigação em crianças e melhorar o diagnóstico entre a população idosa", diz.

Programação:

8h30: Recepção

8h45: Abertura – Contextualização dos temas. Enfermeira Brigina kemp

9h15: Diagnóstico e tratamento da tuberculose na infância e adolescência. Com o médico Ricardo César Caraffa, do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

10h: Intervalo

10h15: Diagnóstico e tratamento da tuberculose no idoso, com dr. Sidnei Bombarda, do Departamento de Pneumonia do Hospital de Clínicos da USP e da Prefeitura de São Paulo.

11h: Debate

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