Denize Assis
A Secretaria de Saúde de Campinas divulgou nesta
sexta-feira, dia 11 de março, para unidades e
profissionais da rede pública municipal de saúde, nota
que reforça a necessidade das equipes estarem atentas a
casos de acidentes com escorpiões. O documento também
orienta que sejam revistas normas de tratamentos antipeçonhentos
para uma mais precisa identificação da espécie
envolvida no agravo, tratamento indicado e
encaminhamentos necessários.
A divulgação da nota foi indicada pela Direção
Regional de Saúde de Campinas (Dir XII) após os
registros das mortes de duas crianças picadas por
escorpião em cidades da região. Os óbitos ocorreram
domingo, dia 6, em Santa Bárbara, e na última
quarta-feira, dia 9, em Amparo. Nos dois casos, os
acidentes ocorreram no quintal da própria casa das vítimas.
Em janeiro, a Secretaria de Saúde de Campinas já
havia reforçado para a rede de serviços da Prefeitura
as orientações quanto a acidentes com escorpiões
porque esta época do ano é propícia à ocorrência de
acidentes envolvendo esses animais.
Segundo a médica veterinária Tosca de Lucca, do
Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Campinas, nos
meses de primavera e verão, que coincidem com a fase
reprodutiva de animais peçonhentos, os escorpiões
acabam desabrigados em conseqüência das inundações e
porque cresce o volume de água nas redes de escoamento.
"E, com a maior disponibilidade deles no meio
ambiente e em locais de maior acesso para o homem,
aumenta também o risco de acidentes", diz Tosca.
Por isso, diz a veterinária, é fundamental que as
pessoas mantenham seus quintais livres de entulhos e
restos de materiais de construção porque é nos locais
que acumulam estes resíduos que os escorpiões procuram
se abrigar. "Também é importante, principalmente
o período noturno, que as pessoas vedem ralos e fechem
frestas para evitar que os escorpiões entrem nas
casas", afirma.
Estatísticas. Em
Campinas, de acordo com informações
do Departamento de Saúde Coletiva Municipal, dos 214
acidentes com animais peçonhentos registrados pela
Vigilância em Saúde em 2004, 36 foram ocasionados por
escorpiões e o mês com o maior número de ocorrências
foi janeiro, quando houve 10 acidentes. Não houve
mortes segundo as informações da Secretaria de Saúde.
Segundo a Tosca, as espécies encontradas em Campinas
são a do escorpião amarelo (Tityus serrulatus)
e a do escorpião marrom (Tityus bahiensis). A
picada da espécie Tityus serrulatus é mais
grave porque ele inocula mais veneno. Tosca informa que
a cidade tem uma incidência importante destes animais
peçonhentos em todas as cinco regiões do município.
O biólogo Edílson Geanfrancisco Soave, da Vigilância
em Saúde (Visa) Sudoeste, informa que a gravidade dos
acidentes varia de acordo com alguns fatores. "A
quantidade de veneno injetado, bem como a idade e peso
da vítima podem fazer a diferença", diz. Em
Campinas, os acidentes têm sido verificados em pessoas
de todas as faixas etárias, com uma concentração
maior em homens com idade entre 15 e 49 anos. O veneno,
afirma Edílson, atua principalmente no sistema nervoso
- ação neurotóxica . "A substância provoca dor
intensa, abaixa a temperatura do corpo, acelera a pulsação
e pode matar".
O biólogo diz que os acidentes mais freqüentes
variam de leves a moderados. De acordo com ele, nos
casos graves, além da anestesia local, o paciente
recebe soro antiescorpiônico. "O soro aplicado
para o tratamento é feito do próprio veneno do escorpião",
informa.
A Secretaria de Saúde de Campinas informa que o
Centro de Saúde deve ser notificado toda vez que um
escorpião for encontrado, mesmo que não tenha havido
acidentes. Em casos de acidentes, as pessoas devem
procurar o mais rápido possível pelo Centro de Saúde
ou serem encaminhadas ao Centro de Controle de Intoxicações
(CCI) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Se
possível, o animal peçonhento deve ser levado para
identificação. Os Distritos de Saúde e o Centro de
Controle de Zoonoses também podem ser acionados para
orientar quanto a prevenção e para realizar identificação
da espécie.