Denize
Assis
Em decorrência
do grave surto de Doença de Chagas Aguda em Santa Catarina,
a Vigilância em Saúde (Visa) de Campinas divulgou, no início
desta semana, informe técnico para todas as equipes da rede
pública municipal de saúde. No documento, estabelecido
conforme indicação do Ministério da Saúde e do Centro de
Vigilância Epidemiológica (CVE) do estado de São Paulo, a
Visa atualiza a situação do surto, define critérios para
considerar uma pessoa como suspeita e estabelece o fluxo
para vigilância e encaminhamento dos casos expostos.
O surto da
doença provocou seis mortes. Trinta e um casos foram
confirmados pela Secretaria de Saúde de Santa Catarina e
muitas pessoas ainda estão sob investigação. Todos os
doentes contaram a mesma história. Eles pararam às margens
da BR 101, em cidades no litoral norte de Santa Catarina,
para tomar caldo de cana. Após duas semanas de investigação,
os exames comprovaram: foi um caso raro de transmissão de
Mal de Chagas por ingestão.
Conforme
orientação do Ministério da Saúde, a Secretaria de Saúde
de Campinas, por meio da Visa, se preparou para receber
pessoas que possam ter sido expostas à doença. "São
aqueles casos em que a pessoa viajou para Santa Catarina e
tomou caldo de cana nas cidades de Navegantes, Joinville e
Itapema, no período de 8 a 26 de fevereiro,", afirma o
médico sanitarista André Ricardo Ribas de Freitas, da Visa
de Campinas.
Com a notícia
da contaminação, várias pessoas procuraram os Centros de
Saúde de Campinas com dúvidas acerca de terem sido
expostas ou não. Em três casos, embora os pacientes não
apresentem sintomas, a Visa considerou que havia necessidade
de coletar amostras de sangue para exame laboratorial.
De acordo
com André Ricardo, o procedimento é necessário porque as
pessoas contaminadas podem não apresentar sintomas na fase
inicial da doença. Mas, passada essa fase aguda –
aparente ou inaparente – a pessoa fica com uma infecção
assintomática, que pode nunca se manifestar ou, então, se
expressar décadas mais tarde em uma das formas crônicas.
O
sanitarista informa, ainda, que todos os casos expostos -
toda pessoa que consumiu o referido caldo de cana nos municípios
citados acima no mesmo período - devem ser notificados à
Vigilância em Saúde de Campinas e, caso necessário, serão
encaminhados para tratamento e acompanhamento no Ambulatório
de Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp).
Geralmente,
informa a médica sanitarista Naoko Silveira, da Visa de
Campinas, a Doença de Chagas é transmitida pelo barbeiro.
Ele pica a pessoa e defeca no local da picada. A pessoa, ao
se coçar, pode fazer com que as fezes infectadas com o Trypanosoma
cruzi contaminem a corrente sangüínea.
Mas o que
aconteceu em Santa Catarina foi infecção por ingestão. As
pessoas beberam uma grande quantidade de parasitas no caldo
de cana. As fezes do barbeiro ou o próprio inseto podem ter
sido moídos junto com a cana. "O parasita atinge a
corrente sangüínea e ocorre uma infecção generalizada
que pode levar à morte", diz Naoko.
Saiba mais.
A Doença de Chagas foi descoberta pelo cientista brasileiro
Carlos Chagas, em 1909. Também conhecida como Mal de
Chagas, atinge 18 milhões de pessoas na América Latina, única
região do mundo onde ocorre. Só no Brasil, são seis milhões
de portadores. Dez vezes mais que o número de infectados
pelo vírus HIV. A doença mata 33 mil brasileiros todos os
anos.