Campinas orienta equipes de saúde sobre atendimento a pessoas expostas ao Mal de Chagas

31/03/2005

Denize Assis

Em decorrência do grave surto de Doença de Chagas Aguda em Santa Catarina, a Vigilância em Saúde (Visa) de Campinas divulgou, no início desta semana, informe técnico para todas as equipes da rede pública municipal de saúde. No documento, estabelecido conforme indicação do Ministério da Saúde e do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) do estado de São Paulo, a Visa atualiza a situação do surto, define critérios para considerar uma pessoa como suspeita e estabelece o fluxo para vigilância e encaminhamento dos casos expostos.

O surto da doença provocou seis mortes. Trinta e um casos foram confirmados pela Secretaria de Saúde de Santa Catarina e muitas pessoas ainda estão sob investigação. Todos os doentes contaram a mesma história. Eles pararam às margens da BR 101, em cidades no litoral norte de Santa Catarina, para tomar caldo de cana. Após duas semanas de investigação, os exames comprovaram: foi um caso raro de transmissão de Mal de Chagas por ingestão.

Conforme orientação do Ministério da Saúde, a Secretaria de Saúde de Campinas, por meio da Visa, se preparou para receber pessoas que possam ter sido expostas à doença. "São aqueles casos em que a pessoa viajou para Santa Catarina e tomou caldo de cana nas cidades de Navegantes, Joinville e Itapema, no período de 8 a 26 de fevereiro,", afirma o médico sanitarista André Ricardo Ribas de Freitas, da Visa de Campinas.

Com a notícia da contaminação, várias pessoas procuraram os Centros de Saúde de Campinas com dúvidas acerca de terem sido expostas ou não. Em três casos, embora os pacientes não apresentem sintomas, a Visa considerou que havia necessidade de coletar amostras de sangue para exame laboratorial.

De acordo com André Ricardo, o procedimento é necessário porque as pessoas contaminadas podem não apresentar sintomas na fase inicial da doença. Mas, passada essa fase aguda – aparente ou inaparente – a pessoa fica com uma infecção assintomática, que pode nunca se manifestar ou, então, se expressar décadas mais tarde em uma das formas crônicas.

O sanitarista informa, ainda, que todos os casos expostos - toda pessoa que consumiu o referido caldo de cana nos municípios citados acima no mesmo período - devem ser notificados à Vigilância em Saúde de Campinas e, caso necessário, serão encaminhados para tratamento e acompanhamento no Ambulatório de Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Geralmente, informa a médica sanitarista Naoko Silveira, da Visa de Campinas, a Doença de Chagas é transmitida pelo barbeiro. Ele pica a pessoa e defeca no local da picada. A pessoa, ao se coçar, pode fazer com que as fezes infectadas com o Trypanosoma cruzi contaminem a corrente sangüínea.

Mas o que aconteceu em Santa Catarina foi infecção por ingestão. As pessoas beberam uma grande quantidade de parasitas no caldo de cana. As fezes do barbeiro ou o próprio inseto podem ter sido moídos junto com a cana. "O parasita atinge a corrente sangüínea e ocorre uma infecção generalizada que pode levar à morte", diz Naoko.

Saiba mais. A Doença de Chagas foi descoberta pelo cientista brasileiro Carlos Chagas, em 1909. Também conhecida como Mal de Chagas, atinge 18 milhões de pessoas na América Latina, única região do mundo onde ocorre. Só no Brasil, são seis milhões de portadores. Dez vezes mais que o número de infectados pelo vírus HIV. A doença mata 33 mil brasileiros todos os anos.

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