O Hospital
Municipal Dr. Mário Gatti (HMMG) realizou oficialmente
sua primeira colangiopancreatografia retrógrada
endoscópica (CPRE), um exame que permite diagnosticar e
tratar afecções no fígado, vesícula biliar, canais
biliares e pâncreas, sem a necessidade de fazer um corte
convencional. Até então, este exame era comprado de
terceiros, o que gerava um gasto anual próximo de R$ 80
mil para o hospital.
O
procedimento foi realizado em um homem com cerca de 80
anos, com cálculo no canal da bile. “O paciente era
portador de doença cardíaca e pulmonar grave, cuja vida
corria risco se fosse realizada a cirurgia convencional.
O cálculo foi retirado por meio de uma papilotomia e o
paciente teve alta em 24 horas”, explica o médico
endoscopista Fabrício da Silveira Bossi, autor da
cirurgia. A CPRE demora de 30 minutos a 4 horas.
Segundo
Bossi, a rápida recuperação do paciente é outro fator
importante na realização da CPRE. Em procedimentos
convencionais, a recuperação pode levar até três meses,
com grande desconforto para o usuário. “Com a CPRE o
paciente já pode ter alta no dia seguinte”, diz. Os
setes médicos endoscospistas do hospital estão aptos
para realizar a colangiopancreatografia.
De acordo
com o médico cirurgião Salvador Pinheiro, diretor
técnico do HMMG, o novo serviço traz conforto para os
usuários e economia para o hospital “Em 2006 gastamos
cerca de R$ 80 mil para realizar em torno de 30
colangiopancreatografias. Este ano deveremos realizar um
número superior, com o custo praticamente zero”, diz. O
procedimento é realizado somente em pacientes internados
no hospital.
Exame
A CPRE é
um exame no qual um endoscópio (um tubo longo e
flexível, com iluminação e uma microcâmera na ponta) é
inserido na boca e passado através do estômago e do
duodeno até a região da papila duodenal (local onde o
suco do pâncreas e a bile são excretados para o
intestino). Em seguida, é injetado um contraste (uma
substância visível ao raio X) nos canais biliares e
pancreáticos, onde são realizadas as radiografias.
As imagens
vistas durante o exame podem mostrar inúmeras doenças
associadas ao pâncreas e a árvore biliar (canais da bile
dentro e fora do fígado). Conforme a doença
diagnosticada pode-se realizar um tratamento mesmo por
via endoscópica.
Um dos
achados mais comuns é a presença de pedras no canal da
bile (coledocolitíase). Ela ocorre geralmente devida a
migração de um cálculo da vesícula biliar para dentro do
canal da bile. Quando isto ocorre, pode-se ter inúmeras
complicações e o paciente fica invariavelmente de
coloração amarelada (icterícia) como se tivesse
hepatite, além de correr o risco de infecção grave (colangite),
que pode levar à morte.
“O
procedimento, como todo ato cirúrgico, não é isento de
complicações e a principal delas é a pancreatite, que em
casos graves pode ser fatal”, diz Bossi. Mesmo assim,
quando bem indicado, principalmente se o motivo é
terapêutico e não diagnóstico, os benefícios sobressaem
sobre a possibilidade de complicações. A
colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) já
é realizada nos demais hospitais de Campinas.
Órgãos
O fígado é
um órgão que, entre outras coisas, faz um líquido
chamado bile que auxilia a digestão. A vesícula biliar é
um órgão pequeno, em forma de pêra, que armazena a bile
até que seja necessária para a digestão. Os canais
biliares transportam a bile do fígado para a vesícula
biliar e intestino delgado. Estes canais são chamados
algumas vezes de árvore biliar. O pâncreas é um órgão
que produz substâncias químicas que ajudam a digestão e
hormônios como a insulina.