Moradores de Campinas celebram com festa a cura da tuberculose

29/03/2010

Autor: Denize Assis

Quinta-feira, dia 25 de março, foi um dia de festa para um grupo de pacientes da Secretaria de Saúde de Campinas. Eles comemoraram a cura da tuberculose, uma doença que, apesar de ter tratamento com comprovada eficácia, levou à morte 11 pessoas em Campinas em 2008.

A comemoração – que integrou as atividades pelo Dia Mundial da Tuberculose, em 24 de março -, no Centro de Referência do Programa de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST/Aids), reuniu cerca de 80 pessoas entre usuários e profissionais de saúde. A coordenadora do Programa Municipal de DST/Aids, a médica infectologista Cláudia Barros, e o secretário de Saúde, José Francisco Kerr Saraiva, participaram do evento, além de representantes da Vigilância em Saúde de Campinas e de Organizações Não-Governamentais (ONGs) que lutam contra a doença.

Uma das pessoas que se curou foi a auxiliar de limpeza A. J. da S., de 33 anos. “Muitas vezes pensei em abandonar o tratamento. Meu cabelo caiu, entrei em depressão. Mas sempre fui muito bem cuidada e tratada pela equipe, inclusive pelo doutor Gabriel. Eles me acolheram, estimularam e me fizeram confiar que eu ia conseguir. Minha família foi envolvida no processo e agradeço a eles – meu marido e meus três filhos – também. Foram seis meses e dois dias até a cura. Estou super feliz. É uma vitória da vida”, disse A., que recebeu um diploma das mãos de uma integrante da equipe multidisciplinar que a acompanhou.

O infectologista Gabriel Poletini também foi homenageado no evento, como o médico com o maior número de pacientes que se curaram. Segundo ele, o grande mérito, na verdade, é da equipe multidisciplinar, qualificada e permanentemente estimulada para acolher o paciente como pessoa e lhe assegurar confiança. Conforme explica o médico, a equipe conta com retaguarda institucional para garantir laboratório eficiente, farmácia adequada, humanização, acolhimento e toda provisão de incentivos aos pacientes.

“Tudo isso possibilita que o paciente faça adesão não só ao tratamento, mas ao cuidado que ele recebe. É necessário que ele se sinta cidadão. E o ganho do paciente é o nosso ganho. Portanto, quero exaltar toda equipe, inclusive o pessoal da limpeza”, disse.

Segundo a médica sanitarista Luciene Medeiros, do Centro de Referência do Programa Municipal de DST e Aids, os pacientes com co-infecção tb/HIV do CR são acompanhados por uma equipe de agentes comunitários de saúde que têm a tarefa de oferecer a eles apoio durante todo o período de tratamento. Esse apoio tem como princípio a humanização, baseada no respeito, vínculo e solidariedade. São desenvolvidos projetos terapêuticos singulares com o objetivo de facilitar a adesão do paciente ao seu tratamento e ao serviço. Toda a equipe do CR se envolve nos projetos terapêuticos individuais.

“Como resultado dessa abordagem, desde 2004 a taxa de cura de tuberculose no CR está acima de 80%, chegando a 90% em 2007. Esse trabalho é desenvolvido desde 1999 e o modelo segue as diretrizes da estratégia Dots, preconizada pela OMS, pelo Ministério da Saúde e pela SMS de Campinas”, diz Luciene Medeiros, médica sanitarista do CR/DST Aids de Campinas.

Sobre a doença.

A tuberculose é um grave problema de saúde pública no Mundo. No Brasil, a doença é a 4ª causa de mortes por doenças infecciosas e a 1ª em pacientes com Aids. De acordo com o último relatório divulgado pela Vigilância em Saúde de Campinas, em números absolutos, Campinas registrou 292 novos casos da doença em 2008. Deste total, 36% receberam tratamento supervisonado – quando o profissional de saúde vê o paciente tomar a medicação ou em casa ou no serviço de saúde -, sendo que neste grupo a cura foi de 84% enquanto que a taxa de cura do total de pacientes foi de 74%. A taxa de abandono do tratamento está em 9%.

A tuberculose é uma doença infecciosa, de evolução crônica, causada pelo Mycobacterium tuberculosis, que ataca o pulmão e outros órgãos. Tosse seca ou com catarro por mais de três semanas, emagrecimento, dor no peito, falta de ar, falta de apetite, febre baixa no fim do dia, suores noturnos devem ser investigados, sob pena de a doença deixar seqüelas e, sem tratamento, continuar a ser transmitida. A interrupção na transmissão só se dá entre 15 dias e 30 dias depois de iniciado o tratamento. Até lá, um indivíduo com tuberculose pode infectar entre 10 e 15 pessoas por ano.

É transmitidapelas vias respiratórias. O contágio se dá pelas gotículas de escarro eliminadas pelo enfermo quando tosse ou espirra – e até mesmo pela poeira gerada pelo escarro expelido. A tosse prolongada por mais de três semanas, mesmo sem febre, é o primeiro indício da infecção. O teste de baciloscopia de escarro é o exame adequado para confirmar ou descartar a doença.

O tratamento, à base de antibióticos gratuitamente distribuídos nos centros de saúde, é 100% eficaz. O abandono, porém, é o maior problema: a cura leva seis meses, e muitas vezes o paciente, sem os devidos esclarecimentos, acaba desistindo antes do tempo.

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