Ney Matogrosso encerra campanha de combate à hanseníase em Campinas

30/04/2003

O cantor Ney Matogrosso esteve em Campinas nesta quarta-feira, 30 de abril, para encerrar a campanha de combate à hanseníase. O artista atua em todo território nacional conscientizando as pessoas sobre a realidade da doença no Brasil.

De acordo com o Morhan (Movimento pela reintegração dos portadores de hanseníase), a cada 12 minutos, o País tem um caso novo de hanseníase. Depois da Índia, o Brasil é o País que tem mais casos no mundo.

Ney Matogrosso veio a Campinas a convite da Secretaria Municipal de Saúde e não cobrou cachê. Ele estava acompanhado do presidente Nacional do Morhan, Artur Custódio, e de vários integrantes do movimento.

Ele falou para a imprensa e para profissionais de Saúde. O evento ocorreu na Estação Cultura e contou com a presença da Prefeita Izalene Tiene. Após, ele visitou o Centro de Saúde Faria Lima, uma das referências para o tratamento da doença.

"É preciso derrubar o estigma que marca a doença. Os cidadãos brasileiros precisam saber que a hanseníase tem cura, que o tratamento é gratuito e que, por lei, precisa estar disponível na rede pública de saúde. É neste sentido que atuo", afirmou Ney.

O artista disse ainda que, para ele, trabalhar pela causa dos hansenianos traz uma satisfação enorme. "É o lado bom de ser famoso", afirmou. E disse que a realidade da doença no Brasil é assustadora.

Hanseníase Zero - Em Campinas, a Secretaria Municipal de Saúde acaba de estabelecer como meta o controle total da hanseníase no município. A idéia é eliminar a doença, como problema de saúde pública, em dois anos na cidade. Isso significa atingir, pelo menos, um índice menor do que um doente a cada 10 mil habitantes, conforme estabelece a OMS (Organização Mundial de Saúde).

Atualmente, existe em Campinas 1,3 casos para cada 10 mil habitantes. Para concretizar essa meta, a Secretaria Municipal de Saúde adotou como principal diretriz a descentralização do atendimento.

Iniciada na prática em 2001, a descentralização visa oferecer acompanhamento às pessoas com hanseníase em todos os CSs (Centros de Saúde). Atualmente, 19 dos 46 centros de saúde de Campinas tratam a doença, além do Ambulatório Ouro Verde e do Ambulatório de Dermatologia do Hospital Municipal Mário Gatti.

De acordo com a enfermeira sanitarista Brigina Kemp, coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Campinas, a descentralização facilita o acesso das pessoas, já que o tratamento pode ser feito num local próximo à casa do cidadão. "Essa diretriz – esclarece a enfermeira - também favorece o diagnóstico precoce, já que toda rede passa a estar atenta e sensível para suspeitar e avaliar os casos".

É importante destacar, ainda, que todas as equipes do Paidéia – Saúde da Família estão sendo preparadas para atuar nessa campanha. Para isso, os agentes comunitários de saúde, profissionais que têm contato mais próximo com a população, continuam sendo capacitados para diagnóstico, tratamento, avaliação e prevenção da doença.

A enfermeira Brigina Kemp ressalta que o envolvimento das equipes de saúde possibilitará tratar a doença ainda na fase inicial. "E o diagnóstico precoce favorece a descoberta dos casos em fase não transmissível", diz Brigina.

Dados da Secretaria de Saúde mostram que, em Campinas, a prevalência, isto é, o número de pessoas doentes, é menor que no Estado de São Paulo. De 1995 a 2001, na cidade, a prevalência da doença diminuiu de 3,43 doentes por 10 mil habitantes para 1,3 por 10 mil. Neste período, o número total casos em Campinas caiu de 307 por ano para 134.

No entanto, enquanto cai a prevalência, o número de casos novos a cada ano tem se mantido constante, chegando a 90. Além disso, os casos novos continuam a ser diagnosticados nas formas mais avançadas da doença. E, quando o tratamento é iniciado tardiamente, os pacientes podem desenvolver complicações, ficar com seqüelas e transmitir a doença. Dados apontam que, em Campinas, menos de 15% dos diagnósticos de hanseníase são realizados na forma inicial da doença.

Para Lade Masson, o diagnóstico também ocorreu tardiamente. Os primeiros sintomas começaram aos treze anos de idade, quando ela ainda morava em Minas Gerais. O diagnóstico só foi feito 10 anos depois, quando Lade já apresentava seqüelas como manchas por todo corpo, falta de sensibilidade em alguns locais do organismo e "desabamento" do nariz.

Hoje, aos 47 anos, Lade está curada e atua no Morhan. E depõe: "Trabalho para que ninguém chegue ao estágio em que eu cheguei", disse.

Saiba sobre a hanseníase - É uma doença causada por uma bactéria. É transmitida por uma pessoa infectada que elimina o micróbio pelas vias respiratórias. Para desenvolver a doença, a pessoa deve aspirar uma grande quantidade de bacilos, situação que é favorecida quando há contato prolongado com o doente que não esteja em tratamento.

Os sintomas da doença são manchas brancas ou vermelhas, que não coçam e não doem e são insensíveis ao calor e ao frio. A hanseníase tem cura. O tratamento é simples e é de graça em todos os centros de saúde. O tratamento não pode ser interrompido e, na maioria das vezes, dura seis meses. Nas primeiras doses do medicamento, os micróbios deixam de infectar e, portanto, a doença deixa de ser transmitida.

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