Equipes se preparam para atuar em áreas contaminadas

01/04/2004

Denize Assis

O Ministério da Saúde iniciou esta semana capacitação da equipe da Secretaria de Saúde de Campinas que trabalha diretamente com a população exposta à contaminação ambiental do loteamento Mansões Santo Antônio. A área, localizada no bairro Santa Cândida (região Leste), está contaminada por produtos químicos que podem fazer mal à saúde. Além de 13 servidores municipais, dois profissionais da Secretaria de Estado da Saúde também participaram do curso. Uma próxima turma começa a ser capacitada em maio.

Com a capacitação, o grupo irá acompanhar a equipe do Ministério da Saúde na aplicação de um método avançado de investigação que avalia o histórico da ocorrência e as implicações na saúde. O trabalho integra projeto piloto do Ministério da Saúde quem tem como base a metodologia norte-americana da Agency for Toxic Substances and Disease Registry (ATSDR), que visa dimensionar o risco, subsidiando a intervenção de controle de exposição humana aos contaminantes ambientais. O objetivo do Governo Federal é estabelecer um protocolo brasileiro de investigação de áreas contaminadas por produtos químicos e das populações expostas.

Além da área das Mansões Santo Antônio, outras quatro áreas localizadas em diferentes cidades brasileiras estão incluídas no projeto piloto. Os trabalhos em campo têm início em maio e devem durar quatro meses.

Nesta primeira capacitação, os técnicos do Ministério da Saúde apresentaram o conjunto do método, as diretrizes do trabalho e fizeram recomendações para que a equipe possa complementar os trabalhos que já vêm sendo desenvolvidos na área desde 2001. "A equipe pode se apropriar dos fundamentos da metodologia. O Ministério, por sua vez, recebeu relatório das ações que já foram e estão sendo desenvolvidas no local, além de documentos gerados na investigação. A síntese de tudo que foi discutido consiste nos desdobramentos da próxima etapa do trabalho", informa o arquiteto Flávio Gordon, da Vigilância em Saúde de Campinas.

Flávio afirma que o projeto do Ministério da Saúde vai reforçar o trabalho que já é desenvolvido na área. Segundo ele, as medidas, técnicas e judiciais, já adotadas pela Prefeitura, visam resolver definitivamente a questão. Além disso, as equipes fazem o acompanhamento clínico das pessoas que estiveram submetidas à contaminação.

O médico sanitarista Carlos Eduardo Cantúsio Abrahão, da Vigilância em Saúde de Campinas, informa que a Secretaria de Saúde deve acompanhar e prestar assistência à comunidade exposta por, pelo menos, duas décadas. "Trabalhamos junto à população para reconhecer suas preocupações e conhecer as implicações do problema na saúde. As ações são multidisciplinares", diz.

A expectativa, segundo Flávio, é que ao final dos trabalhos a Vigilância em Saúde possa determinar o perigo, avaliar o grau de exposição e fazer recomendações para o prosseguimento da investigação clínico-epidemiológica-laboratorial da população exposta.

A história das Mansões Santo Antônio

A contaminação ambiental das Mansões Santo Antônio foi ocasionada pela já extinta indústria de produtos químicos, a Proquima. A empresa esteve instalada no local por mais de vinte anos, desde antes de 1976 até 1996, e trabalhava com a recuperação de solventes. Entre os produtos manipulados pela Proquima está o cloreto de vinila, comprovadamente cancerígeno.

Após encerrar suas atividades, a empresa vendeu o terreno para a construtora Concima que, em 1997, iniciou lá a construção de um condomínio. Atualmente, estão construídos na área três blocos de apartamentos, sendo que um deles já está habitado por 43 famílias.

Em abril de 2002, a Prefeitura Municipal de Campinas foi informada oficialmente pela Cetesb, órgão responsável pelo Meio Ambiente no Estado de São Paulo, sobre a situação ambiental inadequada.

Desde então, a Prefeitura tem adotado uma série de intervenções para conter ou atenuar a contaminação da área e para minimizar os riscos que o problema possa trazer às pessoas. A população foi orientada a não utilizar água que provenha do solo. Equipes da Secretaria de Saúde interditaram 19 poços, lacraram uma nascente e outros três poços. A Sanasa providenciou ligação de água tratada. Moradores e trabalhadores do local estão sendo submetidos a exames clínicos e laboratoriais.

Também foram embargadas, em setembro de 2002, quatro construções que estão naquela área. As obras tiveram que ser suspensas porque, por necessitarem de movimentação de solo, poderiam oferecer risco à saúde dos trabalhadores. A suspensão tem como base o decreto 14.091, publicado no Diário Oficial do Município de 27 de setembro de 2002.

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