Denize Assis
O Ministério
da Saúde iniciou esta semana capacitação da equipe da
Secretaria de Saúde de Campinas que trabalha diretamente com a
população exposta à contaminação ambiental do loteamento
Mansões Santo Antônio. A área, localizada no bairro Santa Cândida
(região Leste), está contaminada por produtos químicos que
podem fazer mal à saúde. Além de 13 servidores municipais,
dois profissionais da Secretaria de Estado da Saúde também
participaram do curso. Uma próxima turma começa a ser
capacitada em maio.
Com a capacitação,
o grupo irá acompanhar a equipe do Ministério da Saúde na
aplicação de um método avançado de investigação que avalia
o histórico da ocorrência e as implicações na saúde. O
trabalho integra projeto piloto do Ministério da Saúde quem
tem como base a metodologia norte-americana da Agency for Toxic
Substances and Disease Registry (ATSDR), que visa dimensionar o
risco, subsidiando a intervenção de controle de exposição
humana aos contaminantes ambientais. O objetivo do Governo
Federal é estabelecer um protocolo brasileiro de investigação
de áreas contaminadas por produtos químicos e das populações
expostas.
Além da área
das Mansões Santo Antônio, outras quatro áreas localizadas em
diferentes cidades brasileiras estão incluídas no projeto
piloto. Os trabalhos em campo têm início em maio e devem durar
quatro meses.
Nesta primeira
capacitação, os técnicos do Ministério da Saúde
apresentaram o conjunto do método, as diretrizes do trabalho e
fizeram recomendações para que a equipe possa complementar os
trabalhos que já vêm sendo desenvolvidos na área desde 2001.
"A equipe pode se apropriar dos fundamentos da metodologia.
O Ministério, por sua vez, recebeu relatório das ações que já
foram e estão sendo desenvolvidas no local, além de documentos
gerados na investigação. A síntese de tudo que foi discutido
consiste nos desdobramentos da próxima etapa do trabalho",
informa o arquiteto Flávio Gordon, da Vigilância em Saúde de
Campinas.
Flávio afirma
que o projeto do Ministério da Saúde vai reforçar o trabalho
que já é desenvolvido na área. Segundo ele, as medidas, técnicas
e judiciais, já adotadas pela Prefeitura, visam resolver
definitivamente a questão. Além disso, as equipes fazem o
acompanhamento clínico das pessoas que estiveram submetidas à
contaminação.
O médico
sanitarista Carlos Eduardo Cantúsio Abrahão, da Vigilância em
Saúde de Campinas, informa que a Secretaria de Saúde deve
acompanhar e prestar assistência à comunidade exposta por,
pelo menos, duas décadas. "Trabalhamos junto à população
para reconhecer suas preocupações e conhecer as implicações
do problema na saúde. As ações são multidisciplinares",
diz.
A expectativa,
segundo Flávio, é que ao final dos trabalhos a Vigilância em
Saúde possa determinar o perigo, avaliar o grau de exposição
e fazer recomendações para o prosseguimento da investigação
clínico-epidemiológica-laboratorial da população exposta.
A história
das Mansões Santo Antônio
A contaminação
ambiental das Mansões Santo Antônio foi ocasionada pela já
extinta indústria de produtos químicos, a Proquima. A empresa
esteve instalada no local por mais de vinte anos, desde antes de
1976 até 1996, e trabalhava com a recuperação de solventes.
Entre os produtos manipulados pela Proquima está o cloreto de
vinila, comprovadamente cancerígeno.
Após encerrar
suas atividades, a empresa vendeu o terreno para a construtora
Concima que, em 1997, iniciou lá a construção de um condomínio.
Atualmente, estão construídos na área três blocos de
apartamentos, sendo que um deles já está habitado por 43 famílias.
Em abril de
2002, a Prefeitura Municipal de Campinas foi informada
oficialmente pela Cetesb, órgão responsável pelo Meio
Ambiente no Estado de São Paulo, sobre a situação ambiental
inadequada.
Desde então, a
Prefeitura tem adotado uma série de intervenções para conter
ou atenuar a contaminação da área e para minimizar os riscos
que o problema possa trazer às pessoas. A população foi
orientada a não utilizar água que provenha do solo. Equipes da
Secretaria de Saúde interditaram 19 poços, lacraram uma
nascente e outros três poços. A Sanasa providenciou ligação
de água tratada. Moradores e trabalhadores do local estão
sendo submetidos a exames clínicos e laboratoriais.
Também foram
embargadas, em setembro de 2002, quatro construções que estão
naquela área. As obras tiveram que ser suspensas porque, por
necessitarem de movimentação de solo, poderiam oferecer risco
à saúde dos trabalhadores. A suspensão tem como base o
decreto 14.091, publicado no Diário Oficial do Município de 27
de setembro de 2002.