Seminário prepara equipe para diagnosticar e tratar tuberculose na infância e na velhice

06/04/2004

Denize Assis

Mais de 250 profissionais que atuam na Secretaria Municipal de Saúde de Campinas e em outros serviços médicos da cidade participaram hoje, 6 de abril, do seminário de atualização em tuberculose na infância e no idoso, no Salão Vermelho da Prefeitura. O evento foi mais uma das atividades programadas para marcar o Dia Mundial contra a Tuberculose, ocorrido em 24 de março.

Segundo dados da Vigilância em Saúde do município, embora a incidência da tuberculose tenha diminuído na cidade nos últimos anos, o número de mortes pela doença entre idosos aumentou no último ano. Em 2003, foram notificados 377 novos casos e 11 mortes. Do total de óbitos, seis se referem a pessoas com mais de 60 anos. Em 2002, foram 454 casos novos e oito mortes, sendo duas em idosos.

Entre as crianças, a última morte por tuberculose no município foi registrada em 1980. Mas os serviços de saúde têm feito poucos diagnósticos da doença nesta população. De acordo com os dados da Vigilância, entre 60% e 80% dos casos em crianças só são diagnosticados quando a doença é identificada em alguma outra pessoa adulta da família.

A enfermeira sanitarista Maria do Carmo Ferreira, da Vigilância em Saúde de Campinas, explicou que o diagnóstico da tuberculose nos extremos da vida – infância e velhice – é mais difícil pois, nestes grupos, a doença não apresenta sinais característicos como acontece nos adultos jovens. "Por isso, neste seminário, procuramos sensibilizar e capacitar a rede para que os profissionais pensem em tuberculose também ao acolher esta parcela da população e, assim, pensem na tuberculose entre os diagnósticos diferenciais", disse.

Segundo a sanitarista, no encontro, os participantes foram alertados sobre a importância do exame dos comunicantes – que convivem com a pessoa com tuberculose – pois na maioria dos casos a criança se infecta no próprio domicílio com um adulto às vezes sem tratamento. Em relação aos idosos, entre vários aspectos, foram ressaltados dois pontos. Um deles é a dificuldade de diagnóstico e o outro a reação medicamentosa e interação com outros medicamentos. Outro aspecto importante que os técnicos da Vigilância à Saúde ressaltam é a importância da investigação com atenção para instituições coletivas como casas de idosos e asilos, onde o doente pode estar infectando outros moradores do local, e o fato da letalidade ser mais alta neste grupo etário.

Casos crescem com aumento da expectativa de vida

Um dos palestrantes do seminário, o médico Sidney Bombarda, assistente doutor da disciplina de pneumologia do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP), disse que o crescimento da tuberculose entre idosos pode ser explicada pelo aumento da expectativa de vida.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, até 2025, a população de idosos cresça 224%, sendo que 2/3 dela esteja vivendo em países em desenvolvimento. "São nações que enfrentam crises econômicas, no sistema de saúde e de previdência e que, portanto, encontram mais dificuldades para superar desafios como o de prestar assistência à população idosa, fase da vida em que existe maior suscetibilidade a doenças entre elas a tuberculose", afirmou.

Ele reforçou a importância dos profissionais de saúde estarem sensibilizados para pensar em tuberculose e fazer o diagnóstico diferencial. Com relação ao tratamento, disse que é fundamental que o paciente idoso seja acompanhado de perto. "O tratamento neste público tem algumas particularidades como efeitos colaterais mais intensos".

No encontro, o médico Ricardo César Caraffa, assistente do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirmou que melhorar o diagnóstico da tuberculose na infância é um dos principais desafios de Campinas. De acordo com ele, neste público, o diagnóstico é difícil, os exames ajudam pouco e o profissional muitas vezes não está preparado para pensar em tuberculose.

"Para a identificação dos casos nesta parcela da população, é necessário tomar como base a clínica, a radiologia e os antecedentes epidemiológicos", afirmou.

Caraffa informou que a vacina BCG, aplicada nos primeiros dias de vida, é eficaz principalmente na prevenção das formas graves da doença mas não previne inteiramente contra a tuberculose. "A cobertura da BCG em Campinas é muito boa, chega a mais de 97%. Além disso, a estratégia do tratamento supervisionado modificado, baseado no projeto terapêutico singular, desenvolvido para cada paciente de acordo com as especificidades de cada um, foram avanços importantes no controle da doença na cidade", disse.

O médico ressaltou ainda que a tuberculose tem cura, o tratamento é gratuito e que todos os medicamentos estão disponíveis nos Centros de Saúde. "O sintoma mais marcante da doença é a tosse. A pessoa deve procurar o centro de saúde se apresentar tosse por mais de três semanas. A confirmação da doença em pessoas com este sintoma é dez vezes maior do que na população em geral", finalizou.

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