Paloma
Lopes
Vinte
e seis famílias que vivem no Residencial São Luís passarão
a colher verduras e legumes no quintal de suas casas. Estas
famílias estão integradas no Projeto de Hortas Residenciais,
uma ação intersetorial que envolve as secretarias de Saúde,
Assistência Social e Desenvolvimento Econômico e Trabalho,
além da Administração Regional 13 (AR-13), Departamento de
Parques e Jardins (DPJ), Sindicato Rural e estagiários do
curso de Nutrição da Puc-Campinas. O projeto surgiu em
meados do ano passado com o objetivo de diminuir as carências
nutricionais da comunidade e promover a inclusão social.
De
acordo com Cássia Catarina Pereira, tecnóloga em saneamento
da Vigilância Sanitária (Visa) Noroeste, o projeto atendeu,
inicialmente, 15 famílias. "No ano passado formamos um
grupo, e este ano já estamos com outro. Mas isso não impede
os integrantes do grupo anterior continuem no trabalho",
explica. Por este motivo, sete famílias que participaram do
primeiro grupo estão entre as 26 atendidas atualmente.
"Nossa meta é atender 10 grupos com 15 famílias
cada", diz.
No
Módulo.
Segundo Cássia, o Projeto de Hortas Comunitárias surgiu para
atender a demanda da população que freqüentava o Módulo
Paidéia de Saúde da Família (PSF) Campina Grande. Em 2000,
o agente comunitário de saúde João Cestari montou uma horta
na sede do Módulo e a comunidade passou a solicitar suas
orientações para a produção de plantações em suas residências.
"Foi aí que começamos a articular o projeto, e após o
grupo piloto percebemos que estava tudo dando muito
certo", avalia Cássia.
Gilberto
de Lelis Ribeiro, psicólogo da Coordenadoria Regional de
Assistência Social Noroeste (Cras-Noroeste), destaca que as
hortas residenciais são voltadas para o consumo. "Uns
ajudam os outros e trocam alimentos entre si. A idéia é que
cada família plante uma espécie diferente para estimular o
relacionamento entre a comunidade através da troca, o que
acarreta também em uma valorização pessoal e melhora da
auto-estima", diz.
Orientação.
Além de monitorar o cultivo e a produção, a equipe
intersetorial orienta a população a plantar alimentos de fácil
cultivo e alto valor nutritivo. "Há uma preocupação
com a riqueza nutricional dos alimentos porque muitas das famílias
estavam desnutridas e não consumiam legumes e verduras",
informa Ribeiro. O psicólogo diz ainda que as famílias
participantes do projeto recebem ainda orientações sobre o
preparo e aproveitamento de alimentos. "Por isso
costumamos dizer que o nosso projeto é também um trabalho
educativo", diz.
Rodrigo
Antônio Araújo, técnico em agropecuária da Visa Noroeste,
afirma que a maioria dos terrenos das famílias envolvidas no
projeto eram mal aproveitados. Acabavam sendo criadouros de
insetos, inclusive do mosquito da dengue. Para produzir a
horta, no entanto, os participantes têm que cuidar e manter a
limpeza do terreno, diminuindo, assim, a incidência de doenças.
Escolha.
A equipe intersetorial Noroeste tem como objetivo envolver a
comunidade em projetos que ofereçam formas alternativas para
suprir a carência nutricional das famílias. A equipe
pretende, no futuro, fazer uma horta comunitária que propicie
geração de renda e inclusão social.
"Verificamos
que um dos graves problemas do bairro é a carência de
alimentação, uma vez que a maioria da população é
desempregada ou inserida no mercado de trabalho
informal", justifica Araújo. Assim, o Projeto de Hortas
Residenciais, por meio das parcerias, também viabiliza cursos
e oficinas que dão informações técnicas sobre diversos
assuntos.
Um
dos parceiros, o Sindicato Rural, se localiza nas Centrais de
Abastecimento S/A (Ceasa-Campinas). O técnico em agropecuária
diz, no entanto, que ao invés da população ir até a sede
do sindicato, o sindicato é quem vai até a população: os
encontros acontecem na Cras-Noroeste. "Teremos, nos dias
18, 19 e 20 de maio, um curso sobre instalação de hortas
residenciais, e no mês seguinte o tema será a manutenção
do plantio", comenta.
Desempregado
diz que muitos não
tinham o que comer
Para
o desempregado Cantídeo Pires Lobo, 54 anos, o projeto
"serviu como uma luva". "Sempre tive minha
horta, mas ultimamente estava difícil de cultivar uma plantação
porque não havia espaço em minha casa. Foi aí que o João (Cestari,
agente de saúde do Posto de Saúde da Família Campina
Grande) me convidou para fazer parte do grupo", conta.
Segundo
ele, o local onde se localiza sua horta (que também é
monitorada por Cestari) vivia cheio de entulhos e mato alto.
"Agora estamos cuidando da limpeza do terreno", diz.
Lobo
destaca ainda que o projeto é muito aprovado pela comunidade
porque "estimula uma alimentação saudável".
"Muitos de nós não tinham o que comer, no entanto agora
vivemos trocando alimentos uns com os outros", comemora.