Hortas familiares mudam alimentação de moradores da região Noroeste

15/04/2004

Projeto surgiu a partir de Horta cultivada no quintal do Módulo Paidéia de Saúde da Família

Paloma Lopes

Vinte e seis famílias que vivem no Residencial São Luís passarão a colher verduras e legumes no quintal de suas casas. Estas famílias estão integradas no Projeto de Hortas Residenciais, uma ação intersetorial que envolve as secretarias de Saúde, Assistência Social e Desenvolvimento Econômico e Trabalho, além da Administração Regional 13 (AR-13), Departamento de Parques e Jardins (DPJ), Sindicato Rural e estagiários do curso de Nutrição da Puc-Campinas. O projeto surgiu em meados do ano passado com o objetivo de diminuir as carências nutricionais da comunidade e promover a inclusão social.

De acordo com Cássia Catarina Pereira, tecnóloga em saneamento da Vigilância Sanitária (Visa) Noroeste, o projeto atendeu, inicialmente, 15 famílias. "No ano passado formamos um grupo, e este ano já estamos com outro. Mas isso não impede os integrantes do grupo anterior continuem no trabalho", explica. Por este motivo, sete famílias que participaram do primeiro grupo estão entre as 26 atendidas atualmente. "Nossa meta é atender 10 grupos com 15 famílias cada", diz.

No Módulo. Segundo Cássia, o Projeto de Hortas Comunitárias surgiu para atender a demanda da população que freqüentava o Módulo Paidéia de Saúde da Família (PSF) Campina Grande. Em 2000, o agente comunitário de saúde João Cestari montou uma horta na sede do Módulo e a comunidade passou a solicitar suas orientações para a produção de plantações em suas residências. "Foi aí que começamos a articular o projeto, e após o grupo piloto percebemos que estava tudo dando muito certo", avalia Cássia.

Gilberto de Lelis Ribeiro, psicólogo da Coordenadoria Regional de Assistência Social Noroeste (Cras-Noroeste), destaca que as hortas residenciais são voltadas para o consumo. "Uns ajudam os outros e trocam alimentos entre si. A idéia é que cada família plante uma espécie diferente para estimular o relacionamento entre a comunidade através da troca, o que acarreta também em uma valorização pessoal e melhora da auto-estima", diz.

Orientação. Além de monitorar o cultivo e a produção, a equipe intersetorial orienta a população a plantar alimentos de fácil cultivo e alto valor nutritivo. "Há uma preocupação com a riqueza nutricional dos alimentos porque muitas das famílias estavam desnutridas e não consumiam legumes e verduras", informa Ribeiro. O psicólogo diz ainda que as famílias participantes do projeto recebem ainda orientações sobre o preparo e aproveitamento de alimentos. "Por isso costumamos dizer que o nosso projeto é também um trabalho educativo", diz.

Rodrigo Antônio Araújo, técnico em agropecuária da Visa Noroeste, afirma que a maioria dos terrenos das famílias envolvidas no projeto eram mal aproveitados. Acabavam sendo criadouros de insetos, inclusive do mosquito da dengue. Para produzir a horta, no entanto, os participantes têm que cuidar e manter a limpeza do terreno, diminuindo, assim, a incidência de doenças.

Escolha. A equipe intersetorial Noroeste tem como objetivo envolver a comunidade em projetos que ofereçam formas alternativas para suprir a carência nutricional das famílias. A equipe pretende, no futuro, fazer uma horta comunitária que propicie geração de renda e inclusão social.

"Verificamos que um dos graves problemas do bairro é a carência de alimentação, uma vez que a maioria da população é desempregada ou inserida no mercado de trabalho informal", justifica Araújo. Assim, o Projeto de Hortas Residenciais, por meio das parcerias, também viabiliza cursos e oficinas que dão informações técnicas sobre diversos assuntos.

Um dos parceiros, o Sindicato Rural, se localiza nas Centrais de Abastecimento S/A (Ceasa-Campinas). O técnico em agropecuária diz, no entanto, que ao invés da população ir até a sede do sindicato, o sindicato é quem vai até a população: os encontros acontecem na Cras-Noroeste. "Teremos, nos dias 18, 19 e 20 de maio, um curso sobre instalação de hortas residenciais, e no mês seguinte o tema será a manutenção do plantio", comenta.

Desempregado diz que muitos não tinham o que comer

Para o desempregado Cantídeo Pires Lobo, 54 anos, o projeto "serviu como uma luva". "Sempre tive minha horta, mas ultimamente estava difícil de cultivar uma plantação porque não havia espaço em minha casa. Foi aí que o João (Cestari, agente de saúde do Posto de Saúde da Família Campina Grande) me convidou para fazer parte do grupo", conta.

Segundo ele, o local onde se localiza sua horta (que também é monitorada por Cestari) vivia cheio de entulhos e mato alto. "Agora estamos cuidando da limpeza do terreno", diz.

Lobo destaca ainda que o projeto é muito aprovado pela comunidade porque "estimula uma alimentação saudável". "Muitos de nós não tinham o que comer, no entanto agora vivemos trocando alimentos uns com os outros", comemora.

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