Campinas reduz em até 36,6% os casos de gravidez na adolescência

22/04/2004

Redução foi maior na região Sudoeste, a mais carente

Denize Assis

O número de casos de gravidez na adolescência caiu nas cinco regiões de Campinas (Norte, Sul, Leste, Sudoeste e Noroeste) no período entre 2000 e 2003. Segundo dados da Saúde Coletiva do Município, a redução foi de 36,6% na faixa etária até 14 anos e de 28,2% dos 15 aos 19 anos. A maior queda ocorreu na região Sudoeste, a mais carente, com 31% na primeira faixa e 33,3% na segunda. Em seguida vêm as regiões Leste (60% e 29,8%), Sul (12% e 27,4%), Norte (50% e 26,7%) e Noroeste (52,9% e 24,9%). No total geral, considerando todas as faixas etárias, o número de partos realizados pela Secretaria de Saúde de Campinas caiu 15,6% nos últimos três anos. A queda na cidade é superior a média registrada no Estado de São Paulo no mesmo período, que foi de 8,85%.

A médica Verônica Gomes Alencar, coordenadora municipal da área da Saúde da Mulher, diz que a série de medidas implementadas pelo município como os programas de prevenção à gravidez na adolescência e trabalhos de conscientização sobre anticoncepção, além da ampliação dos acesso aos métodos anticoncepcionais foram fundamentais para a redução. Também é preciso considerar, segundo ela, fatores de ordem social como a inserção da mulher no mercado de trabalho.

Paidéia. Na rede municipal de saúde, a maior parte dos Centros de Saúde e Módulos Paidéia de Saúde da Família desenvolvem atividades específicas para prevenção da gravidez na adolescência com grupos de sexualidade, grupos de anticoncepção e estímulo ao uso de preservativo.

Além disso, realizam todas as ações do Projeto Cidade-Mãe de assistência ao pré-natal e ao nascimento voltadas para este público, que incluem grupos e visitas a maternidades.

Uma das unidades, o Centro de Saúde Faria Lima (região Sul), desenvolve um trabalho em parceria com a Organização Não Governamental (ONG) Casa Divina Pastora. As adolescentes assistidas recebem informações sobre sexualidade, álcool, drogas, gravidez e suas conseqüências. Também são esclarecidas sobre a importância do pré-natal, do aleitamento materno e dos cuidados com a saúde do bebê. Elas são preparadas ainda para o mundo do trabalho e reinserção na comunidade e conscientizadas para retornar à escola.

No Centro de Saúde São Cristóvão (região Sudoeste), a equipe desenvolveu um trabalho em parceria com escolas. O enfermeiro Roni Daniel Gomes, que trabalha no CS São Cristóvão, diz que a equipe foi capacitada pela ONG Centro de Educação de Assessoria Popular (Cedap) e passou a atuar, junto com os grupos de orientação sexual, dentro das salas de aula.

"O resultado foi muito bom. Além da redução nos casos de gravidez, notamos um aumento no número de exames de papanicolau entre o público adolescente", afirma. Segundo ele, como as atividades não ficam restritas à escola, a equipe aproveita outros espaços para falar também com mães de adolescentes.

Secretaria mantém ambulatório de Planejamento Familiar

A médica Verônica Gomes Alencar informa que a Secretaria de Saúde disponibiliza também um Ambulatório de Planejamento Familiar, localizado na Policlínica 2, na avenida Campos Sales, 737. O serviço conta com uma equipe multiprofissional constituída por ginecologista-obstetra, assistente social, enfermeira, auxiliar de enfermagem e psicóloga.

A médica sanitarista Lígia Aparecida Neaime de Almeida, coordenadora da Policlínica 2, informa que todos os métodos anticoncepcionais estão disponíveis nos Centros de Saúde, entre eles camisinha, pílula anticoncepcional, Dispositivo Intra-Uterino (DIU) e anticoncepcional injetável. "O método mais adequado para cada mulher é definido de acordo com as especificidades da cada um", diz Lígia.

No próprio Centro de Saúde (CS) e nos módulos Paidéia, após avaliação de cada caso, a equipe pode, se o paciente desejar e houver indicação técnica, encaminhar a pessoa, sozinha ou acompanhada do seu parceiro, para o Ambulatório de Planejamento Familiar. Só então, depois de passar por entrevista e de ser esclarecido a respeito dos métodos contraceptivos inclusive os definitivos, é que o usuário será encaminhado para a laqueadura ou vasectomia.

8,9 mil. No total, 8,9 mil pessoas já passaram pelo Ambulatório de Planejamento Familiar desde sua inauguração, em 1997. O número de vagas oferecidas por ano na unidade foi ampliado de 1,9 mil, em 2001, para 2,2 mil, em 2003. Por ano, são realizadas em média 620 laqueaduras e 500 vasectomias por meio do Ambulatório.

A médica ginecologista Helena Maria de Aguiar Godoy, coordenadora do Ambulatório da Policlínica 2, diz que o planejamento familiar garante que a mulher ou o casal conheça e tenha acesso aos métodos anticoncepcionais, inclusive os definitivos como laqueadura e vasectomia, que são garantidos por lei. "Nossa equipe trabalha para que o cidadão possa refletir sobre qual é o melhor método para ele e sobre o melhor momento de se utilizar de uma cirurgia. É preciso que a pessoa seja conscientizada, conheça seus direitos e saiba o significado do método antes de optar", diz ela.

Prefeitura associa políticas e melhora atendimento

De acordo com Verônica Gomes Alencar, nos últimos anos, a Prefeitura avançou muito ao associar todas as políticas voltadas para a população feminina com a política de saúde da mulher. Ela avalia que este "olhar feminino intersetorial" é que permitiu definir ações que geraram melhorias de tanto impacto como a redução acentuada da gravidez na adolescência.

As ações desenvolvidas em parceria com a Secretaria de Educação, por exemplo, atingem alunos das escolas municipais de todas as faixas etárias. O Programa Rede de Projetos de Orientação Sexual trabalha com os eixos educação, sexualidade e cidadania.

De acordo com a pedagoga Maria Geralda Bernardes, uma das coordenadoras do programa, são desenvolvidos trabalhos pontuais na escola e o professor desencadeia ações de acordo com as necessidades do aluno. O programa também capacita professores, profissionais de saúde e agentes educativos, que são os alunos que colaboram com o educador e socializam o que aprenderam sobre o assunto.

Mudança de vida. A estudante Ana Paula de Oliveira Ventura ficou grávida aos 16 anos, no início de 2003, quando cursava a primeira série do ensino médio. Ana Paula conta que sabia dos métodos anticoncepcionais, mas achou que não fosse acontecer com ela. "Com o bebê, minha vida mudou muito. Tive que deixar a escola e abrir mão de muitas outras coisas. Hoje tenho outras responsabilidades", diz.

A estudante conta que fez o pré-natal no Centro de Saúde São Vicente, período em que também foi orientada sobre sexualidade, cuidados com a própria saúde, com o bebê e métodos anticoncepcionais disponíveis. Ana Paula ainda recebeu toda assistência, pela Sistema Único de Saúde de Campinas, no momento do parto. Agora, a estudante passou a utilizar, conforme orientação da equipe do CS São Vicente, um anticoncepcional injetável. "Hoje sei que preciso estar protegida sempre", diz.

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