Redução
foi
maior na
região Sudoeste,
a mais
carente
Denize
Assis
O número
de casos de gravidez na adolescência caiu nas cinco regiões
de Campinas (Norte, Sul, Leste, Sudoeste e Noroeste) no período
entre 2000 e 2003. Segundo dados da Saúde Coletiva do Município,
a redução foi de 36,6% na faixa etária até 14 anos e de
28,2% dos 15 aos 19 anos. A maior queda ocorreu na região
Sudoeste, a mais carente, com 31% na primeira faixa e 33,3%
na segunda. Em seguida vêm as regiões Leste (60% e 29,8%),
Sul (12% e 27,4%), Norte (50% e 26,7%) e Noroeste (52,9% e
24,9%). No total geral, considerando todas as faixas etárias,
o número de partos realizados pela Secretaria de Saúde de
Campinas caiu 15,6% nos últimos três anos. A queda na
cidade é superior a média registrada no Estado de São
Paulo no mesmo período, que foi de 8,85%.
A médica
Verônica Gomes Alencar, coordenadora municipal da área da
Saúde da Mulher, diz que a série de medidas implementadas
pelo município como os programas de prevenção à gravidez
na adolescência e trabalhos de conscientização sobre
anticoncepção, além da ampliação dos acesso aos métodos
anticoncepcionais foram fundamentais para a redução. Também
é preciso considerar, segundo ela, fatores de ordem social
como a inserção da mulher no mercado de trabalho.
Paidéia.
Na rede municipal de saúde, a maior parte dos Centros de Saúde
e Módulos Paidéia de Saúde da Família desenvolvem
atividades específicas para prevenção da gravidez na
adolescência com grupos de sexualidade, grupos de
anticoncepção e estímulo ao uso de preservativo.
Além
disso, realizam todas as ações do Projeto Cidade-Mãe de
assistência ao pré-natal e ao nascimento voltadas para
este público, que incluem grupos e visitas a maternidades.
Uma das
unidades, o Centro de Saúde Faria Lima (região Sul),
desenvolve um trabalho em parceria com a Organização Não
Governamental (ONG) Casa Divina Pastora. As adolescentes
assistidas recebem informações sobre sexualidade, álcool,
drogas, gravidez e suas conseqüências. Também são
esclarecidas sobre a importância do pré-natal, do
aleitamento materno e dos cuidados com a saúde do bebê.
Elas são preparadas ainda para o mundo do trabalho e
reinserção na comunidade e conscientizadas para retornar
à escola.
No Centro
de Saúde São Cristóvão (região Sudoeste), a equipe
desenvolveu um trabalho em parceria com escolas. O
enfermeiro Roni Daniel Gomes, que trabalha no CS São Cristóvão,
diz que a equipe foi capacitada pela ONG Centro de Educação
de Assessoria Popular (Cedap) e passou a atuar, junto com os
grupos de orientação sexual, dentro das salas de aula.
"O
resultado foi muito bom. Além da redução nos casos de
gravidez, notamos um aumento no número de exames de
papanicolau entre o público adolescente", afirma.
Segundo ele, como as atividades não ficam restritas à
escola, a equipe aproveita outros espaços para falar também
com mães de adolescentes.
Secretaria
mantém ambulatório
de Planejamento Familiar
A médica
Verônica Gomes Alencar informa que a Secretaria de Saúde
disponibiliza também um Ambulatório de Planejamento
Familiar, localizado na Policlínica 2, na avenida Campos
Sales, 737. O serviço conta com uma equipe
multiprofissional constituída por ginecologista-obstetra,
assistente social, enfermeira, auxiliar de enfermagem e psicóloga.
A médica
sanitarista Lígia Aparecida Neaime de Almeida, coordenadora
da Policlínica 2, informa que todos os métodos
anticoncepcionais estão disponíveis nos Centros de Saúde,
entre eles camisinha, pílula anticoncepcional, Dispositivo
Intra-Uterino (DIU) e anticoncepcional injetável. "O método
mais adequado para cada mulher é definido de acordo com as
especificidades da cada um", diz Lígia.
No próprio
Centro de Saúde (CS) e nos módulos Paidéia, após avaliação
de cada caso, a equipe pode, se o paciente desejar e houver
indicação técnica, encaminhar a pessoa, sozinha ou
acompanhada do seu parceiro, para o Ambulatório de
Planejamento Familiar. Só então, depois de passar por
entrevista e de ser esclarecido a respeito dos métodos
contraceptivos inclusive os definitivos, é que o usuário
será encaminhado para a laqueadura ou vasectomia.
8,9 mil. No
total, 8,9 mil pessoas já passaram pelo Ambulatório de
Planejamento Familiar desde sua inauguração, em 1997. O número
de vagas oferecidas por ano na unidade foi ampliado de 1,9
mil, em 2001, para 2,2 mil, em 2003. Por ano, são
realizadas em média 620 laqueaduras e 500 vasectomias por
meio do Ambulatório.
A médica
ginecologista Helena Maria de Aguiar Godoy, coordenadora do
Ambulatório da Policlínica 2, diz que o planejamento
familiar garante que a mulher ou o casal conheça e tenha
acesso aos métodos anticoncepcionais, inclusive os
definitivos como laqueadura e vasectomia, que são
garantidos por lei. "Nossa equipe trabalha para que o
cidadão possa refletir sobre qual é o melhor método para
ele e sobre o melhor momento de se utilizar de uma cirurgia.
É preciso que a pessoa seja conscientizada, conheça seus
direitos e saiba o significado do método antes de
optar", diz ela.
Prefeitura
associa políticas
e melhora atendimento
De acordo
com Verônica Gomes Alencar, nos últimos anos, a Prefeitura
avançou muito ao associar todas as políticas voltadas para
a população feminina com a política de saúde da mulher.
Ela avalia que este "olhar feminino intersetorial"
é que permitiu definir ações que geraram melhorias de
tanto impacto como a redução acentuada da gravidez na
adolescência.
As ações
desenvolvidas em parceria com a Secretaria de Educação,
por exemplo, atingem alunos das escolas municipais de todas
as faixas etárias. O Programa Rede de Projetos de Orientação
Sexual trabalha com os eixos educação, sexualidade e
cidadania.
De acordo
com a pedagoga Maria Geralda Bernardes, uma das
coordenadoras do programa, são desenvolvidos trabalhos
pontuais na escola e o professor desencadeia ações de
acordo com as necessidades do aluno. O programa também
capacita professores, profissionais de saúde e agentes
educativos, que são os alunos que colaboram com o educador
e socializam o que aprenderam sobre o assunto.
Mudança de
vida.
A estudante Ana Paula de Oliveira Ventura ficou grávida aos
16 anos, no início de 2003, quando cursava a primeira série
do ensino médio. Ana Paula conta que sabia dos métodos
anticoncepcionais, mas achou que não fosse acontecer com
ela. "Com o bebê, minha vida mudou muito. Tive que
deixar a escola e abrir mão de muitas outras coisas. Hoje
tenho outras responsabilidades", diz.
A estudante
conta que fez o pré-natal no Centro de Saúde São Vicente,
período em que também foi orientada sobre sexualidade,
cuidados com a própria saúde, com o bebê e métodos
anticoncepcionais disponíveis. Ana Paula ainda recebeu toda
assistência, pela Sistema Único de Saúde de Campinas, no
momento do parto. Agora, a estudante passou a utilizar,
conforme orientação da equipe do CS São Vicente, um
anticoncepcional injetável. "Hoje sei que preciso
estar protegida sempre", diz.