Programa do Centro de Saúde Floresta mobiliza famílias contra desnutrição

30/04/2004

Iniciativa de médica, em 2001, hoje mobiliza 30 famílias
e conta com
o apoio da Ceasa

Paloma Lopes

Preocupada com o número de crianças desnutridas que freqüentavam o Centro de Saúde (CS) do Parque Floresta, uma médica resolveu criar, em 2001, um programa para mobilizar as famílias em busca de melhor qualidade de vida. Resultado: hoje, 30 famílias integram um grupo chamado Esperança e encontram, a cada novo dia, alternativas para combater a falta de alimentos ricos em vitaminas e fibras, como frutas, verduras e legumes.

A idealizadora do projeto, Isabel Cristina Andrade dos Santos, explica que quando começou a atender no CS Parque Floresta, percebeu a quantidade de famílias carentes preocupadas com os benefícios concedidos pelo governo, como doações de cestas-básicas e leite. "Muitas acabavam não conseguindo participar dos programas, o que agravava a preocupação das mães com crianças que estavam abaixo do peso", conta.

De acordo com Isabel Cristina, havia também uma acomodação das famílias com as dificuldades relacionadas à alimentação, moradia e trabalho. "Estavam em um estado de inércia e isso impossibilitava a visualização de uma saída. Portanto, nós, que estávamos de fora da situação, percebemos que poderíamos ajudar", diz a médica.

A partir daí, Isabel, com a ajuda de Elaine Silva Moreira, auxiliar de enfermagem do CS, montou um projeto visando conscientizar a comunidade sobre seu poder de organização. "No dia em que as mães iam ao CS para buscar seus benefícios, aproveitávamos para conversar com elas sobre temas variados, mas sempre relacionados à saúde. Explicávamos o Projeto Paidéia – Saúde da Família, quais as causas da desnutrição, noções de higiene e aproveitamento de alimentos", lembra.

Segundo ela, paralelamente aos primeiros encontros com as mães, foram realizadas avaliações clínicas e laboratoriais nas crianças, que confirmaram a incidência de desnutrição. "Mas não eram desnutrições graves; a maioria delas estavam anêmicas", diz. Com isso, Isabel e a equipe do CS Parque Floresta passaram a estimular o grupo a buscar parcerias para o projeto.

Parceria. Em um dos encontros mensais do Grupo Esperança, as integrantes levantaram a hipótese de haver uma parceria entre o projeto e as Centrais de Abastecimento S/A (Ceasa-Campinas). Com a participação ativa de algumas mães, o grupo se reuniu com a empresa e formalizou o convênio. "Sobram muitas frutas, legumes e verduras que podem ser aproveitadas pelas famílias. Assim, com a parceria, as mães ficaram responsáveis pelo transporte, recebimento e divisão dos alimentos entre as demais integrantes", informa Isabel.

Com isso, toda quarta-feira uma integrante vai até a Ceasa para separar e transportar os alimentos até o bairro. "Cada semana é alguém que arruma o veículo; às vezes é um primo que tem carro, outra é um amigo, e assim por diante", informa a médica.

O dinheiro necessário para eventuais investimentos, como combustível, são arrecadados por meio de eventos organizados pelas integrantes do Grupo Esperança, como bazares e pequenas feirinhas. "Estamos organizando um Dia do Pastel, quando serão comercializados pastéis a preços simbólicos. Mas as mães já organizaram bazares de roupas usadas, já reuniram diversas manicures para fazer mão e pé a preços baixos etc", comenta.

Para Isabel, o que importa é elevar a auto-estima da comunidade e fomentar a autonomia das integrantes. "Quero que o grupo adquira autonomia e continue procurando saídas para driblar as dificuldades financeiras que enfrentam", justifica.

Planos. Devido à crescente participação das integrantes do projeto, os planos não param de crescer. "Recebemos um convite da equipe do Posto de Saúde da Família (PSF) Campina Grande para organizarmos uma horta comunitária no bairro, afinal eles possuem lá o Projeto de Hortas Residenciais que está dando muito certo", diz Isabel.

Além disso, estão previstos cursos profissionalizantes que incentivem frentes de trabalho para geração de renda, como corte e costura, culinária, manicure, cabeleireiro e marcenaria. "É muito gratificante perceber que o projeto com as mães de crianças desnutridas está melhorando a qualidade de vida da comunidade. Estamos vendo a esperança nascer nos olhos de cada integrante do nosso grupo", comemora a médica.

Estímulo. Para a dona-de-casa Rosângela Anacleta de Oliveira Viaes, de 27 anos, o projeto estimula toda a comunidade a lutar por uma vida mais justa e digna. Mãe de três filhos, ela está no projeto há dois anos, "batalhando por melhores condições para mim e para todos aqueles que participam do projeto". "Meus filhos, hoje, se alimentam bem, mas eu não me preocupo somente com eles, afinal muitas crianças no bairro ainda não têm o que comer. O projeto faz isso, nos estimula a ter mais solidariedade com o próximo", justifica.

Para colaborar. Quem quiser colaborar com o Grupo Esperança, pode entrar em contato pelo telefone (19) 3221-8546. Falar com Isabel ou Elaine.

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