Paloma
Lopes
Preocupada
com o número de crianças desnutridas que freqüentavam o
Centro de Saúde (CS) do Parque Floresta, uma médica
resolveu criar, em 2001, um programa para mobilizar as famílias
em busca de melhor qualidade de vida. Resultado: hoje, 30
famílias integram um grupo chamado Esperança e encontram,
a cada novo dia, alternativas para combater a falta de
alimentos ricos em vitaminas e fibras, como frutas, verduras
e legumes.
A
idealizadora do projeto, Isabel Cristina Andrade dos Santos,
explica que quando começou a atender no CS Parque Floresta,
percebeu a quantidade de famílias carentes preocupadas com
os benefícios concedidos pelo governo, como doações de
cestas-básicas e leite. "Muitas acabavam não
conseguindo participar dos programas, o que agravava a
preocupação das mães com crianças que estavam abaixo do
peso", conta.
De
acordo com Isabel Cristina, havia também uma acomodação
das famílias com as dificuldades relacionadas à alimentação,
moradia e trabalho. "Estavam em um estado de inércia e
isso impossibilitava a visualização de uma saída.
Portanto, nós, que estávamos de fora da situação,
percebemos que poderíamos ajudar", diz a médica.
A
partir daí, Isabel, com a ajuda de Elaine Silva Moreira,
auxiliar de enfermagem do CS, montou um projeto visando
conscientizar a comunidade sobre seu poder de organização.
"No dia em que as mães iam ao CS para buscar seus
benefícios, aproveitávamos para conversar com elas sobre
temas variados, mas sempre relacionados à saúde. Explicávamos
o Projeto Paidéia – Saúde da Família, quais as causas
da desnutrição, noções de higiene e aproveitamento de
alimentos", lembra.
Segundo
ela, paralelamente aos primeiros encontros com as mães,
foram realizadas avaliações clínicas e laboratoriais nas
crianças, que confirmaram a incidência de desnutrição.
"Mas não eram desnutrições graves; a maioria delas
estavam anêmicas", diz. Com isso, Isabel e a equipe do
CS Parque Floresta passaram a estimular o grupo a buscar
parcerias para o projeto.
Parceria.
Em um dos encontros mensais do Grupo Esperança, as
integrantes levantaram a hipótese de haver uma parceria
entre o projeto e as Centrais de Abastecimento S/A
(Ceasa-Campinas). Com a participação ativa de algumas mães,
o grupo se reuniu com a empresa e formalizou o convênio.
"Sobram muitas frutas, legumes e verduras que podem ser
aproveitadas pelas famílias. Assim, com a parceria, as mães
ficaram responsáveis pelo transporte, recebimento e divisão
dos alimentos entre as demais integrantes", informa
Isabel.
Com
isso, toda quarta-feira uma integrante vai até a Ceasa para
separar e transportar os alimentos até o bairro. "Cada
semana é alguém que arruma o veículo; às vezes é um
primo que tem carro, outra é um amigo, e assim por
diante", informa a médica.
O
dinheiro necessário para eventuais investimentos, como
combustível, são arrecadados por meio de eventos
organizados pelas integrantes do Grupo Esperança, como
bazares e pequenas feirinhas. "Estamos organizando um
Dia do Pastel, quando serão comercializados pastéis a preços
simbólicos. Mas as mães já organizaram bazares de roupas
usadas, já reuniram diversas manicures para fazer mão e pé
a preços baixos etc", comenta.
Para
Isabel, o que importa é elevar a auto-estima da comunidade
e fomentar a autonomia das integrantes. "Quero que o
grupo adquira autonomia e continue procurando saídas para
driblar as dificuldades financeiras que enfrentam",
justifica.
Planos.
Devido à crescente participação das integrantes do
projeto, os planos não param de crescer. "Recebemos um
convite da equipe do Posto de Saúde da Família (PSF)
Campina Grande para organizarmos uma horta comunitária no
bairro, afinal eles possuem lá o Projeto de Hortas
Residenciais que está dando muito certo", diz Isabel.
Além
disso, estão previstos cursos profissionalizantes que
incentivem frentes de trabalho para geração de renda, como
corte e costura, culinária, manicure, cabeleireiro e
marcenaria. "É muito gratificante perceber que o
projeto com as mães de crianças desnutridas está
melhorando a qualidade de vida da comunidade. Estamos vendo
a esperança nascer nos olhos de cada integrante do nosso
grupo", comemora a médica.
Estímulo.
Para a dona-de-casa Rosângela Anacleta de Oliveira Viaes,
de 27 anos, o projeto estimula toda a comunidade a lutar por
uma vida mais justa e digna. Mãe de três filhos, ela está
no projeto há dois anos, "batalhando por melhores
condições para mim e para todos aqueles que participam do
projeto". "Meus filhos, hoje, se alimentam bem,
mas eu não me preocupo somente com eles, afinal muitas
crianças no bairro ainda não têm o que comer. O projeto
faz isso, nos estimula a ter mais solidariedade com o próximo",
justifica.
Para
colaborar.
Quem quiser colaborar com o Grupo Esperança, pode entrar em
contato pelo telefone (19) 3221-8546. Falar com Isabel ou
Elaine.