Um
projeto de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis
(dst) e aids será apresentado de quinta a domingo (6 a 9
de abril de 2006) durante o encontro nacional de pontos de
cultura que acontece em São Paulo, no Pavilhão da Bienal
(Ibirapuera). Trata-se do "Tambor Dá Saúde",
desenvolvido prioritariamente entre jovens da periferia de
Campinas, no Interior do Estado.
O evento
"Teia de
Cultura e Cidadania" é uma mostra da cultura
nacional com diversas apresentações – teatro, dança
e música – de diversos pontos do Brasil. A "Teia
– A Rede de Cultura do Brasil" foi idealizada de
forma a incorporar manifestações culturais de todas as
regiões do país. Segundo seus organizadores, haverá
exposições de foto e artes plásticas, grafitagem,
apresentações de artistas circenses, repentistas, rappers,
exibição da nova produção audiovisual brasileira,
entre outras atividades.
O
projeto "Tambor Dá Saúde", de Campinas, que
participará da "Teia", nasceu em 2004, por meio
da parceria entre a Casa de Cultura Tainã, Programa
Municipal de DST/Aids da Secretaria de Saúde da
Prefeitura de Campinas, Distrito de Saúde Noroeste e do
Centro de Educação e Assessoria Popular (Cedap),
agregando posteriormente outros parceiros, como o Projeto
Gente Nova (Progen) e Movimento Hip Hop.
O
projeto busca ampliar o acesso da juventude da região
Noroeste de Campinas e demais bairros atendidos nos
projetos da Tainã às informações e aos preservativos.
Também objetiva fomentar processos de discussão,
capacitação e assessoria que promovam o protagonismo
juvenil, fortaleçam a prática da cidadania, da
auto-estima, e visa, desta forma, diminuir a
vulnerabilidade individual e social à infecção pelas
dst/aids.
O
projeto é constituído de um conjunto de ações que
articulam a prevenção às dst/aids com atividades artísticas
da Casa de Cultura Tainã. Integram o projeto:
- O Banco de Preservativos Comunitário que presta serviço
de aconselhamento, distribuição de cotas mensais de
preservativos, encaminhamentos para atendimento nos
Centros de Saúde, Coas/CTA ( Centro de Orientação e
Apoio Sorológico/Testagem e Aconselhamento) etc, e
uma estante de obras e vídeos sobre saúde,
DST/aids/HIV;
- Oficinas
para esclarecimento dos adolescentes e jovens quanto
às DST/aids e capacitação de multiplicadores nas
comunidades da região Noroeste;
- Campanhas
de sensibilização e distribuição de camisinhas nas
comunidades abrangendo feiras livres, escolas, eventos
culturais e manifestações populares;
- O
Banco Itinerante leva camisinhas e informações às
comunidades, cadastrando usuários no banco comunitário
de preservativos e convidando os adolescentes a
participar dos trabalhos da Tainã.
- O
Teatro de Rua contra as DST/Aids que utiliza a
dramaturgia como meio de comunicação, atuando de
forma lúdica e crítica dentro das escolas, feiras
livres e eventos das comunidades, despertando o público
para a necessidade da prevenção;
- O hip hop, cultura popular contemporânea
urbana, tem uma linguagem ágil e simples, que atinge
adolescentes e jovens através do break, grafite e rap,
que serve de veículo para milhares de jovens do mundo.
Através de oficinas, eventos e palestras relacionadas ao
hip hop, serão feitas campanhas alertando para o risco
das DST/aids e a importância de se prevenir e propagar as
informações.
Ponto
de cultura
A
Casa de Cultura Tainã atua como ponto de cultura através
do projeto "Mocambos", que tem como objetivo
promover, manter, difundir e desenvolver capacitação na
área de tecnologias de comunicação e informação
digital junto aos parceiros.
Tem
atuado em parceria com escolas da região e entidades no
desenvolvimento de processos de formação de educadores
incentivando a lida com ferramentas livres e o aprendizado
multidisciplinar, além do desenvolvimento de redes de
acesso a recursos tecnológicos junto às comunidades
parceiras, auxiliando na construção de seus programas e
ações.
O
projeto de pontos de cultura articula essa iniciativa a
outras ações da Casa de Cultura Tainã, fundamentadas na
linguagem da cultura popular e suas manifestações, e nas
tecnologias de informação, comunicação, produção e
gestão coletivas, que objetivam melhorias na qualidade de
vida da comunidade, acesso à prática da cidadania e
construção da democracia.
Sexo
também é cultura
"A
sexualidade é a força que move o sujeito a interagir com
o mundo, adquirindo diversas formas de expressão. O ser
humano, ao desenvolver formas múltiplas e criativas de
vivenciar a sua sexualidade, está produzindo cultura,
entendendo esta como o modo de viver de cada comunidade e
considerando fatores ideológicos, filosóficos, sociais,
econômicos, afetivos e comportamentais que estão
envolvidos nesta questão", afirma a psicóloga
Shirlei Souza, aconselhadora, do Núcleo de Educação e
Comunicação Social (Necs) do Programa DST/Aids de
Campinas.
Segundo
ela, trabalhar com prevenção às DST/aids é tocar no
terreno da sexualidade, tanto em sua dimensão ampliada
(da libido, do desejo), como no sentido mais restrito das
práticas sexuais, uma vez que a principal via de
transmissão da aids é a sexual. "Para que a prevenção
tenha sentido, é preciso que a vida tenha sentido. A
preservação de laços de solidariedade, afetivos,
sociais, está relacionada ao que a sociedade quer para a
vida neste planeta", observa.
Ela
explica que, os pontos de cultura, enquanto lugares de
produção de vida, arte e desejo, são espaços férteis
para o investimento em prevenção, já que arte é uma
manifestação do espírito da cultura que está sendo
produzida por uma determinada comunidade e em um tempo
específico.
Populações
negligenciadas são mais vulneráveis
As
populações mais negligenciadas ao longo da história são
mais vulneráveis à aids e às DST, informa a sanitarista
Maria Cristina Ilario, coordenadora do Programa Municipal
de DST/Aids de Campinas. Segundo ela, a vulnerabilidade da
população jovem, negra, moradora de bairros peiférios,
por exemplo, está ligada a fatores sócio-econômicos da
trajetória histórica dessa população no Brasil devido
à sua dificuldade de acesso a serviços de saúde e
escolas, por exemplo, que é uma dificuldade maior que a
de outras pessoas.
A
vulnerabilidade, explica Cristina, não está relacionada
à cor da pele da população, seu desejo sexual, idade ou
condição social. Ela observa que o avanço da pandemia
de aids no País obedece tendência de feminilização,
juvenilização, interiorização e pauperização, sendo
que quanto mais exposta a exclusão social ( acesso a bens
de consumo, a equipamentos sociais, educação formal e
informação) maior a vulnerabilidade da população ou
segmento social que se enquadram neste contexto.
A
sanitarista explica que, numa escala de vulnerabilidade à
infecção por HIV/aids, os mais pobres e mais jovens são
mais suscetíveis; dentre estes as mulheres são mais
suscetíveis; e dentre estes o quesito raça/cor/etnia
coloca a população negra num quando de vulnerabilidade
no País.
"A
população negra é maioria no Brasil, e a população
negra, há séculos, é maioria entre a população pobre,
com menor acesso à informação e bens de consumo e serviços.
Nosso trabalho inclui esta missão de reduzir a transmissão
entre as populações mais vulneráveis, com ações e
estratégias de construção de autonomia e cidadania,
pois sem estas não existe saúde", afirma a
coordenadora.
Mais
informações à Imprensa: Eli Fernandes (19) 3234 –
5000 ramal 220.