Campinas promove investigação de foco de leishmaniose visceral, após confirmar caso em cão

19/04/2010

Autor: Denize Assis

A Secretaria Municipal de Saúde iniciou esta semana investigação de foco de leishmaniose visceral americana (LVA) na Vila João Jorge, região sul de Campinas. No local, foi confirmado, por meio de exames laboratoriais, um caso da doença em cão. O animal, que veio de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, residiu durante dez meses em Campinas e já foi a óbito.

A ação, promovida em 200 metros de raio a partir do endereço do animal positivo, inclui inquérito sorológico de cães (investigação canina); estudo para identificação do vetor - o mosquito Lutzomia longipalpis - (investigação entomológica) e análise ambiental (investigação ambiental). Nesta primeira semana, foram colhidas amostras para exames laboratoriais de 50 cães. O início da análise entomológica ainda será definido.

A investigação está sendo conduzida pela Vigilância em Saúde Sul e Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), com apoio do Centro de Saúde Faria Lima. Os trabalhos contam com parceria da Secretaria de Estado da Saúde, por meio da Superintendência do Controle de Endemias (Sucen), Instituto Adolfo Lutz e Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE).

A Leishmaniose Visceral é considerada um grave problema de saúde pública no Brasil. É de notificação compulsória, o que significa que as ocorrências têm que ser informadas às autoridades sanitárias rapidamente.

A doença está presente em 21 estados brasileiros e nos últimos anos foi registrada uma média anual de 3.357 casos humanos e 236 óbitos. No Estado de São Paulo, está presente em vários municípios.

Em Campinas, o primeiro foco com caso autóctone da doença foi registrado em novembro passado. Após esta ocorrência, houve registro de um outro foco na Vila Costa e Silva, onde não pode ser confirmada autoctonia porque o caso referia-se a um cão errante de origem desconhecida. Agora, a Secretaria de Saúde investiga este novo foco na Vila João Jorge.

Frente a esta situação epidemiológica, Campinas entrou para o grupo de cidades com transmissão canina – com casos autóctones e importados - sem transmissão humana.

Segundo o médico infectologista Rodrigo Angerami, da Vigilância em Saúde de Campinas, no Brasil, na grande maioria dos municípios nos quais a doença se tornou endêmica, a ocorrência de cães infectados geralmente precedeu a ocorrência de casos humanos. “Os cães infectados, sem a menor dúvida, se constituem um elemento fundamental na cadeia de transmissão”, diz. Entretanto, a identificação do cão infectado não implica, necessariamente, na ocorrência futura de novos casos entre a população de cães e nem no início da transmissão entre humanos.

No Estado de São Paulo, além de Campinas, há pelo menos três municípios com transmissão canina, sem transmissão entre humanos: Embu das Artes, São Pedro e Espírito Santo do Pinhal.

A leishmaniose visceral tem tratamento em humanos. No entanto, no cão, o tratamento não está indicado porque representa risco para a saúde pública. A proibição do tratamento canino está indicada na Portaria IM nº 1.426 (2008) que regulamenta o Decreto nº 51.838 (1963), dos Ministérios da Saúde e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Capacitação.

Na próxima terça-feira, dia 20 de abril, no Salão Vermelho do Paço Municipal, a Secretaria de Saúde de Campinas promove capacitação sobre leishmaniose visceral americana direcionada a médicos veterinários de Campinas. O evento ocorre em dois momentos, das 14h às 16h e das 19h às 21h, com o mesmo conteúdo. Não é necessário se inscrever antes.

O evento vai contar com a participação da médica veterinária Luciana Hardt Gomes, coordenadora do Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral Americana da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde. Ela vai proferir palestra sobre o Programa de Vigilância e Controle da LVA em São Paulo.

Também fazem palestra o médico veterinário Douglas Presotto, coordenador do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Campinas; e a médica veterinária Andréa Von Zuben, da Vigilância em Saúde de Campinas.

Mais sobre a Leishmaniose Visceral

O que é?

A leishmaniose visceral é uma zoonose que pode afetar o homem. É infecciosa, mas não contagiosa, ou seja: não é transmitida de pessoa para pessoa. Acomete vísceras, como o fígado e o baço, podendo ocasionar aumento de volume abdominal.

Qual o agente envolvido?

É causada por protozoário da família Tripanosoma, gênero Leishmania e espécie Leishmania chagasi.

Quais os sintomas?

Os sintomas são febre e aumento do volume do fígado e do baço, emagrecimento, complicações cardíacas e circulatórias, desânimo, prostração, apatia e palidez. Pode haver tosse, diarréia, respiração acelerada, hemorragias e sinais de infecções associadas. Quando não tratada, a doença evolui podendo levar à morte até 90% dos doentes.

Como se transmite?

A LV é transmitida ao homem por meio da picada do inseto vetor conhecidos popularmente como "mosquito-palha, birigui, asa branca, tatuquira e cangalhinha". Esses insetos têm hábitos noturnos e vespertinos, atacando o homem e os animais, principalmente no início da noite e ao amanhecer.

No Brasil, não há registro de transmissão direta de pessoa para pessoa.

Como tratar?

O SUS oferece tratamento específico e gratuito para a doença. O tratamento é feito com uso de medicamentos específicos, repouso e uma boa alimentação.

Como prevenir?

As medidas de controle são distintas e adequadas para as áreas com transmissão, como eliminação de cães infectados, controle químico do inseto transmissor e a destinação correta do lixo, entre outras medidas de higiene e conservação ambiental que evitam a proliferação do vetor. Entretanto é de fundamental importância que as medidas usualmente empregadas no controle da doença sejam realizadas de forma integrada, para que possam ser efetivas.

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