Mutirão revela que população corre riscos de sofrer derrame ou infarto

29/04/2010

Autor: Marco Aurélio Capitão

Os dados divulgados no início desta semana do 1º Mutirão de Avaliação de Risco Cardiovascular de São Paulo, promovido pela Secretaria de Estado da Saúde e pela Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), com apoio das Prefeituras de Campinas e São Paulo, revelaram que 33,71% dos cerca de 100 mil paulistas que passaram pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS) têm alto risco de desenvolver doenças cardiovasculares nos próximos dez anos, 26,78% têm risco moderado e apenas 39,51% têm baixo risco.

O Mutirão foi realizado em junho e julho de 2009 com cerca de 100 mil pessoas que passaram pelas UBS, hospitais e centros de saúde de São Paulo e Campinas. O objetivo foi detectar e identificar os pacientes que tinham risco cardiovascular e desconheciam os fatores que poderiam levar a um infarto ou derrame – AVC (acidente vascular cerebral).

O secretário municipal de Saúde de Campinas e diretor da Socesp, o médico cardiologista José Francisco Kerr Saraiva, explica que os números surpreenderam e é preciso que haja uma conscientização da população para reverter as estatísticas que colocam o Brasil como um dos países com as maiores incidências de doenças cardiovasculares. “É necessário mudar hábitos de vida, realizar exames com regularidade e aderir ao tratamento, para quem se enquadra nessa situação”, explica.

A situação entre os homens, segundo os dados do Mutirão, é ainda mais preocupante, já que 42,84% têm alto risco, 23,92% risco moderado e 33,24% baixo risco. Entre as mulheres, 29,11% apresentam alto risco, 28,23% risco moderado e 42,66% baixo risco.

Os números revelam, também, que a “barriguinha” dos paulistas está acima do ideal. Entre as mulheres, 88,62% estão com a circunferência abdominal acima dos 80 cm, já entre os homens 73,39% estão acima dos 90 cm. “A gordura no abdômen é a mais prejudicial que existe, já que se acumula entre os órgãos e é consequência da ingestão de alimentos acima do que precisamos no dia-a-dia associado ao sedentarismo”, explica Saraiva. O Mutirão constatou que apenas 30,03% praticam atividades físicas com regularidade (30 minutos pelos menos três vezes por semana); 55,08% disseram que comem frutas todos os dias; e 61,90% comem verduras diariamente.

Hipertensão.

O 1º Mutirão de Avaliação de Risco Cardiovascular de São Paulo mostrou que 50,77% das cerca de 100 mil pessoas que passaram pelas avaliações disseram ter pressão alta e destas 91,19% revelaram tomar medicação para controlar a hipertensão. Aproximadamente, 40% das pessoas que disseram ter pressão alta, apresentavam níveis de pressão arterial abaixo de 14X9 mmHg e apenas 12% abaixo de 13X8 mmHg, sugerindo o controle inadequado da pressão alta, o qual associa-se com aumento do risco cardiovascular.

Estresse.

O Mutirão do Coração inovou ao incluir esse fator de risco no trabalho e 46,80% afirmaram que tiveram algum fator estressante no último ano: morte de familiar, perda de emprego, separação conjugal ou ruína financeira. Estresse intenso ou exagerado ocorreu em 23,2% dentro da própria casa; 15% dentro do trabalho; 10% dentro da sociedade e 25% de causa financeira. E as mulheres sofrem mais com o estresse dentro de casa: 28,34% delas revelaram estresse intenso ou exagerado, entre os homens esse índice combinado cai para 13,07%. Para José Francisco Kerr Saraiva é o peso do papel da mulher na sociedade, que chefia famílias e cuida dos filhos.

No trabalho, os níveis de estresse foram menores do que em casa. Mais da metade afirmou que ele é ausente (50,95%); 14,78% pouco; 19,13% moderado; 10,46% intenso; e 4,68% exagerado. Na sociedade, as pessoas afirmaram que o estresse é ausente em 43,63% dos casos; 23,91% pouco; 22,06% moderado; 7,30% intenso; e 3,10% exagerado.

“O trânsito, por exemplo, e o chefe no trabalho são dois fatores menos estressante do que os familiares”, comparou o coordenador do Mutirão, lembrando que em um ano de crise a falta de recursos financeiros pode ter contribuído para o estresse dentro de casa. O estresse financeiro intenso ou exagerado, segundo Saraiva, foi apontado por 24,45% das pessoas.

Os números são ainda mais preocupantes quando revelam que 75% das pessoas apresentavam 3 ou mais fatores de risco cardiovascular, sendo que 14,3% das pessoas foram consideradas propensas a doenças cardiovasculares, ou seja, com possibilidade de apresentar infarto do miocárdio ou óbito durante os próximos 10 anos.

Adicionalmente, sobrepeso ocorreu em 40% e obesidade em 32%, sendo 70% da população considerada sedentária. As taxas de tabagismo encontram-se em 15,6% (maiores em homens: 18,3%), com média de consumo de 13 cigarros por dia, o que pode representar 1hora e 18 minutos a menos de expectativa de vida, por dia.

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