Unidades de saúde são incluídos em pesquisas de alcance internacional

27/05/2004

Aproximação da rede municipal com a Unicamp propiciou o contato de Campinas com estudos e tecnologias do Primeiro Mundo

Diminuir custos, desenvolver campanhas de prevenção, ampliar as políticas de saúde pública e, sobretudo, reduzir o índice de mortalidade por câncer de colo de útero. Tudo isso está no bojo de duas pesquisas internacionais que envolvem a rede municipal de saúde, mais precisamente o Centro de Saúde (CS) Santa Bárbara e a Policlínica II.

Nos dois trabalhos científicos, a Comunidade Européia e o ministério da saúde do Canadá incluíram Campinas em pesquisas que objetivam, num primeiro momento, avaliar a aplicação de diferentes ferramentas para rastreamento de situações que indiquem o surgimento de uma suspeita de câncer cervical, também chamado de colo do útero.

A disponibilização dos serviços de saúde do Município para a realização de pesquisas, conforme explica a médica Verônica Alencar, apoiadora da Área de Saúde da Mulher, da Secretaria de Saúde de Campinas, foi incentivada pela aproximação da rede municipal com o Caism/Unicamp (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher).

A médica lembra que "essa aproximação foi maior nesses últimos três anos, quando nossos serviços e nossos profissionais foram valorizados e passaram a ser referência em todo o País. Isso explica o interesse de instituições do Primeiro Mundo nos nossos projetos de saúde".

Ela ressalta, ainda, que no caso dessas duas pesquisas que envolvem a Policlínica e o CS Santa Bárbara, toda a rede será beneficiada com a modificação de rotinas de atendimento e com a melhora da qualidade da assistência, com custos menores. "Isso, sem dúvida, é uma forma de qualificar as políticas públicas de saúde para as mulheres", avalia.

Inspeção visual. Renata Clementino Gontijo, médica ginecologista do Centro de Saúde (CS) Santa Bárbara, é a responsável pela coordenação da pesquisa "INCO-DEV", financiada pela Comunidade Européia, que pretende melhorar os métodos disponíveis de controle do câncer de colo de útero e, assim, desenhar uma estratégia com baixo custo para a detecção da doença, no Brasil e na Argentina.

Doze mil mulheres, sendo 3 mil de Campinas, 3 mil de São Paulo, 3 mil de Porto Alegre e 3 mil de Buenos Aires, na Argentina, fazem parte do universo total da pesquisa. Em Campinas, o trabalho também serviu de tese de mestrado defendida por Renata Gontijo, em 2003, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

No CS Santa Bárbara, 1.800 mulheres já foram incluídas na pesquisa que é baseada em três exames, o Papanicolau, a detecção do papiloma (HPV), vírus causador do câncer do colo de útero e, ainda, a inspeção visual. Este último exame consiste na aplicação de ácido acético a 3% no colo do útero. Em poucos minutos, pela simples observação visual, a coloração branca no local pode detectar a lesão.

A médica explica que este método mostra vantagens sobre as técnicas tradicionais. "Ele é simples, barato, requer mínima infra-estrutura e equipamentos e pode ser realizado por profissionais de enfermagem", esclarece Renata, lembrando que tanto o Papanicolau como a inspeção visual apresentam a mesma sensibilidade. "A vantagem da inspeção é que ela apresenta resultado imediato e permite encaminha a mulher para a colposcopia após o teste, na mesma consulta", justifica.

A colposcopia é uma área da ginecologia que estuda o trato genital inferior por meio de um aparelho chamado composcópio, que permite uma visualização com uma ampliação de até 40 vezes.

Ela entende, ainda, que esse exame alternativo pode entrar na rotina de todos os centros de saúde da rede pública. "A idéia é manter os exames convencionais e utilizar a inspeção visual como complemento. Da mesma forma – adverte ela –, as pacientes continuarão a ser avaliadas semestralmente".

Pesquisa multicêntrica. Sílvia Maria Bergo e Marcos Traue, médicos ginecologistas do Ambulatório de Patologia Cervical e Colposcopia, da Policlínica II, são os reponsáveis, na Secretaria de Saúde, pela pesquisa que engloba mulheres com diagnóstico NIC 1, isto é, com lesão no colo do útero de baixo grau e resultado da biópsia positivo.

"Em torno de 90% dessas lesões são consideradas benignas. No entanto – ressalta Silvia Maria -, um trabalho desenvolvido por um pesquisador norte-americano mostrou que 1% dessas lesões evoluem para carcinoma invasivo, isto é, câncer".

Desenvolvida pelo ministério da saúde do Canadá, a pesquisa está sendo chamada de estudo multicêntrico, uma vez que envolve ações desenvolvidas, também, no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. Iniciada em dezembro de 2002, a pesquisa, no Brasil, é desenvolvida por meio de uma parceria entre a Unicamp e Secretaria Municipal de Saúde de Campinas.

Até agora, em Campinas, o estudo já envolveu duzentas mulheres. Uma vez incluída na pesquisa, a paciente se submete a dois exames, o primeiro para se detectar o tipo de vírus e o segundo para se avaliar a carga viral. Com o resultados em mãos, a Policlínica preenche um questionário de quinze páginas, em inglês, e remete, junto com o resultado dos exames, para o Canadá, onde serão avaliados pelos cientistas.

"A Policlínica II é uma instituição privilegiada por poder fazer parte desse intercâmbio de tecnologia e conhecimento. Isso só é possível graças à seriedade e competência de nossa equipe de trabalho", afirma Sílvia Maria Bergo. Ela faz questão de lembrar que a Policlínica II é pioneira em cirurgia de alta freqüência, que dispensa a necessidade de ponto. "No Ambulatório, a paciente tem o colo do útero retirado, em nível ambulatorial, e, em seguida, vai para casa sem sentir nenhuma dor", explica.