Aproximação da
rede municipal com a Unicamp propiciou o contato de Campinas com
estudos e tecnologias do Primeiro Mundo
Diminuir custos,
desenvolver campanhas de prevenção, ampliar as políticas de saúde
pública e, sobretudo, reduzir o índice de mortalidade por câncer
de colo de útero. Tudo isso está no bojo de duas pesquisas
internacionais que envolvem a rede municipal de saúde, mais
precisamente o Centro de Saúde (CS) Santa Bárbara e a Policlínica
II.
Nos dois
trabalhos científicos, a Comunidade Européia e o ministério da
saúde do Canadá incluíram Campinas em pesquisas que objetivam,
num primeiro momento, avaliar a aplicação de diferentes
ferramentas para rastreamento de situações que indiquem o
surgimento de uma suspeita de câncer cervical, também chamado de
colo do útero.
A disponibilização
dos serviços de saúde do Município para a realização de
pesquisas, conforme explica a médica Verônica Alencar, apoiadora
da Área de Saúde da Mulher, da Secretaria de Saúde de Campinas,
foi incentivada pela aproximação da rede municipal com o Caism/Unicamp
(Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher).
A médica lembra
que "essa aproximação foi maior nesses últimos três anos,
quando nossos serviços e nossos profissionais foram valorizados e
passaram a ser referência em todo o País. Isso explica o
interesse de instituições do Primeiro Mundo nos nossos projetos
de saúde".
Ela ressalta,
ainda, que no caso dessas duas pesquisas que envolvem a Policlínica
e o CS Santa Bárbara, toda a rede será beneficiada com a
modificação de rotinas de atendimento e com a melhora da
qualidade da assistência, com custos menores. "Isso, sem dúvida,
é uma forma de qualificar as políticas públicas de saúde para
as mulheres", avalia.
Inspeção
visual. Renata Clementino Gontijo, médica ginecologista do Centro
de Saúde (CS) Santa Bárbara, é a responsável pela coordenação
da pesquisa "INCO-DEV", financiada pela Comunidade Européia,
que pretende melhorar os métodos disponíveis de controle do câncer
de colo de útero e, assim, desenhar uma estratégia com baixo
custo para a detecção da doença, no Brasil e na Argentina.
Doze mil
mulheres, sendo 3 mil de Campinas, 3 mil de São Paulo, 3 mil de
Porto Alegre e 3 mil de Buenos Aires, na Argentina, fazem parte do
universo total da pesquisa. Em Campinas, o trabalho também serviu
de tese de mestrado defendida por Renata Gontijo, em 2003, na
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
No CS Santa Bárbara,
1.800 mulheres já foram incluídas na pesquisa que é baseada em
três exames, o Papanicolau, a detecção do papiloma (HPV), vírus
causador do câncer do colo de útero e, ainda, a inspeção
visual. Este último exame consiste na aplicação de ácido acético
a 3% no colo do útero. Em poucos minutos, pela simples observação
visual, a coloração branca no local pode detectar a lesão.
A médica explica
que este método mostra vantagens sobre as técnicas tradicionais.
"Ele é simples, barato, requer mínima infra-estrutura e
equipamentos e pode ser realizado por profissionais de
enfermagem", esclarece Renata, lembrando que tanto o
Papanicolau como a inspeção visual apresentam a mesma
sensibilidade. "A vantagem da inspeção é que ela apresenta
resultado imediato e permite encaminha a mulher para a colposcopia
após o teste, na mesma consulta", justifica.
A colposcopia é
uma área da ginecologia que estuda o trato genital inferior por
meio de um aparelho chamado composcópio, que permite uma
visualização com uma ampliação de até 40 vezes.
Ela entende,
ainda, que esse exame alternativo pode entrar na rotina de todos
os centros de saúde da rede pública. "A idéia é manter os
exames convencionais e utilizar a inspeção visual como
complemento. Da mesma forma – adverte ela –, as pacientes
continuarão a ser avaliadas semestralmente".
Pesquisa multicêntrica.
Sílvia Maria Bergo e Marcos Traue, médicos ginecologistas do
Ambulatório de Patologia Cervical e Colposcopia, da Policlínica
II, são os reponsáveis, na Secretaria de Saúde, pela pesquisa
que engloba mulheres com diagnóstico NIC 1, isto é, com lesão
no colo do útero de baixo grau e resultado da biópsia positivo.
"Em torno de
90% dessas lesões são consideradas benignas. No entanto –
ressalta Silvia Maria -, um trabalho desenvolvido por um
pesquisador norte-americano mostrou que 1% dessas lesões evoluem
para carcinoma invasivo, isto é, câncer".
Desenvolvida pelo
ministério da saúde do Canadá, a pesquisa está sendo chamada
de estudo multicêntrico, uma vez que envolve ações
desenvolvidas, também, no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos.
Iniciada em dezembro de 2002, a pesquisa, no Brasil, é
desenvolvida por meio de uma parceria entre a Unicamp e Secretaria
Municipal de Saúde de Campinas.
Até agora, em
Campinas, o estudo já envolveu duzentas mulheres. Uma vez incluída
na pesquisa, a paciente se submete a dois exames, o primeiro para
se detectar o tipo de vírus e o segundo para se avaliar a carga
viral. Com o resultados em mãos, a Policlínica preenche um
questionário de quinze páginas, em inglês, e remete, junto com
o resultado dos exames, para o Canadá, onde serão avaliados
pelos cientistas.
"A Policlínica
II é uma instituição privilegiada por poder fazer parte desse
intercâmbio de tecnologia e conhecimento. Isso só é possível
graças à seriedade e competência de nossa equipe de
trabalho", afirma Sílvia Maria Bergo. Ela faz questão de
lembrar que a Policlínica II é pioneira em cirurgia de alta freqüência,
que dispensa a necessidade de ponto. "No Ambulatório, a
paciente tem o colo do útero retirado, em nível ambulatorial, e,
em seguida, vai para casa sem sentir nenhuma dor", explica.