Dia de Luta Antimanicomial reúne centenas na Praça Carlos Gomes

18/05/2010

Autor: Marco Aurélio Capitão

Centenas de usuários, trabalhadores e gestores que compõem a rede substitutiva de saúde mental de Campinas participaram na tarde desta terça-feira, 18 de maio, na Praça Carlos Gomes, centro da cidade, do Dia de Luta Antimanicomial. Oficinas de corte e costura, artesanato, brechó, pintura, dança, música e muito trabalho de conscientização marcaram as atividades capitaneadas pelos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), Centros de Convivência, Projetos de Geração de Rendas, Residências Terapêuticas e por outras Unidades Básicas de Saúde.

O evento em Campinas adotou como tema "Gentileza gera Gentileza", em homenagem a José Datrino (1917/1996), que ficou conhecido em todo o País como Profeta Gentileza. Suas inscrições foram preservadas e ainda podem ser vistas em muros e demais logradouros públicos na cidade do Rio de Janeiro.

O Dia de Luta Antimanicomial, em Campinas, foi organizado pelo Fórum dos Centros de Convivência de Saúde Mental de Campinas, com apoio do Conselho Regional de Psicologia - CRP/06 Subsede Campinas. Presente no evento, o apoiador de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas, Eduardo Camargo Bueno, explicou que o Dia de Luta Antimanicomial teve origem em 18 de Maio de 1987, no Congresso de Trabalhadores de Saúde Mental, na cidade paulista de Bauru.

“A partir daí - explica Eduardo Bueno -, nasceu o Movimento Nacional da Luta Antimanicomial, que deu início à reforma psiquiátrica no País, acabou com os manicômios e propôs o tratamento em liberdade”. O apoiador ressalta, ainda que, em Campinas, “continuamos nossa luta para reforçar a rede substitutiva de serviços, sem esquecer que as responsabilidades vão além da saúde, isto é, passam pela moradia, transporte, de modo que a vida é colocada para além do tratamento”.

O psiquiatra Deivisson Viana, que também é apoiado de Saúde Mental da Secretaria de Saúde, lembra que o Dia de Luta Antimanicomial acontece num momento oportuno, às vésperas da realização da 4º Conferência Nacional de Saúde Mental, marcada para o próximo mês de junho em Brasília. No entender de Deivisson, outro evento importante que serve de referência para o Dia de Luta Antimanicomial foi a 2ª Conferência Municipal de Saúde Mental realizada no início do último mês de abril em Campinas. “No próximo sábado, dia 22, vamos para São Bernardo do Campo participar da plenária de Saúde Mental que receberá propostas de todo o estado de São Paulo e indicará os delegados para a Conferência Nacional”, esclareceu Deivisson.

Também presente no Dia de Luta, a psicóloga Gal Soares de Sordi, coordenadora dos Centros de Convivência Espaço das Vilas e Espaço Cultural Cândido/Fumec, lembra que a manifestação é importante para a integração entre usuários, trabalhadores e população em geral. “É um evento que tem um perfil de festa, se formos considerar que todos aproveitam para mostrar seus trabalhos, suas músicas e sua arte. No entanto, por outro lado, este encontro tem um perfil de mobilização política, no momento em que as entidades aproveitam para fazer suas reivindicações, encaminhar abaixo-assinados e exigir seus direitos”, diz Gal.

O usuário do Caps Toninho, Nilson Souza do Nascimento, enquanto promove a venda de sandálias costumizadas (personalizadas), aproveita para distribuir panfletos e orientar o público sobre os avanços conquistados na área de saúde mental em Campinas. Ele conta que a decoração de sandálias é um programa do Centro de Convivência Rosa Dos Ventos, com o Grupo de Geração de Renda, dentro da perspectiva da reabilitação social. “Eventos como esse deveriam acontecer com mais frequência, pois serve para mostrar à população como funciona a Saúde Mental em Campinas”, reforça.

Com a mesma empolgação, Elainy Singh, terapeuta ocupacional do Centro de Saúde (CS) do Jardim Aurélia, divulga na praça os trabalhos produzidos no Centro de Convivência e Cultura Jardim Aurélia. “Ainda somos um Centro de Convivência em formação e dependemos muito do trabalho dos voluntários, mas estamos conseguindo desenvolver projetos de inclusão e reforçar a rede de atendimento”, afirma.

Referência - O Programa de Saúde Mental desenvolvido pela Secretaria de Saúde de Campinas é referência no Brasil e no mundo. O trabalho desenvolvido no Município já foi escolhido pela Opas (Organização Panamericana de Saúde) para um estudo da Universidade de Harvard sobre experiências municipais inovadoras em saúde mental.

Também já foi reconhecido pelo Ministério da Saúde entre as 11 experiências de maior êxito na área.

O reconhecimento se deve ao fato do Município ter sido um dos pioneiros do Brasil a responder à reforma psiquiátrica, que tem como diretriz o cuidar em liberdade, o que significa que cada vez menos o hospital é o destino dos portadores de transtornos mentais.

Dentro desta política de atuação, a Secretaria Municipal de Saúde fechou hospícios e iniciou a construção de uma rede extra-hospitalar com a inserção das pessoas no meio social por meio dos Caps e da garantia de residências terapêuticas e do acesso ao trabalho e ao lazer.

Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) de Campinas dispõe de uma rede de cuidados comunitários de saúde mental constituída por dez Caps, sendo seis Caps III com oito leitos cada (48 leitos), dois Caps-i voltado para o atendimento de crianças e adolescentes e outros dois voltados para o atendimento de pessoas que sofrem com transtornos causados pelo uso prejudicial de álcool e outras drogas (Caps/AD). O terceiro Cpas/AD já está em construção e deve ficar pronto ainda este ano.

Também integram esta rede, onze Centros de Convivência, que são espaços onde as pessoas desenvolvem oficinas de dança, música, ginástica, ioga e de outros momentos de convívio. O Município ainda disponibiliza mais 38 residências terapêuticas com aproximadamente 180 pacientes ex-moradores de hospitais psiquiátricos, várias oficinas de profissionalização e mais de 300 postos de geração de renda para os usuários.

Além disso, a cidade integra o De Volta para Casa - um programa Ministério da Saúde que destina um benefício mensal em dinheiro para ajudar no processo de ressocialização de portadores de transtornos mentais que tenham passado pelo menos dois anos internados em hospitais e clínicas psiquiátricas.

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