Focos de incêndio prejudicam saúde da população de Campinas

18/06/2003

Defesa Civil coloca a cidade em estado de alerta devido à baixa umidade relativa do ar; condição é agravada pela fumaça dos incêndios

Pesquisa da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) aponta que Campinas é uma das regiões mais afetadas pelas queimadas urbanas. Somente nas ruas e terrenos no município e região, o órgão identifica de cinqüenta a cem focos todos os dias nos meses de junho e julho. A ocorrência é maior nas regiões periféricas, onde localizam-se as favelas. Mas os bairros nobres também contribuem para o aumento das queimadas.

De acordo com o médico sanitarista Carlos Eduardo Cantúsio Abrahão, da Coordenadoria de Vigilância e Saúde Ambiental de Campinas, a queima de resíduos é crime ambiental e é proibida por leis municipal e federal.

Abrahão diz que, embora pareça ser uma prática inofensiva, queimar lixo e folhas nas ruas e em terrenos dentro das cidades piora a qualidade do ar. Ele informa que a situação se agrava justamente nesta época do ano (inverno/estiagem), quando as condições climáticas já estão comprometidas pela baixa umidade relativa do ar (falta de chuva) e pela inversão térmica – quando os poluentes ficam concentrados na baixa atmosfera.

"Ao queimar os resíduos, as pessoas pensam que estão resolvendo um problema, mas a fumaça piora ainda mais a qualidade do ar e agrava os problemas respiratórios da população, com prejuízos principalmente para crianças, idosos e pessoas que já têm alguma fragilidade respiratória", diz o médico.

Custos para a saúde pública

A situação constatada pela Embrapa (Campinas/campeã de queimadas) tem reflexo imediato nos Centros de Saúde (CS) e Prontos-Socorros (PS) de Campinas.

O PS infantil do Hospital Municipal Mário Gatti, neste mês de junho, tem atendido uma média de 340 crianças por dia, sendo que metade delas sofre com problemas respiratórios.

O arquiteto Flávio Gordon, técnico da Vigilância Ambiental de Campinas, explica que a queima de folhas e do lixo em terrenos dentro das cidades emite poluentes tóxicos na fumaça. E, segundo ele, nesta época do ano, a estiagem e a falta de ventos dificulta a dispersão destes poluentes.

Orientação

Por isso, a Secretaria de Saúde de Campinas orienta a população para que disponha corretamente os resíduos, sem queimá-los. "É necessário que a população e os agricultores se conscientizem e não coloquem fogo para transformar o resíduo em cinza, porque a fumaça compromete gravemente as condições ambientais e a saúde das pessoas", diz Flávio.

Ele diz ainda que, em casos de focos de incêndio, as pessoas podem informar a Vigilância Ambiental de Campinas ou o Departamento de Meio Ambiente pelo telefone 156. A Defesa Civil também deve ser acionada e, se necessário, o Corpo de Bombeiros.

Estado de alerta

O problema das queimadas, agravado pela baixa umidade do ar, também está sendo tratado com atenção redobrada pela Defesa Civil. A entidade acaba de encaminhar ao Gabinete da prefeita Izalene Tiene um documento que recomenda estado de atenção para Campinas devido à baixa umidade.

Essa iniciativa coloca em alerta entidades como as secretarias de Serviço Público, Meio Ambiente, Saúde e a própria Defesa Civil, que ficam preparadas para eventuais ocorrências.

Álvaro Sílvio Feijó de Souza, diretor da Defesa Civil de Campinas, explica que o órgão vem trabalhando em conjunto com o Centro de Climatologia de Unicamp (Cepagri) e com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

Essa parceria propicia o envio e dados referentes à umidade relativa do ar às secretarias de Educação e Saúde. "Essas informações são imprescindíveis para evitar agravos de saúde em hospitais, centros de saúde e escolas", ressalta o diretor.

Desde abril a Defesa Civil de Campinas tem intensificado os trabalhos de prevenção e conscientização acerca do perigo das queimadas.

Folhetos estão sendo distribuídos nas sociedades amigos de bairro, encontros do Orçamento Participativo e Administrações Regionais (AR). Também estão sendo encaminhados ofícios a todas as secretarias para que, dentro de suas áreas, possam desencadear ações para minimizar o problema.

Informações sobre todas as ocorrências relativas a queimadas são repassadas para a Secretaria de Meio Ambiente e para a Coordenadoria de Fiscalização de Terrenos (Cofit).

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